São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2008

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Campanha é nacionalizada em cidade sem luz

Em Arinos (MG), 25% dos moradores não têm eletricidade; para candidatos, solução é o Luz para Todos

EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A ARINOS (MG)

Um em cada quatro habitantes de Arinos, município gigante do noroeste de Minas Gerais, não tem luz elétrica em casa.
Essa realidade deixa o município entre os de maior exclusão elétrica do país e coloca o tema como prioridade dos três candidatos a prefeito. Na zona rural, reuniões de políticos com os eleitores muitas vezes são iluminadas com ajuda de geradores a diesel ou com faróis de carros e caminhonetes.
Anida Cardoso, 78, vive há 53 anos numa comunidade a 40 km do centro da cidade, sempre sem energia elétrica. "É uma vida triste. Meu marido morreu sufocado com a fumaça do candeeiro [a diesel]". A lavradora diz ter esperança de um dia ter uma geladeira em casa. "A gente nunca perde a fé. Quem é que não sonha com uma cervejinha gelada?", pergunta.
Na mesma situação está Maria Aparecida dos Reis, 54. "Sinto falta de uma geladeira, pra tomar água gelada, e de uma TV, pra ver uma novelinha."
A falta de luz é um problema local, mas a solução, dizem os candidatos, está quase toda nas mãos do governo federal, por meio do programa Luz para Todos, o que, na prática, federalizou um pouco a atual campanha eleitoral de Arinos.
Dos três candidatos, dois estão em coligações com o apoio do presidente Lula. Para eles, o fato de o atual prefeito e candidato à reeleição, Carlos Alberto (DEM), ser de um partido de oposição, prejudica a articulação entre o município e o Luz para Todos.
"Pelo município, é inviável [uma ação]. Tem que fazer articulação com o governo federal", afirma Nelson Pajeú (PPS), coligado ao PT. "Uma sintonia com o governo federal poderia avançar com o Luz para Todos. O prefeito pisa no freio, porque não quer fazer o governo federal crescer", diz Roberto Sales (PSB).
O prefeito parece concordar com seus adversários. "Não sei se existe uma discriminação, mas, quando o gestor é da base aliada, a meta [do Luz para Todos] é muito maior. Hoje a demanda número um é energia", afirma Alberto.
Arinos, a 736 km de Belo Horizonte, tem 17.592 habitantes, sendo cerca de 4.500 deles sem energia elétrica. Segundo a prefeitura, a exclusão atinge 2.400 propriedades rurais. O município tem 5.323 km2, o equivalente a três vezes e meia a área de São Paulo.
Sem energia, a economia do município trava. Quem vive no campo tende a procurar a cidade, e possíveis investidores do agronegócio ficam desestimulados, diante da falta de comunicação e de uma produção mais onerosa, à base de geradores. Por exemplo: projetos de irrigação tornam-se inviáveis, a água de poços artesianos não é bombeada e não há como conservar em geladeira o leite recém-retirado do gado.
Segundo a prefeitura, das 50 associações de pequenos produtores, 30 delas têm pelo menos um ponto de luz. As demais estão absolutamente no breu.
Arinos é cortado por 5.000 km de trilhas de terra, que ligam o centro da cidade a pequenas propriedades e aos 22 assentamentos de reforma agrária. Há comunidades que ficam a 100 km da sede do município.
Produtor de queijo e sem energia na propriedade, Gilberto Alves Ferreira, 33, diz que trabalha com a ajuda de uma lanterna e de gerador. "O custo aumenta e impede o nosso crescimento. Sem energia, fica difícil bombear água e triturar a ração do gado", diz o produtor, que completa: "Os candidatos sempre prometem energia, mas percebe-se que até hoje nada foi feito".

Leia mais sobre a viagem dos repórteres da Folha
http://campanhanoar.folha.blog.uol.com.br


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