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Câmara prepara resistência a ordem para cassar deputados
Reunião no gabinete de Chinaglia articula reação a possível decisão do STF hoje
Cúpula da Casa discute não declarar perda de mandato
e levar questão ao plenário, que deve rejeitar eventual
determinação do Supremo
RANIER BRAGON
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Cerca de uma hora e meia antes de os ministros do Supremo
Tribunal Federal iniciarem o
julgamento sobre a fidelidade
partidária, a cúpula da Câmara
discutia uma reação em reunião reservada que, na prática,
iria descumprir uma eventual
decisão pela cassação em massa
-45 deputados correm esse
risco por terem trocado de sigla
desde as eleições de 2006.
A estratégia estudada na reunião é reunir a Mesa e, em vez
de cumprir a possível decisão
pela cassação em bloco, transferir essa tarefa para o plenário
da Casa decidir, com base nos
votos da maioria. Como só a
oposição (com 133 parlamentares) defende a tese da cassação,
a tendência era a de que os governistas (380 deputados) derrubassem a medida. Hoje será
anunciada a decisão do STF.
Na noite de ontem, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse ter sido
informado de que a Folha havia obtidos relatos da reunião e
fez um pronunciamento público para negar que tenha havido
uma decisão para confrontar o
Supremo, afirmando, entre outras coisas, que seria "loucura"
tratar sobre uma decisão que
nem sequer foi tomada.
Ele afirmou que havia uma
"hipótese" de o plenário analisar o rito de uma decisão que
seria inédita. A Câmara não
tem rito definido caso o STF
julgue dessa maneira. Nos casos de cassação pela Justiça
Eleitoral, cabe à Mesa declarar
a perda de mandato depois de
ouvida a defesa dos deputados.
"Sem dúvida, criaria uma crise muito séria entre as instituições", disse um dos presentes
ao encontro em que a estratégia foi definida, que pediu para
não ter o nome divulgado. A
Folha ouviu o relato de outros
dois integrantes da reunião que
confirmaram a estratégia.
A avaliação dos parlamentares, porém, é que o Supremo
não tomaria uma decisão que,
ao resultar em possibilidade de
cassações em massa, abrisse
uma crise entre instituições.
A reunião aconteceu no gabinete de Chinaglia e estiveram
presentes os deputados Ibsen
Pinheiro (PMDB-RS), ex-presidente da Câmara, Flávio Dino
(PC do B-SP), que já presidiu a
Ajufe (Associação dos Juízes
Federais do Brasil), José
Eduardo Cardozo (PT-SP), José Genoino (PT-SP) e Michel
Temer (SP), presidente do
PMDB, e o advogado-geral da
União, José Antônio Tóffoli.
Tóffoli foi chamado porque
havia a intenção de que ele defendesse a Câmara no julgamento, mas o ex-ministro do
Tribunal Superior Eleitoral
Fernando Neves foi o eleito.
A não-escolha de Tóffoli tem
duas versões. Por meio de sua
assessoria, ele disse ter recusado o pedido, pois os mandados
de segurança eram contra o
presidente da Câmara, não a
instituição. Já Chinaglia disse
que a Câmara é que desistiu do
pedido, pois poderia ser interpretado como uma participação do Executivo no episódio.
Na Câmara, a sessão de votações da tarde demorou a dar
quórum. Em alguns momentos, o plenário vazio contrastava com a sala de cafezinho cheia
de parlamentares acompanhando a sessão na TV Justiça.
Troca-troca
E mesmo com a ameaça de
cassação, o troca-troca seguia.
Presente ontem na Câmara, o
ex-deputado José Borba (PR),
que renunciou ao mandato sob
acusação de participação no
mensalão -é um dos 40 réus do
caso-, informava que havia
deixado o PMDB e se filiado ao
PP com o objetivo de disputar a
Prefeitura de Jandaia do Sul,
posto que ocupou nos anos 90.
"Ele quer fazer o mesmo caminho do Alceni Guerra", disse
Ricardo Barros (PP-PR), lembrando que o ex-ministro da
Saúde, que deixou o cargo sob
suspeita de irregularidades em
1992, voltou à Câmara nesta legislatura após ter sido prefeito
de Pato Branco (PR).
Também ontem, Paulo Rubem Santiago (PE) assinava filiação no PDT. "Saí do PT por
uma questão ideológica."
Colaborou FÁBIO ZANINI, da Sucursal de Brasília
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