São Paulo, sexta-feira, 04 de agosto de 2006

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Vedoin reafirma esquema à CPI e acusa governador do PT

Dono da Planam isenta ex-ministros e insinua que desvio continua existindo

Empresário volta a dizer que cerca de 90 congressistas participaram da fraude e cita um nome novo, o de Alexandre Santos (PMDB)


ADRIANO CEOLIN
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em depoimento fechado de sete horas à CPI dos Sanguessugas, o empresário Luiz Antonio Trevisan Vedoin, 31, reafirmou que cerca de 90 congressistas participaram da fraude e insinuou que esquemas "paralelos" de desvio podem estar ocorrendo no Executivo. Vedoin, que é um dos donos da Planam, que chefiaria a máfia da venda de ambulâncias superfaturadas, disse não ter tratado pessoalmente com nenhum dos quatro ex-ministros da Saúde que chefiaram a pasta durante o funcionamento do esquema, entre 2001 e este ano, mas confirmou ter se encontrado por três vezes com o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), para tratar de interesses da quadrilha: "Sei descrever com detalhes o gabinete dele", disse Vedoin. Segundo ele, o governo do Piauí teria, entre 2003 e 2004, tentado adquirir ambulâncias do esquema. Dias nega envolvimento. O depoimento de Vedoin repetiu o que ele havia dito à Justiça em 11 de julho, interrogatório que serve de base para as investigações da CPI contra cerca de 90 deputados e 3 senadores. "Foi um depoimento elucidativo, detalhado e verossímil sob todos os aspectos", afirmou o presidente da CPI, o deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), para quem já há provas para abrir processo de cassação contra "um elevado número de parlamentares". Ao menos um nome novo apareceu no depoimento de ontem: o de Alexandre Santos (PMDB-RJ), embora não supostamente ligado ao esquema. Segundo os relatos, Vedoin disse que Santos "negociava" emendas ao Orçamento.

Esquemas
Segundo integrantes da CPI, Vedoin insinuou os possíveis esquemas concorrentes ao dizer que os recursos extra-orçamentários do governo reúnem valor bem mais alto do que os recursos resultantes das emendas que deputados e senadores fazem ao Orçamento da União. Segundo o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), Vedoin contou que havia acordos com outras empresas para dividir o mercado de ambulâncias. Ele chegou a citar o caso da Lealmaq, de Minas Gerais. "Não sabemos até que grau essa empresa atuava. Vamos ter de ouvir o dono da Lealmaq para desvendar outros esquemas." O empresário disse que um senador de São Paulo usou em 2005 de sua influência para liberar recursos da União na ordem de R$ 20 milhões para prefeituras paulistas. Ele esclareceu que isso nada tem a ver com a Planam, não citou o nome do senador nem disse que a liberação teria ocorrido ilicitamente. Integrantes da CPI chegaram a associar a referência a Aloizio Mercadante (PT-SP). Mais tarde, membros da CPI destacaram que Vedoin não citou o senador. Mercadante afirmou que a insinuação é "um absurdo, uma loucura". Ele argumentou que, em dez anos, suas emendas resultaram na aquisição de apenas cinco ambulâncias, nenhuma da Planam. Outros supostos esquemas paralelos citados por Vedoin ocorreriam no Nordeste, com o envolvimento de parlamentares do PSB na venda de ônibus para inclusão digital, do ministério da Ciência e Tecnologia. Lá haveria, segundo Vedoin, uma "reserva de mercado" que impediu a Planam de atuar. O outro envolveria Nova Iguaçu. Vedoin disse ainda, segundo os relatos, que chegou a conversar com cerca de 370 parlamentares, embora com vários deles tudo não tenha passado de uma abordagem inicial. Ele contou que fez "adiantamento" da propina a vários dos acusados e que possui, com eles, dívidas que espera receber. Em relação a alguns dos acusados, como Benedito de Lira (PP-AP), Dr. Heleno (PSC-RJ), Eduardo Gomes (PSDB-TO), Luciano Castro (PL-RR), Paulo Magalhães (PFL-BA), Feu Rosa (PP-ES), Nélio Dias (PP-RN) e Mario Negromonte (PP-BA), Vedoin os isentou de participação na fraude. Ele confirmou com detalhes a atuação do petista José Airton Cirilo na liberação de recursos ao esquema. O governador Wellington Dias, por meio de sua assessoria, negou ter se encontrado com Luiz Antonio Vedoin: "Há apenas um pedido de Darci Vedoin [pai de Luiz] para agendar reunião com o governador no dia 7 de junho de 2003. Mas não há registro que comprove se essa audiência ocorreu ou não", disse Álvaro Luís Carneiro. Sobre o empresário Ronildo Pereira Medeiros, que disse em depoimento ter se reunido com Dias, Carneiro afirmou que "o nome de Medeiros não é familiar ao governo". Segundo nota do governo, "o Estado não comprou ambulâncias da empresa Planam e não fez qualquer tipo de direcionamento de licitação para compra de ambulâncias".


Colaborou CÍNTIA ACAYABA, da Agência Folha


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