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COMÉRCIO EXTERIOR
Oficiais do governo norte-americano vêem posições de seu país preservadas após a Cimeira do Rio
Reunião confirma as previsões dos EUA
MARCIO AITH
de Washington
O desfecho da Cúpula UE/América Latina-Caribe confirmou previsões do governo dos EUA de que
interesses norte-americanos não
seriam afetados pelo encontro.
Arturo Valenzuela, assessor especial do presidente Bill Clinton
para a América Latina, e Mack
McLarty, que serviu a administração Clinton primeiro como chefe
de gabinete e posteriormente como enviado especial às Américas,
disseram à Folha que os resultados
do encontro, ainda que pouco aparentes, só beneficiaram os EUA e
todos os outros países que esperam a Europa reduzir a proteção
ao seu setor agrícola.
Os dois evitaram dizer que o encontro teria sido um fracasso por
não ter produzido resultados de
impacto -e que essa teria sido a
verdadeira razão da satisfação norte-americana.
Ao contrário: elogiaram o desfecho da cúpula. "A importância da
Cimeira é a Cimeira em si", disse
disse McLarty. "Toda negociação
como a da Cúpula produz esse tipo
de resultado", afirmou Valenzuela.
Para McLarty, os resultados serão
vistos daqui para a frente. "Acredito que veremos um aumento no
processo de integração entre Europa, Estados Unidos e América Latina conforme nos aproximamos da
Rodada do Milênio", disse ele.
Desde o início da cúpula, os EUA
procuraram afastar a idéia de que
o encontro ameaçaria possíveis
resquícios da chamada "doutrina
Monroe", o conjunto de princípios
formulados pelo presidente James
Monroe que dariam aos EUA total
controle sobre o sul do Hemisfério
Ocidental.
Verdadeiro ou não, esse "desprendimento" dos EUA pareceu
real considerando a atenção dada
ao encontro nos EUA. Houve raríssimas menções à Cúpula na mídia e nenhum comentário espontâneo de autoridades norte-americanas sobre o assunto.
Mas o governo dos EUA municiou-se de informações e monitorou o encontro da melhor maneira
possível.
Um documento analítico produzido pelo Departamento de Comércio dos EUA antes da cúpula,
ao qual a Folha teve acesso, dizia
que, no máximo, o encontro deveria produzir o anúncio de restabelecimento das negociações sobre
livre comércio entre o Mercosul e a
União Européia.
O documento lembra que vários
países europeus -como a França- opõem-se à abertura dos
mercados agrícolas locais e querem esperar o início da próxima
rodada de negociações da OMC
(Organização Mundial de Comércio) antes de conceder.
O Departamento de Comércio
registra ainda o fato de que, entre
1990 e 1998, as exportações do
Mercosul para os países da UE terem aumentado apenas 29% enquanto as vendas européias para o
Mercosul cresceram 294%.
Valenzuela e McLarty acham que
o verdadeiro cenário da integração
comercial dos blocos econômicos
será a chamada Rodada do Milênio, em Seattle, que começa neste
ano e deverá terminar em 2003.
"Se trabalharmos juntos daqui
para a frente, os países desse hemisfério podem avançar seus interesses comuns na Europa", disse
McLarty.
Valenzuela afirmou que, ao propor o avanço da liberalização comercial, a Cimeira se insere no
contexto da OMC. Por essa essa razão, segundo ele, a Cúpula foi aceita pelos EUA com naturalidade.
Embora fora do governo Clinton,
McLarty resume a posição oficial
do governo dos EUA: "Os itens em
nossas agendas são os mesmos. A
Europa quer encorajar e apoiar os
processos de privatização, desregulamentação e a democracia na
América Latina. A América Latina
gostaria que a Europa abrisse seu
mercado, especialmente para produtos agrícolas."
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