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Sucessor não mudará política social, diz FHC
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A JOHANNESBURGO
O presidente Fernando Henrique Cardoso fez ontem uma espécie de provocação aos principais
candidatos à sua sucessão: "Duvido que alguém vá mudar", disse,
referindo-se a políticas sociais, especialmente de educação e saúde.
"Como é que vai mudar o Bolsa-Escola, o provão, o Fundef? Estão
aí, enraizados. Na Saúde, a mesma coisa: os agentes comunitários
de saúde, os médicos de família.
Duvido que alguém vá mudar.
Aliás, vejo nos programas de TV
que eles [os candidatos] falam a
mesma coisa que eu já estou fazendo", acrescentou.
Segundo FHC, há políticas hoje
que estão acima dos partidos e da
questão político-partidária, sendo
"vinculadas à sociedade".
FHC fez essas declarações em
Johannesburgo, África do Sul, onde esteve até ontem para a Cúpula
Mundial sobre Desenvolvimento
Sustentável (Rio +10). Abatido,
disse três vezes que se sentia cansado. Cancelou, inclusive, o último compromisso na cidade.
Economia
Se diz que nada vai mudar nos
programas sociais que citou, FHC
considerou natural que seu sucessor faça mudanças na economia:
"Claro que cada um vai imprimir
um diretriz mais específica". E admitiu: "Eu mesmo imprimiria, se
fosse presidente outra vez".
Não falou que mudanças ele implantaria: "Tudo depende da conjuntura". E comparou: "Todo
mundo imaginava que este ano
seria de crescimento e não foi,
porque houve uma crise mundial
que afetou o Brasil. E eu sei lá o
que vai acontecer em 2003?".
FHC afirma que o país que o seu
sucessor vai encontrar "está muito fortalecido no mundo" e disse
que o fato de ter recebido novo financiamento do FMI (Fundo
Monetário Internacional) é uma
prova disso: "Ser apoiado não é sinal de fraqueza, ao contrário".
Antes de embarcar para Brasília, no início da tarde, FHC assumiu novamente tom conciliador,
dizendo que problemas de campanha passam. "No momento da
campanha é uma coisa. Depois, é
outra. Vamos ver o que vai acontecer porque, num país democrático, devemos evitar procedimentos persecutórios", defendeu.
"Quaisquer que sejam os eleitos, se forem por esse caminho,
vão por um mau caminho. Não
acredito que qualquer deles faça
isso", disse. Soou quase como um
recado para José Serra (PSDB),
que está rompido e irritado com
tucano cearense Tasso Jereissati.
Ele também lembrou que a
questão partidária passa por outra, bem mais pragmática: "Numa
democracia, você não funciona
bem se não tiver apoio no Congresso. Qualquer presidente que
seja eleito vai ter que buscar apoio
no Congresso", disse.
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