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Para Lula, Dirceu não foge de cassação
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva teve um encontro sigiloso
com o deputado e ex-ministro José Dirceu (PT-SP) no último domingo e avaliaram que as chances
de Dirceu escapar da cassação no
Congresso são mínimas e que,
quanto mais rápido for o processo, melhor para o governo. O pescoço de Dirceu seria o "preço a
pagar" para Lula superar a crise.
Conforme a Folha apurou, Lula
disse com todas as letras que, enquanto Dirceu estiver no alvo, a
crise não cederá. Aconselhou seu
ex-braço-direito no Planalto a
"esquecer o mandato e tocar a vida, limpando sua honra".
Após a conversa, um interlocutor perguntou a Lula: "E se ele
[Dirceu] escapar?". O presidente
respondeu de pronto: "Ele não vai
escapar. E sabe disso".
Lula também avaliou que, dos
18 denunciados pelo relator da
CPI dos Bingos, serão cassados
uns "oito ou dez". Quase brincando, o presidente disse que seria
uma "sacanagem" cassar, por
exemplo, o ex-líder do governo na
Câmara, Professor Luizinho (PT-SP). "Cassarem o Professor Luizinho por causa de R$ 20 mil?"
Apesar de Lula lavar as mãos no
seu caso, Dirceu não desistiu do
mandato e trabalha intensamente
no Congresso. Só uma coisa mudou a partir da conversa com o
presidente: ele passou a se mexer
também fora do mundo estritamente congressual para "limpar a
honra", recorrendo a velhos contatos com líderes políticos como
os ex-presidentes José Sarney,
com quem almoçou na quarta, e
Itamar Franco, com quem conversou ao longo da semana.
Depois do almoço com Sarney,
Dirceu disse à Folha que o senador "tem grande influência política e tem sido um amigo leal". À
noite, Sarney acrescentou: "Não
se pode abandonar uma pessoa
quando ela está na sua pior hora".
Nenhum dos dois, porém, explicou que tipo de ajuda poderia ser
dada. No caso de Itamar, nem ele
nem Dirceu confirmam os contatos, mas tanto eles têm conversado que, na sexta passada, na sua
primeira entrevista depois de voltar da Embaixada de Roma, Itamar criticou duramente Lula por
manter no cargo pessoas sob suspeita, como o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles,
mas se declarou mais de uma vez
"amigo" de Dirceu.
"Tenho afinidade de muitos
anos com o José Dirceu", disse
Itamar, lembrando que foi o primeiro governador não-petista a
apoiar a candidatura de Lula em
2002 e que tomou essa decisão em
função da "amizade com o companheiro José Dirceu".
"Eu não estou morto, não.
Quem pensa assim está muito enganado. Não pensem que é fácil
me cassar. Vai haver reação no
PT, vocês vão ver", disse o ex-ministro numa conversa no Congresso. Ele relatou que foi jantar
com o também deputado e ex-ministro Miro Teixeira na terça e foi
convidado a tirar fotos com formandas de Direito. "Quando cheguei, pensei que elas pudessem
até me vaiar. Mas algumas até pediram para tirar foto comigo."
Ele tenta articular encontros
com empresários e intelectuais do
eixo Rio-São Paulo, mas não está
fácil. Assessores queriam a ajuda
da empresária Cosette Alves para
uma reunião em São Paulo, mas
ela desmentiu que tivesse essa intenção. O "Plano B" de Dirceu, caso se confirme a cassação, é investir num processo formal e jurídico
no Supremo Tribunal Federal.
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