São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2008

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PF acusa filho de Sarney de traficar influência em estatal

Fernando Sarney afirma que acusações são motivadas por "interesses políticos'

Inquérito começou em 2006 para investigar suposto uso de recursos de caixa dois na campanha de Roseana Sarney ao governo do MA

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

A Polícia Federal do Maranhão acusa o empresário Fernando Sarney -filho do ex-presidente José Sarney- de tráfico de influência no Ministério de Minas e Energia, na Eletrobrás, na Eletronorte, na Valec (estatal do Ministério dos Transportes responsável pela construção da Ferrovia Norte-Sul) e na Caixa Econômica Federal, para favorecer negócios privados. Fernando Sarney diz ser um homem do setor privado e atribui as acusações a "interesses políticos".
O inquérito policial começou em 2006 para investigar a suposta utilização de recursos de caixa dois na campanha de Roseana Sarney ao governo do Estado, quando disputou e perdeu a eleição para Jackson Lago (PDT). A operação foi batizada de Boi Barrica, grupo folclórico maranhense.
A investigação migrou do financiamento da campanha para a influência de Fernando Sarney e de dois empresários ligados a ele -Gianfranco Vitorio Artur Perasso e Flávio Barbosa Lima- na intermediação de negócios privados com estatais. Os dois empresários foram sócios de Fernando Sarney e se formaram engenheiros na mesma turma da USP.
Em agosto, a PF pediu a prisão preventiva de Fernando Sarney e do agente da Polícia Federal Aluisio Guimarães Mendes Filho, de Brasília, que teria lhe repassado informações sobre a investigação.
O juiz da 1ª Vara Federal Criminal de São Luiz, Neian Milhomem Cruz, negou o pedido de prisão. Porém, antes da negativa, Fernando Sarney já havia obtido habeas corpus preventivo no Superior Tribunal de Justiça para não ser preso.

Ex-ministro
O ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau é apontado pela PF como integrante ativo do esquema. O atual ministro, Edison Lobão, também é citado como alvo de influência. Os dirigentes de estatais abordados pelo grupo, mencionados no relatório, são maranhenses, e com ligações históricas com a família Sarney.
Astrogildo Quental, diretor financeiro da Eletrobrás, foi secretário estadual de Infra-Estrutura do Maranhão no governo de Roseana. Ulisses Assad, diretor de engenharia da Valec, responsável pelas licitações para construção da ferrovia Norte-Sul, foi diretor da Caema (Cia. de Águas e Esgoto do Maranhão), também no governo de Edison Lobão (1991-1994).
A investigação foi conduzida pelos delegados Márcio Adriano Anselmo e Thiago Monjardim Santos, ambos de São Luís. Fernando Sarney, sua mulher, Tereza Murad Sarney, e Ana Clara Sarney, uma das filhas do casal, tiveram os sigilos telefônico, fiscal e bancário quebrados. Fernando Sarney teve os telefones grampeados por autorização judicial em dois momentos: no início do inquérito, em 2006, e neste ano.
A PF pediu o bloqueio das contas bancárias de Fernando Sarney, da mulher e da filha. A mesma providência foi pedida em relação ao ex-ministro Silas Rondeau, ao diretor da Valec Ulisses Assad, ao diretor da Eletrobrás, Astrogildo Quental, e aos empresários Flávio Lima e Gianfranco Perasso.
A polícia pediu o rastreamento de bens e o bloqueio de contas bancárias de 14 pessoas e de 13 empresas, que fariam parte do suposto esquema.

Negócios
Ao monitorar telefonemas e e-mails de Fernando Sarney, Flávio Lima e Gianfranco Perasso, a PF afirma ter flagrado um pagamento de R$ 160 mil efetuado pela construtora EIT (Empresa Industrial Técnica) à PBL Construtora -de Gianfranco e Flávio Lima-, supostamente como compensação por ter sido subcontratada para obras na Ferrovia Norte Sul, por intermediação de Fernando Sarney.
O relatório da PF transcreve telefonemas recheados de palavrões, em que Flávio Lima pressiona a EIT a efetuar o pagamento, sob risco de não ser contratada para um outro lote da Norte-Sul cujo contrato já estaria com Fernando Sarney.
Em conversa com um funcionário da EIT identificado como Rodrigo, ele ameaça retaliar a empresa na Petrobras e na Eletrobrás. Diz que iria se encontrar com Silas Rondeau, que é conselheiro da Petrobras, e com Astrogildo Quental, diretor da Eletrobrás.
Depois de ameaçar a empresa, ele diz que iria vistoriar a obra da EIT na Ferrovia Norte-Sul com Fernando (Sarney) e o diretor da Valec.
""Sabe quem vai chegar com Fernando e com Ulisses para fazer a porra da vistoria na sexta-feira? Sou eu!" O pagamento, segundo a PF, foi efetuado duas semanas depois do telefonema descrito.

Nomeação
Além de intermediar encontros entre empresas privadas da área de energia elétrica com o diretor financeiro da Eletrobrás, Fernando Sarney, segundo a Polícia Federal, indicou pelo menos um diretor para a Eletrobrás: Ronaldo Braga, diretor comercial da área de distribuição, que reúne as empresas estaduais energéticas que foram federalizadas (Piauí, Rondônia, Acre, Alagoas e Amazonas).
Segundo relatório da PF, Astrogildo Quental ligou para o celular de Fernando Sarney, no dia 21 de maio último, e comunicou a "boa notícia" da nomeação de Braga. "Astrogildo fala que foi uma conquista boa" e que havia acordado a indicação com o ministro Edison Lobão naquela manhã. Ato contínuo, Braga envia o currículo para que Gianfranco o examine, para ser entregue ao governo. No mesmo dia, a PF grava ligação de Gianfranco em que ele diz que a diretoria que Braga passou a ocupar "é o principal cargo para os nossos pleitos".


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