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MILITARES
Sistema de treinamento que emprega feixes de raio laser só é usado pelas Forças Armadas mais modernas
Apesar da crise, Exército adquire sistema "futurista"
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Exército brasileiro vai utilizar
um sofisticado sistema de treinamento que emprega feixes de raio
laser para simular os disparos do
armamento em combate, uma espécie de "paintball" futurista que
lembra as armas da série de cinema Guerra nas Estrelas.
O anúncio foi feito ontem pela
empresa americana que fornecerá
o equipamento ao Exército, a Cubic Corporation, de San Diego,
Califórnia. Segundo a empresa,
foi comprado um "pequeno número" de kits para serem acoplados a armas individuais como fuzis. O valor não foi informado.
Conhecido como Miles 2000 (sigla em inglês para Sistema Múltiplo Integrado de Engajamento
por Laser), o equipamento está
em uso em alguma das mais modernas (ou mais ricas) Forças Armadas do mundo. Outros usuários são o Exército, a Força Aérea
e o Corpos do Fuzileiros Navais
("marines") dos Estados Unidos;
o exército do Kuait e os fuzileiros
navais holandeses.
O equipamento é instalado no
armamento -há modelos também para simulação de combate
entre veículos blindados- de
modo a simular o disparo. Em vez
de bala, a pressão no gatilho faz
com que o fuzil dispare um pulso
de laser. Os soldados também
usam um colete contendo sensores que detectam o laser, indicando se ele o militar foi "atingido"
pelo disparo.
O anúncio surge em um momento particularmente irônico,
em que o Exército brasileiro está
dispensando recrutas e mesmo
diminuindo os desfiles de Sete de
Setembro por falta de recursos.
O Exército não se pronunciou
oficialmente ontem sobre o anúncio feito pela empresa americana,
que informa que os kits deverão
ser entregues em um prazo de oito meses.
Mas militares e especialistas ouvidos pela Folha afirmam que não
há contradição entre a compra de
um equipamento sofisticado em
pequena quantidade e a crise que
torna difícil até providenciar refeições aos recrutas.
O Miles 2000, mesmo nos Estados Unidos, é usado apenas por
tropas recebendo instrução em
centros especializados; não é para
ser de uso disseminado por toda a
força.
Adestramento
A utilização de um equipamento como esse no Exército brasileiro está de acordo com a política
de manter uma parte da força
com alto grau de adestramento e
operacionalidade, os chamados
"núcleos de modernidade".
Para o Exército, seria mais importante que uma parte do seu
efetivo esteja em condições de
pronto emprego, do que a instrução de uma leva anual de recrutas
que logo voltarão à reserva.
Além disso, o anúncio agora da
compra do material e sua entrega
em 2003 indicam que o processo
de aquisição já estava sendo realizado faz algum tempo. Que uma
parte da tropa vai treinar com um
equipamento de Primeiro Mundo, e o resto não tenha arroz com
feijão, seria apenas uma ironia da
situação atual das Forças Armadas.
O Exército tem atualmente um
efetivo em torno de 190 mil homens, dos quais a força operacional está dividida em 26 brigadas
(10 de infantaria motorizada, 4 de
infantaria de selva, 3 de infantaria
blindada, 1 de infantaria leve/aeromóvel, 1 de infantaria pára-quedista, 1 de infantaria de fronteira, 4 de cavalaria mecanizada, 1
de cavalaria blindada, 1 de artilharia antiaérea).
Mas, desse total, a força de ação
rápida, capaz de atuar imediatamente, é constituída basicamente
pelas brigadas leve/aeromóvel e
pára-quedista, além de um batalhão de forças especiais e dos esquadrões de aviação empregando
helicópteros.
Um dos executivos da Cubic, o
vice-presidente da divisão de desenvolvimento de negócios, Ray
Barker, afirmou que essa é a primeira venda do Miles 2000 a um
cliente na América do Sul. "Fazer
negócio com o Brasil nos dá uma
base em um importante novo
mercado", declarou Barker.
"Já estamos trabalhando no
equipamento para o Brasil e esperamos enviar o pedido completo
dentro de oito meses", afirmou o
executivo da empresa americana.
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