São Paulo, terça-feira, 04 de agosto de 2009

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No bastidor, Lula reforça ações pró-Sarney

Para presidente, queda de peemedebista cria risco de ruptura de aliança entre PT e PMDB, sustentáculo do governo no Senado

Dirceu e Berzoini dirigem estratégia do PT para evitar que senadores do partido continuem a pressionar pela saída do presidente da Casa

SIMONE IGLESIAS
KENNEDY ALENCAR
VALDO CRUZ

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu ontem desautorizar a versão de que estaria "desembarcando" da canoa de José Sarney (PMDB-AP). De público, elogiou o Congresso. Nos bastidores, reforçou ações para manter o peemedebista na Presidência do Senado.
Na avaliação de Lula, a queda de Sarney, por licença ou renúncia, criaria um problema maior do que ele tem hoje. Haveria risco de ruptura da aliança entre PT e PMDB, sustentáculo do governo para enfrentar a CPI da Petrobras no Senado e embrião da eventual candidatura presidencial da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
Atualmente, Lula lida com uma crise política na sua base de apoio numa Casa do Congresso na qual sempre passou sufoco. A licença ou renúncia de Sarney gerariam, pensa o presidente, um ambiente imprevisível a um ano e meio do final de seu governo e na véspera de um ano eleitoral.
Um auxiliar de Lula disse que Sarney tem demonstrado disposição de resistir. "Não vou sair pelas portas do fundo", afirmou o peemedebista em conversas reservadas.
Nas palavras desse auxiliar, Sarney, como escritor, não deseja que os capítulos finais de sua vida pública sejam marcados por uma renúncia sob suspeita de irregularidades.
Depois de se reunir com Lula, o ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais) disse que o governo segue apoiando Sarney, que, segundo ele, não renunciará ao cargo.
À noite, Múcio jantaria com líderes petistas e peemedebistas para reforçar o apoio a Sarney. O objetivo é reforçar laços entre PT e PMDB, sempre sob o discurso de que se trata de um enfrentamento com a oposição, para manter Sarney no cargo, atuar unidos na CPI da Petrobras e costurar um acordo para apoiar Dilma na sucessão presidencial de 2010.
Ao sancionar a Lei da Adoção, logo após ouvir de Múcio um relato sobre a crise no Senado, Lula disse que o Congresso faz mais coisas boas que ruins: "Se a gente for colocar em uma balança as coisas boas e as coisas más que foram acontecendo no Congresso, as coisas boas são infinitamente superiores. Mas, muitas vezes, as coisas boas não têm o destaque que a gente gostaria que tivesse".
Na semana passada, Lula tentou se dissociar da crise: "Não é problema meu. Não votei no Sarney para ser presidente do Senado nem votei para ele ser senador no Maranhão". Ontem, porém, em reunião com ministros pela manhã, Lula disse que o governo deve continuar apoiando Sarney.
Lula foi informado pela cúpula do PT que estava em andamento uma estratégia para evitar que os senadores petistas continuassem a pressionar pela saída do peemedebista. A operação é comandada pelo ex-ministro José Dirceu e pelo presidente do PT, Ricardo Berzoini.
Informado da manutenção do apoio de Lula, o presidente do Senado mandou recados ao petista: não renunciaria e iria para a guerra contra dissidentes do PMDB e oposicionistas.


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