São Paulo, domingo, 04 de agosto de 2002

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ELEIÇÕES 2002 - CAMPANHA

Há no banco especialistas trabalhando para os três presidenciáveis

Serra, Lula e Ciro dividem apoio de técnicos do BNDES

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

Os economistas e técnicos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), principal financiador de longo prazo da economia brasileira (empresta R$ 28 bilhões neste ano), estão divididos entre três candidaturas presidenciais: José Serra (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PPS).
Há no banco núcleos de apoio aos três candidatos. Nas equipes responsáveis pelos programas econômicos de Serra, Ciro e Lula, há especialistas do BNDES em funções importantes.
No caso de Serra, o economista José Roberto Afonso trabalha em tempo integral na cúpula da campanha. Já o economista Maurício Dias David, embora filiado ao PSDB, trabalha para Ciro.
O engenheiro Paulo Roberto Melo, gerente setorial de Eletrônica do banco, assessora o deputado federal Jorge Bittar (PT-RJ) na coordenação do setor de política tecnológica do PT.
"Trabalhamos fora do expediente", afirmou ele, para quem o ideal seria o BNDES licenciar os funcionários engajados nas companhas presidenciais.
Formalmente, os dirigentes não atuam na campanha presidencial, mas há pelo menos um membro da direção do BNDES, Beatriz Azeredo, diretora da Área Social, com um passado serrista. Ela já foi assessora do candidato do PSDB à Presidência.
O economista Fábio Giambiagi, gerente da área de Planejamento e um dos macroeconomistas mais consultados pela equipe econômica do atual governo, está abertamente engajado na campanha de Serra, embora, como o petista Melo, sem dedicação integral.

Assuntos Fiscais
Afonso é o chefe da Área de Assuntos Fiscais do BNDES. Ele comanda o que é, provavelmente, o maior banco de dados do Brasil sobre a aplicação da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal).
Nos últimos dois anos, Afonso viajou por todo o Brasil, fazendo palestras e participando de debates com prefeitos, advogados, lideranças comunitárias e dirigentes de Tribunais de Contas sobre a aplicação da lei, criada para disciplinar os gastos públicos.
Em julho, Afonso tirou férias para se dedicar à campanha de Serra, para quem trabalha desde 1987, quando o candidato era deputado constituinte.
Formado em economia em Santos (SP), onde nasceu, Afonso, 41, entrou no BNDES em 1984. Um ano depois, foi para o Ministério do Planejamento trabalhar com o então ministro João Sayad em um grupo que tinha a atual diretora Beatriz Azeredo. Voltou ao BNDES em 1995.
Afonso diz que, como Giambiagi, não está na campanha para cuidar de assuntos do banco. Segundo ele, há uma convivência pacífica entre as várias correntes dentro do BNDES.

Correntes
Melo, 53, está no BNDES desde 1976. Engenheiro elétrico, fez pós-graduação em engenharia de produção, um misto de engenharia e economia, na Coppe-UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Ele diz que as correntes têm uma boa relação no BNDES e que não há problemas com a direção do banco. "A gente não sofre repressão por ser do PT", afirma Melo. Segundo ele, há "dezenas" de técnicos do banco atuando na campanha de Lula, muitos, como ele, filiados ao PT.
Os pontos fortes dos petistas no BNDES, segundo Melo, são as áreas de transportes, política industrial e telecomunicações. "Temos também um desenho para a área social."
Ele diz que os grupos que apóiam Lula e Ciro têm um relacionamento próximo, estando mesmo em discussão a hipótese de um programa comum para a atuação do BNDES.

Fernandista
David, 55, formou-se nos anos 70 no Chile, para onde se exilou no fim da década anterior. Fez doutorado na Universidade de Sorbonne, em Paris, nos anos 90. Entrou no BNDES em 1979, após regressar ao país -já morava na Europa, banido pelo regime militar chileno.
Desde então, luta para permanecer no emprego, tendo sido afastado no começo dos anos 80 (governo Figueiredo), anistiado em 1987, demitido em 1990 (governo Collor) e, segundo relata, reintegrado em 1996 por uma liminar judicial.
David afirma que foi fundador do PSDB e um dos poucos fernandistas (seguidores do hoje presidente Fernando Henrique Cardoso). Segundo diz, rompeu com FHC por considerar que o presidente capitulou à tese de que a globalização neoliberal era o único caminho a seguir.
O economista passou os últimos três anos trabalhando para a ONU (Organização das Nações Unidas) no Chile. Voltou em abril para trabalhar na campanha de Ciro. David afirma que agora está em processo de licenciamento do BNDES.
Mesmo sendo um dos três porta-vozes econômicos da Frente Trabalhista, David afirma que não quer sair do PSDB. Para ele, o seu partido ainda é viável, desde que afastado da influência do "grupo paulista".
O banco não comenta a atuação de seus funcionários nas campanhas políticas. Extra-oficialmente, a tese da empresa é que cada um é livre para apoiar quem quiser, desde que nisso não interfira no serviço.



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