São Paulo, sábado, 4 de outubro de 1997.



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NO BRASIL
Operação envolvia cães e homens com fuzis em rua ocupada por mulheres e crianças
Papa vê exagero em esquema de segurança e Exército muda tática

Lula Marques/Folha Imagem
Antes da chegada do papa ao Palácio das Laranjeiras, soldados tentam conter a multidão


IGOR GIELOW
enviado especial ao Rio
CRISTINA GRILLO
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

O superesquema de segurança montado para a visita do papa ao presidente Fernando Henrique Cardoso no Palácio Laranjeiras (zona sul do Rio) -com cerca de 1.200 homens armados com fuzis e bombas de gás lacrimogêneo- desagradou a João Paulo 2º, obrigando o Exército a mudar sua estratégia ontem.
Segundo a Folha apurou com a organização da visita papal, João Paulo 2º achou exagerado o armamento utilizado pela segurança.
João Paulo 2º queixou-se com o cardeal-arcebispo do Rio, dom Eugenio Sales. A queixa foi retransmitida para a primeira-dama, Ruth Cardoso.
As reclamações foram retransmitidas para o presidente Fernando Henrique Cardoso, que determinou a redução do efetivo.
O porta-voz do CML (Comando Militar do Leste), coronel Gérson Ribeiro, disse que o embaixador Flávio Perri, coordenador da visita, pediu que o armamento fosse reduzido na rua do Bispo, acesso ao Sumaré (residência de dom Eugênio Sales, onde João Paulo 2º está hospedado).
"A rua do Bispo é um trecho por onde o papa deve passar todo dia. Retiramos o armamento pesado e corrigimos o erro. Não sei se houve pedido semelhante para o Palácio Laranjeiras", disse Ribeiro.
Na entrada do parque Guinle, acesso ao Laranjeiras, o público era escondido pela barreira de soldados com fuzis e em uniforme de camuflagem. A PE (Polícia do Exército) trouxe, além das bombas de gás lacrimogêneo, três cães.
Segundo a PM, foram ao local cerca de 2.000 pessoas, principalmente mulheres e crianças. O Exército colocou cerca de mil soldados do 24º Batalhão de Infantaria Blindada e da PE no local, e 180 homens do 2º BPM (Batalhão de Polícia Militar) e do Batalhão de Choque completaram o esquema.

Lula Marques/Folha Imagem
Soldados do exército deixam o local após a chegada do papa


Problemas
Os problemas começaram por volta das 10h, quando soldados armados passaram a isolar o caminho para o carro que traria o papa. A rua Gago Coutinho, que dá acesso ao palácio, foi interditada.
Mulheres idosas e crianças foram empurradas para a calçada, causando protestos. "Não precisa disso. Não sou bandida", afirmava a irmã Marta, 82, de São Paulo.
Às 10h30, a comitiva papal chegou. No banco da frente de um Alfa Romeo, João Paulo 2º acenava discretamente aos fiéis. Um grupo de crianças entoava a enésima versão do grito funk "ah, eu tô maluco": "Ah, eu tô com o papa".
Segundo a Folha apurou, o papa teria reclamado da segurança já no carro. A ordem de reduzir o efetivo na rua foi transmitida por rádio para o comando militar no local.
Quando o papa saiu do encontro, às 11h45, o cordão de isolamento tinha militares da PE, armados com pistolas e cassetetes e em uniforme administrativo -sem a farda camuflada.
No meio da Gago Coutinho, a comitiva desacelerou e passou a uma velocidade inferior à do papamóvel anteontem. As assessorias de comunicação da Arquidiocese do Rio, do cardeal dom Eugenio Sales e do embaixador Flávio Perri não confirmaram o pedido de redução do efetivo de segurança.

Lula Marques/Folha Imagem
Na saída do papa do palácio, somente policiais militares fazem a segurança nas ruas



Colaborou William França, enviado especial ao Rio



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