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Lula é criticado por ausência em cúpula
Meios de comunicação no Uruguai e na Argentina afirmam que presidente se omitiu num momento crítico para o Mercosul
Presidentes Tabaré Vázquez e Néstor Kirchner sustaram conversas sobre instalação de uma indústria de celulose nas margens do rio Uruguai
BRUNO LIMA
ENVIADO ESPECIAL A MONTEVIDÉU
"Por que Lula não veio?" A
mesma pergunta foi feita à reportagem da Folha por jornalistas da Espanha, da Argentina, da Venezuela e do Uruguai
no primeiro dia da 16ª Cúpula
de Chefes de Estado e de Governo dos Países Ibero-americanos, que acontece até domingo, em Montevidéu.
Em um momento crítico da
crise entre Uruguai e Argentina, exatamente quando os dois
países anunciam que foi interrompido o diálogo, Lula, presidente "pro tempore" do Mercosul, tornou-se motivo de piadas e críticas na televisão e nos
jornais uruguaios por ter sido
fotografado de sunga, descansando em uma praia.
O questionamento estava
também nos corredores da cúpula, segundo contaram diplomatas, e se tornou um dos principais assuntos do encontro. O
presidente uruguaio, Tabaré
Vázquez, afirmou ter recebido
telefonema de Lula em que ele
teria alegado indicação médica
para descansar, após o desgaste
das eleições, e prometido uma
visita ao Uruguai em um mês.
Na imprensa uruguaia e argentina, porém, analistas afirmaram ontem que a ausência
traria um custo político ao presidente, que teria "fugido a suas
responsabilidades" e, assim,
beneficiaria a Argentina. A revista uruguaia "Caras e Caretas", que tem um viés mais sensacionalista, colocou Lula em
sua capa. O título: "Macaco velho não sobe em galho podre".
Ao anúncio de que Lula não
compareceria se seguiu uma
cascata de outros comunicados
de cancelamento, culminando
com a desistência do presidente da Venezuela, Hugo Chávez,
de ir a Montevidéu. Com a ausência de 8 dos 22 governantes
de países que integram a cúpula, esta se tornou a mais esvaziada edição em toda a história
do encontro ibero-americano.
Nos dois dias anteriores ao
evento, a relação entre os governos de Néstor Kirchner e de
Tabaré Vázquez chegou a um
ponto crítico, quando ambos
afirmaram que estavam suspensas as conversas.
Ambientalistas e grupos comunitários que protestam contra a instalação da indústria de
celulose finlandesa Botnia do
lado uruguaio das margens do
rio Uruguai voltaram ontem a
cortar a passagem na principal
rota comercial entre os dois
países e construíram um muro
simbólico na fronteira. Também houve vários protestos em
Montevidéu. O Uruguai desejava uma ação de Kirchner para
conter os bloqueios; a Argentina, porém, age para boicotar a
instalação da "papeleira" e até
incentiva os protestos.
O presidente espanhol, José
Luis Rodríguez Zapatero, afirmou ontem que faria o possível
para viabilizar o "entendimento e o diálogo" entre Kirchner e
Vázquez durante o evento.
Até o fechamento desta edição, não estava previsto encontro entre os dois presidentes.
Kirchner chegou ontem à noite
a Montevidéu e não foi ao
evento de abertura em que discursou o presidente uruguaio.
"Nada a ver"
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou ontem que a ausência de
Lula "não teve nada a ver" com
o impasse entre os dois vizinhos, mas sim com o "cansaço"
e a "pressão" sofridas durante a
campanha eleitoral. "O presidente Lula deve ter tido muito
desejo de vir", disse.
Segundo o chanceler, somente o Uruguai pediu que o Brasil
atuasse como mediador do
conflito, o que, para ele, exige
mais cautela brasileira. Amorim disse ainda que o assunto
não é necessariamente um problema do Mercosul: "O Mercosul está num momento ótimo",
disse. Ele citou a criação do
Parlamento do Mercosul e a incorporação da Venezuela, entre
outras medidas, para justificar
o argumento.
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