São Paulo, quarta-feira, 04 de agosto de 2004

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NA MIRA

Presidente aceita explicação de dirigente do BC sobre operações patrimoniais

Lula articula para postergar a ida de Meirelles ao Senado

KENNEDY ALENCAR
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, desse mais explicações públicas sobre supostas operações patrimoniais irregulares, mas montou operação para evitar um depoimento imediato no Senado. Decidiu ainda que o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, não deve comparecer ao Congresso Nacional.
Em reunião ontem de manhã no Palácio do Planalto, Lula ouviu novas explicações de Meirelles. Participaram do encontro os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda), José Dirceu (Casa Civil) e Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).
Lula julgou satisfatória a explicação de Meirelles sobre reportagens que apontam supostas evasão de divisas e sonegação fiscal em operações patrimoniais. No mesmo encontro, Palocci disse que se reunira na véspera com Casseb e que obtivera dele a promessa de que não pediria demissão de maneira impetuosa.
Tido como "cabeça quente", decidiu-se no encontro que Casseb não deve comparecer à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Banestado para falar das acusações contra ele. Apenas Meirelles irá ao Senado, numa data que o governo julgar apropriada para minimizar o desgaste que a oposição tenta impor ao governo.
Formalmente, Meirelles e Casseb recusaram a sugestão de comparecer ao Senado por iniciativa própria ainda nesta semana. Eles vão aguardar a apresentação de requerimento pela oposição convidando-os. Com isso, o governo avalia que ganha tempo para saber se novas acusações surgirão e também para tentar esfriar o assunto, o que praticamente descartaria a ida deles ao Senado.
"Vamos marcar. A gente avisa vocês", disse Meirelles após sair de um almoço com Palocci.
Detalhe: o Senado só tem a prerrogativa de convocar ministros. Meirelles e Casseb podem apenas ser convidados e, nesse caso, têm a prerrogativa de escolher a data. "Vamos aguardar a Receita Federal se pronunciar. Vamos aguardar que o Senado faça um convite. Havendo um convite eles vêm", disse o líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP).
Ontem, o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) já apresentou o requerimento, que precisa ser votado, convidando Meirelles, Casseb e diretores do Banco do Brasil.
Ontem, quando participava de solenidade de lançamento do Afis (sistema integrados de informações criminais e civis) da Polícia Federal, questionado sobre se Meirelles devia se colocar diante dos congressistas, Thomaz Bastos respondeu: "Eu acho que ele deveria ir. Ele irá com certeza. Não há a possibilidade... Neste governo, nós temos trabalhado sempre numa linha de transparência."
O PFL também pretende apresentar hoje o requerimento na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos). Tanto o PFL quanto o PSDB voltaram a pedir a demissão de Meirelles e Casseb. "Se os acusados não forem descartados daqui para a frente o acusado vai ser o próprio governo", disse o líder do PFL José Agripino (RN).
"O presidente Lula não tem outra alternativa a não ser demitir os dois dirigentes. Não é verdade que se substituir Meirelles por alguém da mesma linha, orientado por Palocci, vá ter turbulência no mercado", disse o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM).

Roteiro
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), principal articulador da ida de Meirelles e Casseb ao Senado por conta própria, se reuniu com o presidente do BB ontem de manhã. Casseb, seguindo roteiro traçado com Palocci na véspera, mostrou-se reticente: "Será que não estão fazendo isso agora, neste momento em que a política econômica está indo bem, para atingir o governo e o Palocci?".
Suplicy havia conversado com Palocci sobre o assunto na noite de anteontem e, segundo sua versão, o ministro teria dito que pediria a Meirelles para ligar para o presidente da CAE, senador Ramez Tebet (PMDB-MS), para combinar o comparecimento.
O presidente da CAE não recebeu a ligação até o meio da tarde de ontem e viajou para seu Estado, só voltando na próxima semana. "Recomendar não é mandar. Se eu fosse ele [Palocci] teria mandado", disse Tebet.
A sabatina do novo diretor de política monetária do BC, Rodrigo Azevedo, prevista para a próxima terça-feira na CAE, deve ser adiada, pois a pauta está trancada por medidas provisórias.


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