|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DO "MENSALINHO"
Presidente da Câmara perde fôlego e aposta em aliança com Planalto para sobreviver
Fragilizado, Severino se une a Lula e atrai ira da oposição
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Fragilizado e com a reputação
cada vez mais abalada dentro e fora da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), presidente da Casa, forjou uma aliança
de ocasião com o governo, esquecendo sua promessa de campanha de manter uma distância razoável do Planalto.
"Há um novo Severino na presidência da Câmara", reclama a
oposição, maior responsável por
sua vitória, em fevereiro passado.
Governistas comemoram: o ex-crítico da política econômica, que
costumava acusar o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva de humilhar o Parlamento, agora joga em
seu time.
"Nossa relação com Severino
está muito ruim. Fizemos a opção
política de apoiá-lo sem avaliar
que poderia dar nisso", diz Pauderney Avelino (PFL-AM).
A ira oposicionista explodiu na
semana passada, após a entrevista
de Severino à Folha em que defendeu penas brandas -e não a
cassação do mandato- para deputados flagrados no esquema de
caixa dois eleitoral.
"Quando Severino age no sentido de protelar a punição de deputados, a posição dele, consciente
ou inconscientemente, é a mesma
do governo, que quer empurrar
com a barriga", diz o primeiro vice-presidente da Câmara, José
Thomaz Nonô (PFL-AL).
Também na entrevista, Severino fez, nas palavras de um deputado, uma "declaração de amor ao
governo", elogiando a política
econômica e manifestando apoio
à reeleição do petista.
"O Severino prometeu autonomia na relação com o governo e
passou a aliado incondicional",
afirma Fernando Gabeira (PV-RJ), que virou símbolo do motim
oposicionista com sua afirmação
categórica de que Severino é um
"desastre" para o país.
Comemoração
Na liderança governista na Câmara, a conquista de Severino é
um raro motivo de comemoração
em um cenário de terra arrasada.
"A relação com ele melhorou,
sem dúvida. A oposição imaginava que ele o ajudaria na sua tarefa
de desestabilizar o governo e agora está com dor-de-cotovelo", diz
o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP).
Tamanha era a importância de
ter Severino como aliado que no
final de julho Lula sacrificou seu
amigo Olívio Dutra, retirando-o
das Cidades para lá acomodar
Márcio Fortes, indicação do PP.
Outra frente da ofensiva são os
cafés da manhã que Lula tem oferecido a Severino, para tratar de
uma "agenda positiva".
O ministro Antonio Palocci (Fazenda) é outro que nos últimos
três meses tem demonstrado uma
espantosa disponibilidade de
agenda para receber pleitos dos
mais diversos de Severino, que já
intercedeu em favor de produtores de arroz e de banana.
Os resultados já aparecem. Severino agora protege o presidente
da ameaça de impeachment, defende a explicação "convincente"
de Palocci sobre as acusações de
seu ex-assessor Rogerio Buratti e
elogia as ações do governo.
"No interior, uma grande camada dos desfavorecidos está tendo
a oportunidade de ver os filhos estudando, ter alimentação", disse,
na semana passada.
Em fevereiro, também à Folha,
Severino mandou um recado bem
diferente a Lula: "Olha, presidente, nós precisamos fazer com que
o povo, o pobre, o miserável, não
pague, não satisfaça a fome do
mercado internacional".
A acusação de que Severino teria recebido R$ 10 mil de um empresário colaboraria para estreitar
as relações com o Planalto. "Se Severino fosse um presidente forte,
Lula estaria perdido", diz Arnaldo
Faria de Sá (PTB-SP).
A metamorfose do presidente
da Câmara lhe rendeu uma lista
crescente de inimigos. Gabeira
não é o único. "Claro que se ele
passar na minha frente eu o cumprimento, sou educado, mas nossa relação azedou", diz o presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), irritado com
a insistência de Severino em mandar ao Conselho a conta-gotas
processos de cassação.
Outro inimigo é o presidente do
PPS, Roberto Freire (PE). "Severino é sócio do governo desde que
ganhou um ministério. Por ele
não tenho respeito."
As sucessivas polêmicas em que
se envolve o presidente da Casa,
além do envolvimento do PP na
acusação de "mensalão", começam a neutralizar o inchaço do
partido provocado por sua vitória. Estão de saída do partido Ivan
Ranzolin (SC), Pratini de Moraes
(RS) e Delfim Netto (SP).
Mas Severino mantém um "núcleo duro" de admiradores de vários partidos, como Ciro Nogueira (PP-PI), Benedito Dias (PP-AP), Robson Tuma (PFL-SP),
João Caldas (PL-AL) e Givaldo
Carimbão (PSB-AL).
"Severino hoje é um aliado do
governo, mas a oposição tem que
apontar os fatos específicos que
justifiquem suas críticas. Em nenhum momento ele, por ter feito
indicação ao ministério, se propôs a trabalhar pelo governo na
atual crise. Sua posição continua
sendo de defender a independência do Legislativo", diz Nogueira.
Na semana passada, chamou a
atenção o fato de nenhum dos governistas ter criticado Severino
por sua entrevista à Folha. Alguns
petistas se dizem constrangidos.
"É arriscado apoiá-lo no meio
desse turbilhão. Eu recomendaria
um mínimo de prudência", diz
Paulo Rubem (PT-PE).
Chinaglia admite certa cautela
para não machucar o neoaliado.
"Óbvio que a reação à entrevista
foi calculada. Quero manter uma
boa relação com ele."
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Janio de Freitas: O suborno que não conta Índice
|