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No bastidor, Lula reforça ações pró-Sarney
Para presidente, queda de peemedebista cria risco de ruptura de aliança entre PT e PMDB, sustentáculo do governo no Senado
Dirceu e Berzoini dirigem estratégia do PT para evitar que senadores do partido continuem a pressionar pela saída do presidente da Casa
SIMONE IGLESIAS
KENNEDY ALENCAR
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu ontem desautorizar a versão de que estaria "desembarcando" da canoa
de José Sarney (PMDB-AP). De
público, elogiou o Congresso.
Nos bastidores, reforçou ações
para manter o peemedebista na
Presidência do Senado.
Na avaliação de Lula, a queda
de Sarney, por licença ou renúncia, criaria um problema
maior do que ele tem hoje. Haveria risco de ruptura da aliança entre PT e PMDB, sustentáculo do governo para enfrentar
a CPI da Petrobras no Senado e
embrião da eventual candidatura presidencial da ministra
Dilma Rousseff (Casa Civil).
Atualmente, Lula lida com
uma crise política na sua base
de apoio numa Casa do Congresso na qual sempre passou
sufoco. A licença ou renúncia
de Sarney gerariam, pensa o
presidente, um ambiente imprevisível a um ano e meio do
final de seu governo e na véspera de um ano eleitoral.
Um auxiliar de Lula disse que
Sarney tem demonstrado disposição de resistir. "Não vou
sair pelas portas do fundo",
afirmou o peemedebista em
conversas reservadas.
Nas palavras desse auxiliar,
Sarney, como escritor, não deseja que os capítulos finais de
sua vida pública sejam marcados por uma renúncia sob suspeita de irregularidades.
Depois de se reunir com Lula, o ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais)
disse que o governo segue
apoiando Sarney, que, segundo
ele, não renunciará ao cargo.
À noite, Múcio jantaria com
líderes petistas e peemedebistas para reforçar o apoio a Sarney. O objetivo é reforçar laços
entre PT e PMDB, sempre sob o
discurso de que se trata de um
enfrentamento com a oposição,
para manter Sarney no cargo,
atuar unidos na CPI da Petrobras e costurar um acordo para
apoiar Dilma na sucessão presidencial de 2010.
Ao sancionar a Lei da Adoção, logo após ouvir de Múcio
um relato sobre a crise no Senado, Lula disse que o Congresso
faz mais coisas boas que ruins:
"Se a gente for colocar em uma
balança as coisas boas e as coisas más que foram acontecendo no Congresso, as coisas boas
são infinitamente superiores.
Mas, muitas vezes, as coisas
boas não têm o destaque que a
gente gostaria que tivesse".
Na semana passada, Lula
tentou se dissociar da crise:
"Não é problema meu. Não votei no Sarney para ser presidente do Senado nem votei para ele
ser senador no Maranhão". Ontem, porém, em reunião com
ministros pela manhã, Lula disse que o governo deve continuar apoiando Sarney.
Lula foi informado pela cúpula do PT que estava em andamento uma estratégia para evitar que os senadores petistas
continuassem a pressionar pela
saída do peemedebista. A operação é comandada pelo ex-ministro José Dirceu e pelo presidente do PT, Ricardo Berzoini.
Informado da manutenção
do apoio de Lula, o presidente
do Senado mandou recados ao
petista: não renunciaria e iria
para a guerra contra dissidentes do PMDB e oposicionistas.
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