São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2005

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Para Lula, Dirceu não foge de cassação

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve um encontro sigiloso com o deputado e ex-ministro José Dirceu (PT-SP) no último domingo e avaliaram que as chances de Dirceu escapar da cassação no Congresso são mínimas e que, quanto mais rápido for o processo, melhor para o governo. O pescoço de Dirceu seria o "preço a pagar" para Lula superar a crise.
Conforme a Folha apurou, Lula disse com todas as letras que, enquanto Dirceu estiver no alvo, a crise não cederá. Aconselhou seu ex-braço-direito no Planalto a "esquecer o mandato e tocar a vida, limpando sua honra".
Após a conversa, um interlocutor perguntou a Lula: "E se ele [Dirceu] escapar?". O presidente respondeu de pronto: "Ele não vai escapar. E sabe disso".
Lula também avaliou que, dos 18 denunciados pelo relator da CPI dos Bingos, serão cassados uns "oito ou dez". Quase brincando, o presidente disse que seria uma "sacanagem" cassar, por exemplo, o ex-líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP). "Cassarem o Professor Luizinho por causa de R$ 20 mil?"
Apesar de Lula lavar as mãos no seu caso, Dirceu não desistiu do mandato e trabalha intensamente no Congresso. Só uma coisa mudou a partir da conversa com o presidente: ele passou a se mexer também fora do mundo estritamente congressual para "limpar a honra", recorrendo a velhos contatos com líderes políticos como os ex-presidentes José Sarney, com quem almoçou na quarta, e Itamar Franco, com quem conversou ao longo da semana.
Depois do almoço com Sarney, Dirceu disse à Folha que o senador "tem grande influência política e tem sido um amigo leal". À noite, Sarney acrescentou: "Não se pode abandonar uma pessoa quando ela está na sua pior hora". Nenhum dos dois, porém, explicou que tipo de ajuda poderia ser dada. No caso de Itamar, nem ele nem Dirceu confirmam os contatos, mas tanto eles têm conversado que, na sexta passada, na sua primeira entrevista depois de voltar da Embaixada de Roma, Itamar criticou duramente Lula por manter no cargo pessoas sob suspeita, como o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, mas se declarou mais de uma vez "amigo" de Dirceu.
"Tenho afinidade de muitos anos com o José Dirceu", disse Itamar, lembrando que foi o primeiro governador não-petista a apoiar a candidatura de Lula em 2002 e que tomou essa decisão em função da "amizade com o companheiro José Dirceu".
"Eu não estou morto, não. Quem pensa assim está muito enganado. Não pensem que é fácil me cassar. Vai haver reação no PT, vocês vão ver", disse o ex-ministro numa conversa no Congresso. Ele relatou que foi jantar com o também deputado e ex-ministro Miro Teixeira na terça e foi convidado a tirar fotos com formandas de Direito. "Quando cheguei, pensei que elas pudessem até me vaiar. Mas algumas até pediram para tirar foto comigo."
Ele tenta articular encontros com empresários e intelectuais do eixo Rio-São Paulo, mas não está fácil. Assessores queriam a ajuda da empresária Cosette Alves para uma reunião em São Paulo, mas ela desmentiu que tivesse essa intenção. O "Plano B" de Dirceu, caso se confirme a cassação, é investir num processo formal e jurídico no Supremo Tribunal Federal.

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