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Naturalização de guerrilheiro esbarra em restrições legais
Condenado na Colômbia por "formação de quadrilha" e "rebelião", Olivério Medina não deve conseguir passaporte
"Embaixador" das Farc pode permanecer no Brasil pelo fato de ter uma filha brasileira com funcionária que trabalha no governo
CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Restrições jurídicas devem
dificultar o pedido de naturalização do guerrilheiro colombiano Francisco Antônio Cadena Collazos, o Olivério Medina.
Considerado o "embaixador"
das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) no
Brasil, ele solicitou, no início
deste ano, a cidadania e o passaporte brasileiros, conforme a
Folha revelou na última sexta.
Para conseguir a cidadania,
estrangeiros devem provar residência contínua no território
nacional por no mínimo quatro
anos. Quanto a isso, não há problema: Medina tem visto permanente e está no país há cerca
de dez anos. A questão será provar "exercício de profissão ou
posse de bens suficientes à manutenção própria e da família".
A Folha apurou que Medina
vive de trabalhos esporádicos e
depende da ajuda financeira de
amigos e da mulher, Angela
Slongo- que trabalha na Secretaria de Pesca, ligada à Presidência desde 2007, e que passou a ter status de ministério
na semana passada.
Outra condição é não ter "denúncia, pronúncia ou condenação no Brasil ou no exterior por
crime doloso a que seja cominada pena mínima de prisão".
Nesse caso, a situação se
complica mais, pois Medina foi
condenado à revelia pela Justiça colombiana em 2003, pelo
crime de "formação de quadrilha" e "rebelião". A sentença
determina detenção por 94
meses e 15 dias, além do pagamento de 137,5 salários mínimos, cerca de US$ 23 mil.
"A legislação brasileira para
naturalização derivada [para
quem não é filho de pais brasileiros] já é muito flexível. Acho
muito difícil que se abra um
precedente desse tipo", afirmou a advogada Maristela Basso, da OAB-SP. Para a especialista em direito internacional,
Medina "teve sorte" em conseguir o status de refugiado em
julho de 2006, apesar das pendências legais em seu país. "Deve ter negociado algo", disse.
De fato, para obter o refúgio,
ele assinou compromisso de se
afastar de atividades políticas.
Mas a troca de e-mails com
Raúl Reyes sobre o encontro
com assessores de Lula, revelada pela Folha, sugere que a
longa militância do guerrilheiro não acabou com a assinatura
do compromisso. No e-mail de
2 de fevereiro, por exemplo, ele
trata com Reyes -que morreria em março- de uma visita
da senadora colombiana Piedad Córdoba ao Brasil.
Em outro e-mail, enviado só
seis meses após ser declarado
refugiado, Medina contava sobre o emprego da mulher, nomeada no início de 2007 para a
secretaria. "Para evitar que a
direita em algum momento a
importune, a deixaram na Secretaria de Pesca, trabalhando
num cargo de confiança ligado
à Presidência da República."
O "embaixador" das Farc
contou em 2006 com a ajuda
da cúpula do governo Lula para
obter a proteção jurídica do
Brasil. Na época, membros do
Comitê Nacional para Refugiados reclamaram de manobra
que obrigou seus membros a
votarem pela aprovação do refúgio. Houve mobilização de
políticos de PT, PSOL e PC do
B, que assinaram abaixo-assinado em favor de Medina. Alguns deles constam de e-mails
de Reyes revelados agora.
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