São Paulo, Domingo, 04 de Julho de 1999
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COMÉRCIO EXTERIOR
Oficiais do governo norte-americano vêem posições de seu país preservadas após a Cimeira do Rio
Reunião confirma as previsões dos EUA

MARCIO AITH
de Washington

O desfecho da Cúpula UE/América Latina-Caribe confirmou previsões do governo dos EUA de que interesses norte-americanos não seriam afetados pelo encontro.
Arturo Valenzuela, assessor especial do presidente Bill Clinton para a América Latina, e Mack McLarty, que serviu a administração Clinton primeiro como chefe de gabinete e posteriormente como enviado especial às Américas, disseram à Folha que os resultados do encontro, ainda que pouco aparentes, só beneficiaram os EUA e todos os outros países que esperam a Europa reduzir a proteção ao seu setor agrícola.
Os dois evitaram dizer que o encontro teria sido um fracasso por não ter produzido resultados de impacto -e que essa teria sido a verdadeira razão da satisfação norte-americana.
Ao contrário: elogiaram o desfecho da cúpula. "A importância da Cimeira é a Cimeira em si", disse disse McLarty. "Toda negociação como a da Cúpula produz esse tipo de resultado", afirmou Valenzuela. Para McLarty, os resultados serão vistos daqui para a frente. "Acredito que veremos um aumento no processo de integração entre Europa, Estados Unidos e América Latina conforme nos aproximamos da Rodada do Milênio", disse ele.
Desde o início da cúpula, os EUA procuraram afastar a idéia de que o encontro ameaçaria possíveis resquícios da chamada "doutrina Monroe", o conjunto de princípios formulados pelo presidente James Monroe que dariam aos EUA total controle sobre o sul do Hemisfério Ocidental.
Verdadeiro ou não, esse "desprendimento" dos EUA pareceu real considerando a atenção dada ao encontro nos EUA. Houve raríssimas menções à Cúpula na mídia e nenhum comentário espontâneo de autoridades norte-americanas sobre o assunto.
Mas o governo dos EUA municiou-se de informações e monitorou o encontro da melhor maneira possível.
Um documento analítico produzido pelo Departamento de Comércio dos EUA antes da cúpula, ao qual a Folha teve acesso, dizia que, no máximo, o encontro deveria produzir o anúncio de restabelecimento das negociações sobre livre comércio entre o Mercosul e a União Européia.
O documento lembra que vários países europeus -como a França- opõem-se à abertura dos mercados agrícolas locais e querem esperar o início da próxima rodada de negociações da OMC (Organização Mundial de Comércio) antes de conceder.
O Departamento de Comércio registra ainda o fato de que, entre 1990 e 1998, as exportações do Mercosul para os países da UE terem aumentado apenas 29% enquanto as vendas européias para o Mercosul cresceram 294%.
Valenzuela e McLarty acham que o verdadeiro cenário da integração comercial dos blocos econômicos será a chamada Rodada do Milênio, em Seattle, que começa neste ano e deverá terminar em 2003.
"Se trabalharmos juntos daqui para a frente, os países desse hemisfério podem avançar seus interesses comuns na Europa", disse McLarty.
Valenzuela afirmou que, ao propor o avanço da liberalização comercial, a Cimeira se insere no contexto da OMC. Por essa essa razão, segundo ele, a Cúpula foi aceita pelos EUA com naturalidade.
Embora fora do governo Clinton, McLarty resume a posição oficial do governo dos EUA: "Os itens em nossas agendas são os mesmos. A Europa quer encorajar e apoiar os processos de privatização, desregulamentação e a democracia na América Latina. A América Latina gostaria que a Europa abrisse seu mercado, especialmente para produtos agrícolas."


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