São Paulo, Sábado, 04 de Setembro de 1999
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PT discute tese de antecipação da eleição presidencial de 2002

MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília

A antecipação das eleições presidenciais de 2002 é defendida internamente no PT -o maior partido de oposição do país e que pretende liderar as manifestações populares de protesto contra o presidente Fernando Henrique Cardoso.
A estratégia petista é detalhada em quase 90 páginas da publicação que reúne as pré-teses para o 2º Congresso Nacional do PT, marcado para novembro, em Belo Horizonte.
A ""Marcha dos 100 Mil", nome dado ao protesto que reuniu 75 mil pessoas em Brasília na semana passada sob o lema ""Fora FHC, Fora FMI", já aparece nos textos como o futuro ponto de partida de um ""movimento de massas" contra o governo. O caderno também menciona a proposta de greve nacional, prevista para outubro.
Além de dar novo fôlego à oposição, o objetivo da mobilização social planejada pelo PT em parceria com outros partidos de oposição e entidades como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e a CUT (Central Única dos Trabalhadores) seria encurtar o mandato de FHC, revelam os textos a que a Folha teve acesso.
A única exceção nesse tema é o texto assinado pelo líder do PT na Câmara, José Genoino (SP), que chega a criticar o ""vale tudo" de uma oposição que classifica de ""salvacionista": ""A crítica ao programa de um governo, por radical que seja, não nos basta para uma propositura de sua deposição", diz o texto intitulado ""Por uma Democracia Republicana".
""Hoje, a tendência é de radicalização e sei que sou minoria", avaliou o líder. Genoino defende a abertura de processo de impeachment de FHC a partir da investigação da venda das empresas de telefonia por uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Congresso. Anteontem, o presidente da Câmara, Michel Temer, arquivou o pedido de CPI.
Até o grupo considerado moderado no PT, encabeçado pelo atual presidente do partido, deputado José Dirceu (SP), aponta o impeachment e até a renúncia do presidente como ""soluções constitucionais" para a crise, embora sua pré-tese seja uma das raras que não citam a palavra de ordem ""Fora FHC".
Recomenda o texto: ""Atacar frontalmente a política econômica do governo e o mandato do presidente, cada vez mais manchado de ilegitimidade, mostrando que eles não comportam -o governo e a política econômica- remendos, mas têm de ser derrotados e substituídos".
Esse mesmo texto contém uma proposta de mobilização social mais ampla que a obtida na quinta-feira e inclui a participação de entidades como a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a ABI (Associação Brasileira de Imprensa).
Em novembro, Dirceu deverá disputar o comando do partido com o deputado Milton Temer (RJ), que se autodefine como ""xiita". O texto assinado por Temer defende que o PT assuma a liderança do movimento Fora FHC-FMI. Fala claramente em antecipar as eleições, proposta seguida pela suspensão do pagamento da dívida externa e pela ruptura com o FMI.
""A conjuntura está ajudando os mais combativos", calcula Temer. Como considera pequenas as chances de encurtar o mandato de FHC, o deputado insiste em que a proposta, somada à pressão popular, serve para criar uma ""tensão radical" sobre o governo.
O resultado mínimo esperado, segundo Temer, é: na área econômica, barrar o programa de venda de empresas estatais; na área política, dar força à oposição nas próximas eleições.
A antecipação das eleições presidenciais é defendida em vários outros textos apresentados para o Congresso petista, como o assinado pelo prefeito de Porto Alegre, Raul Pont, e a senadora alagoana Heloísa Helena.


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