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Marta perdeu porque não rompeu
com práticas malufistas, diz Cardozo
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
Marta Suplicy (PT) foi derrotada pela visão centralizadora de
seu governo, que manteve a tradição de práticas malufistas e frustrou setores da sociedade.
É essa a opinião do deputado federal José Eduardo Martins Cardozo, 45, o vereador mais votado
da cidade em 2000, na onda de renovação que elegeu Marta.
Para Cardozo, algum tipo de
preconceito contra a prefeita só
pôde se disseminar porque encontrou um terreno propício, fertilizado pela insatisfação popular
com a falta de diálogo da gestão.
Ele classifica de "inaceitável"
vincular a essa rejeição o ex-marido de Marta, Eduardo Suplicy.
Folha - Por que Marta perdeu?
José Eduardo Martins Cardozo -
Houve uma visão na campanha,
que já existia no governo, caracterizada pela ausência de diálogo
interno e com setores da cidade.
Isso foi marcante e se traduziu na
estratégia de campanha.
Folha - De que forma?
Cardozo - Ter uma chapa pura e
uma coligação proporcional com
o PTB, sem espaço para os vereadores falarem, por exemplo, já
traz uma concepção de que só importa o Executivo. No Legislativo,
se o PT vai perder cadeiras, pouco
importa. É uma concepção centralizadora e de falta de diálogo.
Folha - Foi um erro descartar o
PMDB e compor no proporcional?
Cardozo - Os dois foram erro. O
correto teria sido pôr um vice que
ampliasse o espectro eleitoral, que
vencesse as resistências à candidatura da Marta. A coligação com
o PTB foi um erro brutal. Perdeu a
base, perdeu o partido, perdemos
as eleições e perdemos o potencial
oposicionista. O governo sempre
agiu como se quem não concorda
com alguma coisa tenha de ser alijado, tratado como inimigo. Essa
postura marcou a campanha e
frustrou setores da sociedade.
Folha - Que setores?
Cardozo - Fomos eleitos para nos
contrapormos ao malufismo. Tínhamos de romper com certas
práticas. O diálogo e o respeito à
pluralidade eram algo que alguns
setores pediam, mas frustramos
essa expectativa. Eleitos para
romper com o malufismo, paradoxalmente, terminamos a campanha com a imagem de Marta e
[Paulo] Maluf juntos, como se representassem a mesma coisa.
Folha - Mas o sr. diz que houve
métodos semelhantes aos malufistas na condução da máquina.
Cardozo - Diria que não houve o
rompimento com práticas que
nós sempre condenamos.
Folha - O sr. fala de centralismo
ou de fisiologismo também?
Cardozo - Acho que... Também.
Falo em geral. Não rompemos
com a forma tradicional de fazer
política, de conseguir maioria na
Câmara, de gerir a cidade.
Folha - O sr. diria que a campanha
foi centralizadora e autoritária?
Cardozo - Houve uma forma
centralizadora de fazer política,
que ignora divergências e disputa
a hegemonia no PT. É um excesso
de centralismo, uma visão equivocada das aspirações da cidade,
que levou a erros estratégicos.
Folha - E à derrota?
Cardozo - Esse foi o fio condutor.
Folha - Quem é centralizador?
Cardozo - Não vou nominar. Diria que é um grupo que tem forte
presença no governo Marta. Várias vezes manifestei internamente minha insatisfação com isso.
Folha - Por isso que o sr. ficou
afastado da campanha?
Cardozo - Fiquei à disposição da
campanha o tempo inteiro, mas
as solicitações eram só para
acompanharmos a prefeita. Poderíamos ter tido um papel mas ativo. Muitos deputados têm diálogo fácil com a classe média e segmentos que rejeitam Marta.
Folha - Houve preconceito?
Cardozo - É evidente que houve.
O preconceito, no entanto, poderia ter sido derrotado por uma
boa estratégia política. O problema é que essa política que marcava o governo, de ausência de diálogo e de discussão, criou o terreno propício para que afirmações
como "a Marta é autoritária" se
cristalizassem. E isso foi difícil de
quebrar, pois nossa linha de governo frustrou a sociedade por
não se pautar pelo diálogo. A cidade não queria só administração
tocadora de obras. Queria inovações no plano democrático, no
rompimento com tradição malufista. E aí nós erramos. Aí nós fomos derrotados. As crises dentro
do PT ficaram transparentes.
Folha - O sr. acha que Eduardo Suplicy alavancou esse preconceito?
Cardozo - As críticas do [Valdemir] Garreta ao Suplicy são inaceitáveis. Ele se desprendeu de
questões pessoais e teve um papel
de apoio a Marta. Poucas pessoas
conseguiriam ter essa grandeza
de espírito. O Garreta tem um
maquiavelismo intrínseco à sua
forma de pensar, vê sombras de
mais. E essa é uma delas. Eduardo
Suplicy é digno de aplausos.
Folha - O sr. não vê o dedo do senador na fala da Mônica Dallari?
Cardozo - Vejo nessa visão que o
Garreta expressa uma forma de
machismo, que tenho certeza que
a Marta condena. Pelo fato de ser
uma mulher que faz a crítica, ele
diz que só pode ter sido teleguiada. Conheço a Mônica, ela tem
personalidade e jamais aceitaria
ser teleguiada. Essa avaliação tem
um ranço machista e preconceituoso, como se a Mônica não pudesse falar por ela, por ser mulher.
Folha - Garreta diz que parte do
PT sofre da soberba do poder.
Cardozo - [Riso] Concordo com
o Garreta. Infelizmente a soberba
existe em todos os que chegam ao
poder. E muitas vezes a soberba
leva alguns a não pensarem sobre
as críticas e a acharem que são donos da verdade. Esse é o principal
efeito da soberba: não dialogar.
Folha - Duda Mendonça errou?
Cardozo - Culpar um marqueteiro por uma campanha é ignorar
que quem dirige é a coordenação.
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