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Empréstimo pode ser de fachada
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pelo menos R$ 10 milhões de dinheiro público desviados do Banco do Brasil alimentaram o caixa
dois do PT, disse ontem o relator
da CPI dos Correios, deputado
Osmar Serraglio (PMDB-PR). Ele
divulgou os primeiros documentos obtidos pela comissão com o
objetivo de desmontar a versão
-sustentada pelo publicitário
Marcos Valério Fernandes de
Souza e o ex-tesoureiro petista
Delúbio Soares- de que empréstimos bancários sustentaram os
pagamentos a políticos aliados.
A origem do dinheiro desviado,
segundo a CPI, são cotas do Banco do Brasil no Fundo de Incentivo da Visanet, numa operação
que envolve a participação do ex-diretor de Marketing da estatal
Henrique Pizzolato.
Afastado do banco por pedido
de aposentadoria, ele foi identificado como beneficiário de saque
em dinheiro no valor de R$ 356
mil das contas de Marcos Valério.
"Não há dúvida, há dinheiro
público no valerioduto; o dinheiro vem de uma estatal, é dinheiro
público colocado nas mãos de um
partido", resumiu Serraglio. "É
um passo importantíssimo, um
preâmbulo do trabalho que está
sendo feito para identificar a origem do dinheiro", comemorou o
presidente da comissão, senador
Delcídio Amaral (PT-MS).
O montante identificado ontem
pela CPI como desvio de dinheiro
público para o caixa dois do PT é
apenas uma fatia dos repasses de
R$ 73,8 milhões feitos pelo Banco
do Brasil à DNA Propaganda
num período de oito meses, já no
governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Os pagamentos correspondem
à cota do BB no Fundo de Incentivo Visanet, integrado por outros
bancos, como o Bradesco, para
divulgação da bandeira Visa, usada em cartões de crédito e de débito. Numa operação considerada
atípica pela CPI, o BB autorizou
em 2003 e 2004 o repasse antecipado à DNA da cota que detinha
no fundo, antes mesmo da aprovação de campanhas publicitárias
específicas. A DNA, uma das
agências das quais Marcos Valério era sócio, foi escolhida sem licitação entre as três agências que
dividiam a conta do BB para cuidar da publicidade da Visanet.
O suposto desvio de dinheiro
público apontado pela CPI refere-se a um dos quatro pagamentos
feitos pela Visanet, por autorização do BB, entre maio de 2003 e
junho de 2004 -o maior deles,
no valor de R$ 35 milhões.
A comissão rastreou o caminho
percorrido pelo dinheiro. Em 12
de março de 2004, R$ 35 milhões
da Visanet foram depositados na
conta da DNA e, três dias depois,
a agência aplicou R$ 34,9 milhões
num fundo do Banco do Brasil.
Em 22 de abril, a DNA transferiu
R$ 10 milhões para o BMG. O favorecido pelo depósito é o próprio banco, segundo documentos
obtidos pela CPI.
Apenas quatro dias depois, o
BMG emprestou o mesmo valor
-R$ 10 milhões- à empresa Rogério Lanza Tolentino & Associadas Ltda, sócio de Marcos Valério
Fernandes de Souza. O empréstimo, ainda não pago, é um dos seis
listados pelo publicitário mineiro
como fonte de recursos do caixa
dois do PT.
Estava fechado o circuito, concluiu o relator Osmar Serraglio.
"Houve intencionalmente o direcionamento de R$ 10 milhões ao
PT, estava claro que esses empréstimos não eram normais", disse.
A CPI dos Correios deve convocar para depoimentos o ex-diretor Henrique Pizzolato e os então
gerentes Léo Batista dos Santos e
Douglas Macedo, que assinam
autorizações de repasse antecipado de dinheiro à DNA. "O Banco
do Brasil tem responsabilidade
objetiva sobre o desvio e quem
mais atuou foi o Pizzolato", afirmou Serraglio.
A CPI desconfia de um outro
pagamento antecipado feito pelo
BB à DNA em maio de 2003, no
valor de R$ 23,3 milhões. A data é
bastante próxima à concessão de
um empréstimo de R$ 19 milhões
feito pelo Banco Rural à SMPB,
outra agência da qual Marcos Valério era sócio. O empréstimo
também é apontado como fonte
de recursos para o caixa dois do
PT. "Há uma similaridade, mas o
desvio não está confirmado", observou o sub-relator Eduardo
Paes (PSDB-RJ).
Para Serraglio, o desvio de recursos públicos detectado pela
CPI pode ser parcial, porque as
investigações estão em curso.
Segundo documento entregue
ontem à CPI, a DNA foi notificada
pelo Fundo Visanet de que deixou
de prestar contas de mais de R$ 9
milhões. Ou seja, mais de 10% do
dinheiro repassado pelo Banco do
Brasil não teria sido justificado
pela contraprestação de serviços
publicitários.
A aplicação do dinheiro repassado à DNA é objeto de uma auditoria interna no Banco do Brasil,
iniciada há mais de três meses.
Uma parcela maior poderá ter sido desviada pela agência de publicidade, suspeita a CPI dos Correios, por meio de serviços não
prestados.
O relator da comissão não se
manifestou sobre repasses feitos
pelo Banco do Brasil à DNA por
conta do Fundo Visanet nos dois
últimos anos de mandato do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso. A DNA recebeu R$ 12,8
milhões e R$ 4,5 milhões, respectivamente, para divulgar a bandeira Visa.
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