São Paulo, quinta-feira, 04 de outubro de 2007

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Câmara prepara resistência a ordem para cassar deputados

Reunião no gabinete de Chinaglia articula reação a possível decisão do STF hoje

Cúpula da Casa discute não declarar perda de mandato e levar questão ao plenário, que deve rejeitar eventual determinação do Supremo

RANIER BRAGON
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Cerca de uma hora e meia antes de os ministros do Supremo Tribunal Federal iniciarem o julgamento sobre a fidelidade partidária, a cúpula da Câmara discutia uma reação em reunião reservada que, na prática, iria descumprir uma eventual decisão pela cassação em massa -45 deputados correm esse risco por terem trocado de sigla desde as eleições de 2006.
A estratégia estudada na reunião é reunir a Mesa e, em vez de cumprir a possível decisão pela cassação em bloco, transferir essa tarefa para o plenário da Casa decidir, com base nos votos da maioria. Como só a oposição (com 133 parlamentares) defende a tese da cassação, a tendência era a de que os governistas (380 deputados) derrubassem a medida. Hoje será anunciada a decisão do STF.
Na noite de ontem, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse ter sido informado de que a Folha havia obtidos relatos da reunião e fez um pronunciamento público para negar que tenha havido uma decisão para confrontar o Supremo, afirmando, entre outras coisas, que seria "loucura" tratar sobre uma decisão que nem sequer foi tomada.
Ele afirmou que havia uma "hipótese" de o plenário analisar o rito de uma decisão que seria inédita. A Câmara não tem rito definido caso o STF julgue dessa maneira. Nos casos de cassação pela Justiça Eleitoral, cabe à Mesa declarar a perda de mandato depois de ouvida a defesa dos deputados.
"Sem dúvida, criaria uma crise muito séria entre as instituições", disse um dos presentes ao encontro em que a estratégia foi definida, que pediu para não ter o nome divulgado. A Folha ouviu o relato de outros dois integrantes da reunião que confirmaram a estratégia.
A avaliação dos parlamentares, porém, é que o Supremo não tomaria uma decisão que, ao resultar em possibilidade de cassações em massa, abrisse uma crise entre instituições.
A reunião aconteceu no gabinete de Chinaglia e estiveram presentes os deputados Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), ex-presidente da Câmara, Flávio Dino (PC do B-SP), que já presidiu a Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil), José Eduardo Cardozo (PT-SP), José Genoino (PT-SP) e Michel Temer (SP), presidente do PMDB, e o advogado-geral da União, José Antônio Tóffoli.
Tóffoli foi chamado porque havia a intenção de que ele defendesse a Câmara no julgamento, mas o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral Fernando Neves foi o eleito.
A não-escolha de Tóffoli tem duas versões. Por meio de sua assessoria, ele disse ter recusado o pedido, pois os mandados de segurança eram contra o presidente da Câmara, não a instituição. Já Chinaglia disse que a Câmara é que desistiu do pedido, pois poderia ser interpretado como uma participação do Executivo no episódio. Na Câmara, a sessão de votações da tarde demorou a dar quórum. Em alguns momentos, o plenário vazio contrastava com a sala de cafezinho cheia de parlamentares acompanhando a sessão na TV Justiça.

Troca-troca
E mesmo com a ameaça de cassação, o troca-troca seguia.
Presente ontem na Câmara, o ex-deputado José Borba (PR), que renunciou ao mandato sob acusação de participação no mensalão -é um dos 40 réus do caso-, informava que havia deixado o PMDB e se filiado ao PP com o objetivo de disputar a Prefeitura de Jandaia do Sul, posto que ocupou nos anos 90.
"Ele quer fazer o mesmo caminho do Alceni Guerra", disse Ricardo Barros (PP-PR), lembrando que o ex-ministro da Saúde, que deixou o cargo sob suspeita de irregularidades em 1992, voltou à Câmara nesta legislatura após ter sido prefeito de Pato Branco (PR).
Também ontem, Paulo Rubem Santiago (PE) assinava filiação no PDT. "Saí do PT por uma questão ideológica."


Colaborou FÁBIO ZANINI, da Sucursal de Brasília

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