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ELIO GASPARI
O Estado brasileiro é plutófilo
Faz tempo que o economista
Marcelo Medeiros, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, balança o coreto das autoridades na discussão da renda dos
brasileiros. Diante de uma inflação de estudos sobre os pobres, ele
procura entender os ricos. Nas
suas contas, rica é uma família
com R$ 3.500 por cabeça. Um casal que ganha R$ 14 mil e tem
duas crianças pequenas é rico.
São cerca de 1,8 milhão de brasileiros e detêm pelo menos 50% do
patrimônio declarado em Pindorama. Metade está no quadrilátero São Paulo, Rio, Belo Horizonte
e Brasília.
Esse pedaço da sociedade vive
principalmente de seu trabalho e
investe pouco mais de 20% do orçamento na expansão de seus
bens. De cada R$ 3 pagos em aluguéis, R$ 1 vai para o bolso dos ricos.
Medeiros acaba de publicar um
precioso trabalho. Chama-se "O
estudo dos ricos no Brasil" e está
no último número da revista
"Econômica", da Universidade
Federal Fluminense. São 26 páginas cautelosas na exposição, com
perguntas orientadoras e estimulantes para futuras pesquisas.
O economista sustenta que o Estado brasileiro é, há tempo, uma
máquina de produzir e preservar
ricos. Pindorama não é um país
africano, onde a pobreza funciona como chave de compreensão
da sociedade. Aqui a chave é o estudo da desigualdade: "A riqueza
no Brasil se origina ou, ao menos,
é perpetuada por relações com o
Estado". Como? Assim:
Hoje o maior desembolso do Estado brasileiro destina-se a honrar compromissos financeiros.
Desde 1983, só os juros já custaram perto de R$ 1,3 trilhão, 4,7%
do PIB a cada ano. A melhor parte desse dinheiro ficou nas mãos
de 2% da população.
A segunda maior despesa do Estado, equivalente a 15% do PIB,
está na Previdência Social. No
ano passado, foram R$ 173 bilhões. (Não confundir a aposentadoria da patuléia com a dos marajás.) Os 2% mais abonados entre os beneficiários apropriam-se
do equivalente a 60% do que recebe a escumalha. Lula, por
exemplo, tem um Bolsa-Ditadura
de R$ 3.600. Um em cada quatro
ricos recebe benefícios da Previdência.
A anomalia previdenciária não
é o principal fator da desigualdade brasileira. Há muito chão pela
frente para pesquisar o peso das
conexões sociais. Numa construção exagerada, imagine-se dois
jovens com origens e escolas diferentes e o mesmo diploma de curso superior.
Se a educação fosse uma linha
produtora de igualdade social,
eles deveriam estar em patamares
próximos. Na vida real, se o andar de baixo fosse remunerado da
mesma maneira que o de cima,
41% da população brasileira se
tornaria rica. Se acontecesse o
contrário, 91% dos ricos trocariam de andar.
Medeiros entende que o problema da desigualdade nacional
não está na alta fecundidade e na
baixa escolaridade dos pobres,
nem numa suposta operosidade
dos ricos. Ele estima que, se o Brasil crescesse a taxas de 5% ao ano
durante 15 anos consecutivos, o
espaço que separa os ricos dos pobres não seria reduzido de forma
significativa.
O economista não aponta um
caminho. Lendo-o, ocorre uma
curiosidade: não tem pobre nas
conversas de caixa dois e não tem
rico na cadeia por ter operado esse tipo de maracutaia.
Vem aí mais uma AeroTunga
A Infraero quer um aumento de
35% nas tarifas de embarque no
aeroportos. Elas já foram reajustadas em janeiro. Se o doutor Carlos Wilson for atendido, as taxas
do Galeão, de Guarulhos e de
Congonhas terão pulado de R$
9,15 para R$ 15,59 em apenas oito
meses.
A patuléia de Pindorama paga a
mais alta tarifa de embarque do
mundo em vôos internacionais.
São US$ 36 contra US$ 18 cobrados no aeroporto Kennedy, em
Nova York.
O doutor Antonio Palocci deveria mandar o ervanário arrecadado direto para as empreiteiras de
obras ou de serviços de informática que habitam no orçamento da
Infraero. Reduziria o custo do dinheiro.
Bico tucano
Lula faz questão de tratar o
governador tucano Lúcio
Alcântara, do Ceará, com
mais cortesia do que tratou a
prefeita petista de Fortaleza,
Luizianne Lins. Chama Alcântara de "parceiro em
momentos difíceis" (ele jogou sua influência sobre a
bancada cearense para impedir que se formasse a CPI
dos Correios). Já Luizianne,
uma lutadora contra os altos
teores de nicotina e alcatrão
do comissariado, é apenas a
"prefeita".
Coisa de artista
FFHH tornou-se um primoroso imitador de Lula. Imita
da rouquidão à sintaxe. Seu
desempenho só é superado
pelas imitações que faz do
professor Fernando Henrique Cardoso.
Voz do DOI
Falta pouco para que o coronel Carlos Alberto Brilhante
Ustra ponha o ponto final
no seu novo livro, intitulado
"A Verdade Sufocada". Ele
comandou o DOI-Codi de
São Paulo entre 1970 e 1974,
período durante o qual foram desbaratadas as principais organizações esquerdistas envolvidas com a luta
armada e atos terroristas.
Do período em que comandou o DOI ficou a marca de 502 denúncias de torturas. Em 1987, Ustra publicou "Rompendo o Silêncio",
o primeiro livro com informações sobre a estrutura do
DOI. "A Verdade Sufocada"
terá umas 500 páginas. Durante mais de 30 anos, o coronel juntou lembranças,
formou uma biblioteca e teve acesso aos dois volumes
produzidos nos anos 80 por
cerca de 30 oficiais do Centro de Informações do Exército. Nele está uma minuciosa narrativa do período, na
visão dos comandantes militares da época.
Nosso guia
Se não aparecer uma nova
cueca, a viagem de George
Bush ao Brasil, em novembro, dará um respiro a Lula.
"Nosso guia, nosso mentor"
na qualificação congolesa-stalinista do chanceler Celso
Amorim terá a oportunidade de parecer um presidente
fora da crise. O resto é torcer
para que o fantasma de Celso
Daniel retorne ao armário.
Voz do ABC
O advogado Almyr Pazzianotto começou a escrever
suas memórias, mistura de
lembranças políticas com a
história do movimento sindical brasileiro no final do
século passado.
°°°Advogado dos metalúrgicos de São Bernardo, Pazzianoto foi eleito deputado estadual em 1978 e tornou-se ministro do Trabalho no governo José Sarney. Ele participou das negociações com o
patronato e o governo nas
greves de 1979 e 1980. Elas
catapultaram Lula à celebridade nacional. Pazzianotto é
uma das poucas pessoas capazes de calcular, na ponta
do lápis, os resultados que as
greves trouxeram para os
contracheques dos trabalhadores. Foram poucos.
Projeto Macunaíma
O senador Demóstenes Torres (PFL-GO) fez as contas:
no Orçamento de 2005, os
ministérios da Saúde e de Cidades foram autorizados a
gastar R$ 936 milhões em saneamento urbano. Do trabalho de ambos resultou que
estão encalhados R$ 916 milhões ou cerca de 97% do serviço orçado.
°°°Na hora de cortar projetos
sociais, os companheiros
usam a linguagem dos auditores: "De onde vem o dinheiro?" Na hora de executar
os serviços previstos no Orçamento, repetem o grito de
guerra de Macunaíma: "Ai, que preguiça".
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