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Campanha é nacionalizada em cidade sem luz
Em Arinos (MG), 25% dos moradores não têm eletricidade; para candidatos, solução é o Luz para Todos
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A ARINOS (MG)
Um em cada quatro habitantes de Arinos, município gigante do noroeste de Minas Gerais,
não tem luz elétrica em casa.
Essa realidade deixa o município entre os de maior exclusão elétrica do país e coloca o
tema como prioridade dos três
candidatos a prefeito. Na zona
rural, reuniões de políticos com
os eleitores muitas vezes são
iluminadas com ajuda de geradores a diesel ou com faróis de
carros e caminhonetes.
Anida Cardoso, 78, vive há 53
anos numa comunidade a 40
km do centro da cidade, sempre
sem energia elétrica. "É uma vida triste. Meu marido morreu
sufocado com a fumaça do candeeiro [a diesel]". A lavradora
diz ter esperança de um dia ter
uma geladeira em casa. "A gente nunca perde a fé. Quem é que
não sonha com uma cervejinha
gelada?", pergunta.
Na mesma situação está Maria Aparecida dos Reis, 54. "Sinto falta de uma geladeira, pra
tomar água gelada, e de uma
TV, pra ver uma novelinha."
A falta de luz é um problema
local, mas a solução, dizem os
candidatos, está quase toda nas
mãos do governo federal, por
meio do programa Luz para Todos, o que, na prática, federalizou um pouco a atual campanha eleitoral de Arinos.
Dos três candidatos, dois estão em coligações com o apoio
do presidente Lula. Para eles, o
fato de o atual prefeito e candidato à reeleição, Carlos Alberto
(DEM), ser de um partido de
oposição, prejudica a articulação entre o município e o Luz
para Todos.
"Pelo município, é inviável
[uma ação]. Tem que fazer articulação com o governo federal", afirma Nelson Pajeú
(PPS), coligado ao PT. "Uma
sintonia com o governo federal
poderia avançar com o Luz para Todos. O prefeito pisa no
freio, porque não quer fazer o
governo federal crescer", diz
Roberto Sales (PSB).
O prefeito parece concordar
com seus adversários. "Não sei
se existe uma discriminação,
mas, quando o gestor é da base
aliada, a meta [do Luz para Todos] é muito maior. Hoje a demanda número um é energia",
afirma Alberto.
Arinos, a 736 km de Belo Horizonte, tem 17.592 habitantes,
sendo cerca de 4.500 deles sem
energia elétrica. Segundo a prefeitura, a exclusão atinge 2.400
propriedades rurais. O município tem 5.323 km2, o equivalente a três vezes e meia a área de
São Paulo.
Sem energia, a economia do
município trava. Quem vive no
campo tende a procurar a cidade, e possíveis investidores do
agronegócio ficam desestimulados, diante da falta de comunicação e de uma produção
mais onerosa, à base de geradores. Por exemplo: projetos de
irrigação tornam-se inviáveis, a
água de poços artesianos não é
bombeada e não há como conservar em geladeira o leite recém-retirado do gado.
Segundo a prefeitura, das 50
associações de pequenos produtores, 30 delas têm pelo menos um ponto de luz. As demais
estão absolutamente no breu.
Arinos é cortado por 5.000 km
de trilhas de terra, que ligam o
centro da cidade a pequenas
propriedades e aos 22 assentamentos de reforma agrária. Há
comunidades que ficam a 100
km da sede do município.
Produtor de queijo e sem
energia na propriedade, Gilberto Alves Ferreira, 33, diz
que trabalha com a ajuda de
uma lanterna e de gerador. "O
custo aumenta e impede o nosso crescimento. Sem energia,
fica difícil bombear água e triturar a ração do gado", diz o
produtor, que completa: "Os
candidatos sempre prometem
energia, mas percebe-se que
até hoje nada foi feito".
Leia mais sobre a viagem
dos repórteres da Folha
http://campanhanoar.folha.blog.uol.com.br
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