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Vedoin reafirma esquema à CPI e acusa governador do PT
Dono da Planam isenta ex-ministros e insinua que desvio continua existindo
Empresário volta a dizer que cerca de 90 congressistas
participaram da fraude e
cita um nome novo, o de
Alexandre Santos (PMDB)
ADRIANO CEOLIN
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em depoimento fechado de
sete horas à CPI dos Sanguessugas, o empresário Luiz Antonio Trevisan Vedoin, 31, reafirmou que cerca de 90 congressistas participaram da fraude e
insinuou que esquemas "paralelos" de desvio podem estar
ocorrendo no Executivo.
Vedoin, que é um dos donos
da Planam, que chefiaria a máfia da venda de ambulâncias superfaturadas, disse não ter tratado pessoalmente com nenhum dos quatro ex-ministros
da Saúde que chefiaram a pasta
durante o funcionamento do
esquema, entre 2001 e este ano,
mas confirmou ter se encontrado por três vezes com o governador do Piauí, Wellington
Dias (PT), para tratar de interesses da quadrilha: "Sei descrever com detalhes o gabinete
dele", disse Vedoin. Segundo
ele, o governo do Piauí teria,
entre 2003 e 2004, tentado adquirir ambulâncias do esquema. Dias nega envolvimento.
O depoimento de Vedoin repetiu o que ele havia dito à Justiça em 11 de julho, interrogatório que serve de base para as investigações da CPI contra cerca
de 90 deputados e 3 senadores.
"Foi um depoimento elucidativo, detalhado e verossímil
sob todos os aspectos", afirmou
o presidente da CPI, o deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), para quem já há provas para abrir processo de cassação
contra "um elevado número de
parlamentares". Ao menos um
nome novo apareceu no depoimento de ontem: o de Alexandre Santos (PMDB-RJ), embora não supostamente ligado ao
esquema. Segundo os relatos,
Vedoin disse que Santos "negociava" emendas ao Orçamento.
Esquemas
Segundo integrantes da CPI,
Vedoin insinuou os possíveis
esquemas concorrentes ao dizer que os recursos extra-orçamentários do governo reúnem
valor bem mais alto do que os
recursos resultantes das emendas que deputados e senadores
fazem ao Orçamento da União.
Segundo o deputado Júlio
Delgado (PSB-MG), Vedoin
contou que havia acordos com
outras empresas para dividir o
mercado de ambulâncias. Ele
chegou a citar o caso da Lealmaq, de Minas Gerais. "Não sabemos até que grau essa empresa atuava. Vamos ter de ouvir o dono da Lealmaq para desvendar outros esquemas."
O empresário disse que um
senador de São Paulo usou em
2005 de sua influência para liberar recursos da União na ordem de R$ 20 milhões para prefeituras paulistas. Ele esclareceu que isso nada tem a ver com
a Planam, não citou o nome do
senador nem disse que a liberação teria ocorrido ilicitamente.
Integrantes da CPI chegaram a associar a referência a
Aloizio Mercadante (PT-SP).
Mais tarde, membros da CPI
destacaram que Vedoin não citou o senador. Mercadante afirmou que a insinuação é "um absurdo, uma loucura". Ele argumentou que, em dez anos, suas
emendas resultaram na aquisição de apenas cinco ambulâncias, nenhuma da Planam.
Outros supostos esquemas
paralelos citados por Vedoin
ocorreriam no Nordeste, com o
envolvimento de parlamentares do PSB na venda de ônibus
para inclusão digital, do ministério da Ciência e Tecnologia.
Lá haveria, segundo Vedoin,
uma "reserva de mercado" que
impediu a Planam de atuar. O
outro envolveria Nova Iguaçu.
Vedoin disse ainda, segundo
os relatos, que chegou a conversar com cerca de 370 parlamentares, embora com vários
deles tudo não tenha passado
de uma abordagem inicial. Ele
contou que fez "adiantamento"
da propina a vários dos acusados e que possui, com eles, dívidas que espera receber.
Em relação a alguns dos acusados, como Benedito de Lira
(PP-AP), Dr. Heleno (PSC-RJ),
Eduardo Gomes (PSDB-TO),
Luciano Castro (PL-RR), Paulo
Magalhães (PFL-BA), Feu Rosa
(PP-ES), Nélio Dias (PP-RN) e
Mario Negromonte (PP-BA),
Vedoin os isentou de participação na fraude. Ele confirmou
com detalhes a atuação do petista José Airton Cirilo na liberação de recursos ao esquema.
O governador Wellington
Dias, por meio de sua assessoria, negou ter se encontrado
com Luiz Antonio Vedoin: "Há
apenas um pedido de Darci Vedoin [pai de Luiz] para agendar
reunião com o governador no
dia 7 de junho de 2003. Mas
não há registro que comprove
se essa audiência ocorreu ou
não", disse Álvaro Luís Carneiro. Sobre o empresário Ronildo
Pereira Medeiros, que disse em
depoimento ter se reunido com
Dias, Carneiro afirmou que "o
nome de Medeiros não é familiar ao governo". Segundo nota
do governo, "o Estado não comprou ambulâncias da empresa
Planam e não fez qualquer tipo
de direcionamento de licitação
para compra de ambulâncias".
Colaborou CÍNTIA ACAYABA, da Agência Folha
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