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ELIO GASPARI
A marcha dos palhaços
Lula se candidatou ao lugar de coordenador da campanha eleitoral
de Geraldo Alckmin
NA SEGUNDA-FEIRA, com aquelas olheiras que só a adversidade eleitoral produz, "nosso guia" se candidatou ao lugar de
coordenador da campanha de Geraldo Alckmin à Presidência da República. Fez isso quando tratou do
dossiê Vedoin e disse o seguinte: "Eu
quero saber quem arquitetou essa
obra de engenharia para atirar no
próprio pé". Quer? Pergunte a Ricardo Berzoini e a Aloizio Mercadante. Eles podem ajudar.
Ao tratar de um crime como curiosidade, Lula assumiu a condição
de padrinho dos malfeitores petistas, aloprados e trambiqueiros. Padrinho no sentido da figura de Don
Corleone/Marlon Brando.
Não há nenhuma prova, indício ou
pista de que haja bico tucano na
construção do papelório. Há apenas
um raciocínio lógico: se os tucanos
foram favorecidos pelo episódio, há
dedo deles na produção. Coisa assim: a invasão da Rússia por Hitler
permitiu que Stálin consolidasse a
sua tirania, donde, Hitler foi uma jogada de Stálin.
Admita-se que o raciocínio de
Lula está certo. No início de setembro, um tucano teve uma idéia:
vamos pedir ao Vedoin que faça
um dossiê contra o Serra, ele o vende ao PT, nós flagramos os compradores, fotografamos o ervanário e
botamos o escândalo na imprensa.
Um petista aloprado come a isca,
compra-se o caso, acerta-se a publicação da denúncia, combina-se o
pagamento e vai-se a um hotel buscar mais uns docinhos. Nisso reserva-se R$ 1,7 milhão, em grana viva,
para os chantagistas.
Se isso fosse verdade, o presidente
de honra do PT teria razão ao chiar.
O da República não é pago para tumultuar inquéritos. Os petistas que
negociaram com um delinqüente
cometeram uma contravenção ao
trocar denúncia por dinheiro e um
crime e ao remunerar bandidos.
Transgrediram as leis da República.
Respeitaram apenas a regra do silêncio de Don Corleone.
Diante de um crime, o presidente
da República não pode agir como
advogado de porta de xadrez. (Será
que em 1954 os capangas de Gregório Fortunato foram pagos por Carlos Lacerda para atirar no major Rubens Vaz?)
Em São Paulo e no Rio, houve zonas eleitorais onde madames grisalhas, elegantes e gentis distribuíam
narizes de palhaço. (Senhoras parecidas com aquelas que fizeram a
Marcha da Família em 1964.) O sujeito ganhava uma bolinha vermelha
e ia para a seção eleitoral. No comércio, a bolota de plástico custa R$
2,50 e a de esponja sai por R$ 3, crime eleitoral explícito, mas isso fica
para depois. Contra quem esse feliz
palhaço protesta? Paulo Maluf?
João Paulo Cunha? Clodovil? Lula?
O calor que o senador Eduardo
Suplicy tomou de Guilherme Afif
Domingos mostra que se quebrou a
associação da decência ao PT. Se são
todos iguais, Lula é igual a Maluf e
Fernando Collor. Exagero? Ouça-se
Maluf: "Tenho plena consciência de
que o presidente Lula é um homem
limpo e correto". E Lula: "Collor poderá, se quiser, fazer um trabalho
excepcional no Senado".
Lula e o PT associaram-se a práticas indecentes. Fizeram isso porque
quiseram. A mistura custou o resultado de domingo.
A Justiça Eleitoral precisa estar
cega para permitir a distribuição de
prendas na área onde é proibido repassar santinhos de candidatos.
Mesmo assim, o palhaço sempre poderá votar com um nariz que trouxe
de casa. Ou Lula pára de dizer monstruosidades ou verá a marcha dos
palhaços.
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