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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
Alckmin afirma que Lula está à sua direita e defende o fim da reeleição
Tucano afirma em entrevista à Folha que "militância cívica" o levará a vencer disputa com petista
Candidato diz que apoio de Garotinho não abala seu discurso ético porque o peemedebista não lhe pediu nada em troca de adesão
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
Em busca do eleitores de
Cristóvam Buarque (PDT) e
Heloisa Helena (PSOL), o tucano Geraldo Alckmin disse ontem, em entrevista à Folha,
que o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva está à sua direita
neste segundo turno. "Sou
mais à esquerda [do que ele] no
apreço à democracia e no sentido econômico."
Enquanto tenta convencer
os eleitores dos dois ex-petistas, Alckmin costura apoios na
cúpula dos principais partidos.
Ontem, conquistou parte do
PMDB e conversou com o PV.
Ele diz, porém, que vencerá a
eleição graças à "militância cívica" dos eleitores. "O PT tinha
uma militância histórica, mas
ela praticamente desapareceu.
Nós passamos a ter, não digo
uma militância partidária, mas
uma militância cívica", disse.
Sobre o apoio de Anthony
Garotinho, disse que o PT não
poderá criticá-lo porque o peemedebista apoiou Lula anteriormente e fez diferença no
Rio de Janeiro em 2002.
De olho no apoio dos tucanos
José Serra e Aécio Neves, Alckmin afirmou que, se eleito, poderá fazer um governo melhor
sem se preocupar com reeleição. "No que depender de mim,
vou acabar com a reeleição."
Alckmin recebeu a Folha à
noite, no condomínio onde
mora na zona sul de São Paulo,
logo após receber homenagem
de vizinhos e comerciantes.
FOLHA - O sr. recebeu hoje apoio de
parte do PMDB. Como estão as negociações com os outros partidos?
GERALDO ALCKMIN - Parte expressiva no PMDB já nos apoiou no
primeiro turno, em Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Rondônia e Pernambuco. Além de deputados e
prefeitos em todo o país. Agora,
acho que temos a possibilidade
de ter o PMDB no Rio Grande
do Sul e recebemos o apoio da
governadora do Rio. Tive uma
conversa com o PV, com o PDT,
o Cristovam me ligou. Estamos
sempre procurando fazer conversas partidárias. Toda essa
conversa se faz em três pilares:
a questão da ética, a qualidade
dos serviços públicos e o crescimento econômico.
FOLHA - Em que medida esses
apoios revertem em votos?
ALCKMIN - Apoios são importantes para costurar uma governabilidade. Mas é claro que
o eleitor tem enorme liberdade,
esse comando de voto é pequeno no segundo turno. O que
mais me entusiasma agora é a
rua. Havia um grande desencanto, uma campanha fria, uma
desilusão com a política. Nosso
desafio é transformar esse desencanto em entusiasmo. Eu
comecei a sentir isso nas duas
semanas antes do primeiro turno, gente pedindo material, pedindo voto. É outra campanha.
FOLHA - No início, o sr. dizia que
quando foi candidato a vereador de
Pindamonhangaba começou andando sozinho na rua e terminou a
campanha cercado de muita gente.
Está acontecendo isso agora?
ALCKMIN - Aconteceu e continua acontecendo. Eleição é empatia. Estamos começando a
ter uma coisa que o PT perdeu.
O PT tinha uma militância histórica, mas ela praticamente
desapareceu. Passamos a ter,
não digo uma militância partidária, mas uma militância cívica, um grande voluntariado que
entende que a política pode ser
melhor, séria, honesta. Percebi
isso no Brasil inteiro, ganhei,
por exemplo, no Acre, onde o
PSDB é muito pequeno. E
aquela coisa de "Lula vai ganhar no primeiro turno" atrapalhou, deu uma desmotivada.
Agora será muito diferente.
FOLHA - Qual será a pauta do sr.
neste segundo turno, a economia
ou o aspecto ético?
ALCKMIN - Uma campanha nunca é monotemática. Ética é um
tema central até pela gravidade
do que ocorreu no Brasil, não só
nas últimas semanas, mas nos
últimos três anos. O novo nome
da ética também é eficiência.
Esse aparelhamento do Estado
atrapalha a gestão e leva à corrupção, é uma ação entre amigos, a patota.
FOLHA - O sr. não teme que o PT o
acuse de não poder falar em ética
por ter recebido o apoio do ex-governador Anthony Garotinho?
ALCKMIN - Isso é bobagem,
meus compromissos não mudaram um milímetro. O Garotinho apoiou o Lula em 1989,
1994 e 2002, quando ele teve
seis milhões de votos no Rio e o
José Serra teve um milhão. Ele
não me solicitou nada, eu quero
voto, dele e de todos.
FOLHA - O sr. imagina que existirão
muitos Ditões, aquele personagem
de Pindamonhangaba que ficava
em frente ao seus palanques gritando "bate, doutor", neste segundo
turno?
ALCKMIN - Você não faz um
campanha contra algo, mas a
favor do Brasil. Agora, eu ando
na rua e ouço isso o tempo inteiro, "bate, doutor, bate doutor". Tem um fato positivo nisso, as pessoas não perderam a
capacidade de se indignar frente ao que está errado. Eles [petistas] já emudeceram no episódio da apreensão do dinheiro
com os petistas. Ninguém fala
da origem do dinheiro, das contas. Ninguém dá satisfação.
FOLHA - O banqueiro Olavo Setúbal
disse que o sr. e Lula são igualmente
conservadores. Isso ficará explícito
agora?
ALCKMIN - O Lula está mais à
minha direita porque não tem o
apreço pela democracia. Essa é
a primeira questão. Mario Covas dizia que, na vida pública,
essa deve ser sempre a primeira
qualidade, apreço à democracia. O governo Lula tem um
perfil autoritário, que se manifesta no mensalão, na Ancinav,
que é a tentativa de amordaçar
a imprensa porque eles não
gostam de críticas. Também está mais à direita na questão
econômica. Política monetária,
fiscal e cambial todo os governos precisam ter. Mas o que nos
diferencia é a dosagem. Eles foram ultraconservadores, nesse
sentido, mais à direita por causa do custo PT. A economia
precisou ser mais ortodoxa
porque o Lula falou 25 anos
uma coisa e fez outra totalmente diferente. Sou mais à esquerda no apreço à democracia e no
sentido econômico, minha
agenda será a do crescimento.
FOLHA - José Serra e Aécio Neves
sonham em disputar a Presidência.
Agora com maiores chances de vencer, o que o sr. pensa da reeleição?
ALCKMIN - No que depender de
mim, eu vou parar com a reeleição. Eu tive de deixar o governo
paulista meio ano antes, mas o
presidente fica onde está. Não
há uma regulamentação adequada. Sem essa preocupação
de reeleição, acho que poderei
fazer um governo melhor.
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