São Paulo, terça-feira, 04 de setembro de 2007

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PF vai preferir "conteúdo" a "imagem", diz novo diretor

Segundo Luiz Fernando Corrêa, novo manual passa a orientar ações da polícia

De saída, Paulo Lacerda afirma que momento mais difícil de sua gestão foi o do episódio com o caseiro que levou à queda de Palocci

Alan Marques/Folha Imagem
A partir da esq., Tarso Genro, general Jorge Felix, Luiz Fernando Corrêa, Thomaz Bastos e Lacerda


ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O novo diretor-geral da Polícia Federal, delegado Luiz Fernando Corrêa, disse ontem, em sua posse, que o órgão vai atuar mais preocupado com o conteúdo do que em produzir imagens de suas ações pelo país.
Uma das principais críticas à atuação da PF é que ela agiria de forma pirotécnica e sem se preocupar com a integridade dos seus alvos. Desde 2003 até hoje, na gestão de Paulo Lacerda, a PF comandou 412 ações de grande repercussão. Foram presas 6.411 pessoas, das quais 988 eram servidores públicos -e 77 eram policiais federais.
"O destaque da atuação da PF deve ser o conteúdo da prova e não necessariamente uma imagem. É mais do que ver uma pessoa sendo jogada dentro de um camburão", disse Corrêa, 49, em referência a críticas de que a PF recebeu por suposta prática de excesso, sobretudo na Operação Hurricane, que revelou a existência de esquema de venda de sentenças judiciais.
Por isso, lembrou Corrêa, a PF passará a atuar dentro das normas previstas em um Manual de Planejamento Operacional, conforme portaria publicada no "Diário Oficial" na semana passada.
"Não é um julgamento do que foi feito, mas sim uma reflexão da maturidade da instituição revendo seus próprios procedimentos", disse ontem, na cerimônia de posse.
Sobre qual o limite entre a divulgação e a exposição indevida, o delegado entende que, "uma vez dominado [o suspeito], é a partir daí que não queremos mais exposição". Segundo ele, não existe regra para definir o que pode ou não ser divulgado. "É o bom senso." Quanto aos delegados mais antigos, disse que não vai "desconsiderar" experiência. "Delegados e agentes mais antigos que se sentirem desconfortáveis têm tempo para se aposentar ou contribuir, superando esse detalhe com o nosso profissionalismo e a compreensão desse momento histórico." Corrêa negou que o órgão voltará a ser uma "caixa-preta".
Horas antes de deixar a chefia da PF, Lacerda negou que houvesse uma política de superexposição das ações policiais na sua gestão e disse que seus maiores aliados foram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos e o titular da pasta, Tarso Genro. "A polícia não produz matéria, trabalha em cima de fatos."
Questionado sobre qual teria sido na sua gestão o momento mais sensível na relação da PF com o governo, ele apontou o episódio da quebra ilegal do sigilo do caseiro Francenildo Costa. A PF ficou sob suspeita de ter praticado o crime.
À CPI dos Bingos, em 2006, o caseiro disse que o então ministro Antonio Palocci (Fazenda) freqüentava casa em Brasília na qual haveria divisão propina. "Por coincidências infelizes [quando o sigilo bancário foi quebrado, o caseiro falava à PF], aquilo colocou a polícia sob suspeita."

Colaborou MARIA LUIZA RABELLO , da Sucursal de Brasília


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