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MST enfrenta desistências em Ribeirão
Único assentamento sob Lula na capital do agronegócio perdeu 100 pessoas em 4 anos
Muitos sem-terra deixaram o acampamento e foram povoar o bairro ao lado, que é dos que mais concentram recebedores do Bolsa Família
DO ENVIADO A RIBEIRÃO PRETO (SP)
A cidade de Ribeirão Preto
(SP) se define como a capital
brasileira da agricultura empresarial. O MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra) se declara inimigo dos
fazendeiros. No primeiro governo Lula, houve uma invasão
de terra na cidade. Dela surgiu
o único acampamento no coração do agronegócio, espremido
entre uma fazenda de cana e o
Bolsa Família.
João Euleuterio, 73, um dos
fundadores do MST nos anos
80 e hoje assentado na "Califórnia brasileira" após oito tentativas anteriores fracassadas,
aponta a cerca que separa os
sem-terra da fazenda. "Se fosse
no passado, a gente já tinha
derrubado essa cerca", afirma,
desalentado. "O povo perdeu o
ânimo, foi massacrado pelos
usineiros, não tem mais apoio.
Até o Lula mudou de lado..."
A Fazenda da Barra foi invadida por 450 famílias do MST
em 2003. Hoje, são 350, mas
apenas 30 estão no local desde
2003. A rotatividade é alta.
Muitos pioneiros desanimaram e foram povoar o bairro de
Ribeirão Verde, ao lado do assentamento, repleto de ex-integrantes do MST. Alguns fazem bicos, tentam arrumar algum emprego na economia da
cidade -que cresce rápido, movida pela cana.
Segundo a prefeitura da cidade, o bairro é um dos líderes
municipais em número de beneficiários do Bolsa Família. O
programa atingiu 516 residências do município em 2003 e alcançou 11.123 no ano passado.
Em Ribeirão Verde, as pessoas têm medo de falar. Não
querem arrumar confusão com
o MST. Uma das poucas é a cozinheira Maria da Graça Pereira de Moura, 50. Ela esteve à
frente da invasão de 2003 e hoje mora no bairro.
"Eu tinha o sonho de ter terra, não ter de trabalhar para os
outros", afirma Maria, que deixou o movimento por não concordar com as regras do acampamento. "Você não pode trabalhar fora, não pode buscar
outras coisas. Percebi que a cidade te dá mais oportunidades.
O MST diz que o governo vai
dar terra, vai dar tudo, mas nada chega."
O Incra tomou posse dos
1.548 hectares de uma das terras mais valorizadas do país
neste ano. Não há luz e a água
só chega em caminhões da prefeitura de 20 em 20 dias. Se há
foco de dengue, tem de jogar o
barril fora.
As casas são de lona, as cestas
básicas do governo, segundo a
direção do acampamento, não
chegam todos os meses. Maria
da Graça diz que muita gente
tenta escapar do aperto por
meio do Bolsa Família, mas esconde o fato da direção do
MST. Para conseguir, informam o endereço de algum amigo da cidade, de um parente.
O bairro ao lado cresce rápido. Já há asfalto nas ruas, bares,
lojas e supermercado. Na divisa
entre o acampamento e a usina,
uma caminhonete passa várias
vezes ao dia e vigia os sem-terra. Dois militantes do MST fazem de conta que não é
com eles.
João Jurandi da Silva, 54,
uma das poucas pessoas que estão na fazenda desde 2003, resume a diferença entre o governo Fernando Henrique Cardoso e o governo Lula. "O tucano
crivava um monte de dificuldade, fez medida provisória para
criminalizar o movimento. O
Lula conseguiu com esse Bolsa
Família o que o Fernando Henrique tentou, tentou e não conseguiu, que é deixar as pessoas
fora das ocupações."
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