São Paulo, quarta-feira, 04 de setembro de 2002

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MILITARES

Sistema de treinamento que emprega feixes de raio laser só é usado pelas Forças Armadas mais modernas

Apesar da crise, Exército adquire sistema "futurista"

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Exército brasileiro vai utilizar um sofisticado sistema de treinamento que emprega feixes de raio laser para simular os disparos do armamento em combate, uma espécie de "paintball" futurista que lembra as armas da série de cinema Guerra nas Estrelas.
O anúncio foi feito ontem pela empresa americana que fornecerá o equipamento ao Exército, a Cubic Corporation, de San Diego, Califórnia. Segundo a empresa, foi comprado um "pequeno número" de kits para serem acoplados a armas individuais como fuzis. O valor não foi informado.
Conhecido como Miles 2000 (sigla em inglês para Sistema Múltiplo Integrado de Engajamento por Laser), o equipamento está em uso em alguma das mais modernas (ou mais ricas) Forças Armadas do mundo. Outros usuários são o Exército, a Força Aérea e o Corpos do Fuzileiros Navais ("marines") dos Estados Unidos; o exército do Kuait e os fuzileiros navais holandeses.
O equipamento é instalado no armamento -há modelos também para simulação de combate entre veículos blindados- de modo a simular o disparo. Em vez de bala, a pressão no gatilho faz com que o fuzil dispare um pulso de laser. Os soldados também usam um colete contendo sensores que detectam o laser, indicando se ele o militar foi "atingido" pelo disparo.
O anúncio surge em um momento particularmente irônico, em que o Exército brasileiro está dispensando recrutas e mesmo diminuindo os desfiles de Sete de Setembro por falta de recursos.
O Exército não se pronunciou oficialmente ontem sobre o anúncio feito pela empresa americana, que informa que os kits deverão ser entregues em um prazo de oito meses.
Mas militares e especialistas ouvidos pela Folha afirmam que não há contradição entre a compra de um equipamento sofisticado em pequena quantidade e a crise que torna difícil até providenciar refeições aos recrutas.
O Miles 2000, mesmo nos Estados Unidos, é usado apenas por tropas recebendo instrução em centros especializados; não é para ser de uso disseminado por toda a força.

Adestramento
A utilização de um equipamento como esse no Exército brasileiro está de acordo com a política de manter uma parte da força com alto grau de adestramento e operacionalidade, os chamados "núcleos de modernidade".
Para o Exército, seria mais importante que uma parte do seu efetivo esteja em condições de pronto emprego, do que a instrução de uma leva anual de recrutas que logo voltarão à reserva.
Além disso, o anúncio agora da compra do material e sua entrega em 2003 indicam que o processo de aquisição já estava sendo realizado faz algum tempo. Que uma parte da tropa vai treinar com um equipamento de Primeiro Mundo, e o resto não tenha arroz com feijão, seria apenas uma ironia da situação atual das Forças Armadas.
O Exército tem atualmente um efetivo em torno de 190 mil homens, dos quais a força operacional está dividida em 26 brigadas (10 de infantaria motorizada, 4 de infantaria de selva, 3 de infantaria blindada, 1 de infantaria leve/aeromóvel, 1 de infantaria pára-quedista, 1 de infantaria de fronteira, 4 de cavalaria mecanizada, 1 de cavalaria blindada, 1 de artilharia antiaérea).
Mas, desse total, a força de ação rápida, capaz de atuar imediatamente, é constituída basicamente pelas brigadas leve/aeromóvel e pára-quedista, além de um batalhão de forças especiais e dos esquadrões de aviação empregando helicópteros.
Um dos executivos da Cubic, o vice-presidente da divisão de desenvolvimento de negócios, Ray Barker, afirmou que essa é a primeira venda do Miles 2000 a um cliente na América do Sul. "Fazer negócio com o Brasil nos dá uma base em um importante novo mercado", declarou Barker.
"Já estamos trabalhando no equipamento para o Brasil e esperamos enviar o pedido completo dentro de oito meses", afirmou o executivo da empresa americana.



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