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Brasil não precisa mais deles, afirma Skidmore
Marcos Finotti/Folha Imagem
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O historiador e brasilianista norte-americano Thomas Skidmore, que ainda vê problemas no país |
DO ENVIADO A WASHINGTON
Thomas Skidmore já foi Deus e
o diabo na terra do sol. Aos 67
anos e brasilianista há 39, o historiador norte-americano é um dos
maiores teóricos estrangeiros sobre o Brasil. "Quando cheguei ao
país, nos anos 60, era tratado como agente da CIA...", brinca.
Diretor do Centro de Estudos
Latino-Americanos do instituto
Watson Institute e professor da
Universidade Brown, nos EUA,
escreveu livros ainda hoje fundamentais para entender a história
recente do país, como "De Getúlio
a Castelo" (ed. Paz e Terra, 1969) e
"Preto no Branco - Raça e Nacionalidade no Pensamento Brasileiro" (idem, 1976).
Brincalhão, fez piada já na abertura de seu comentário, no sábado de manhã. "Temos de preservar nossa independência, apesar
de estarmos nas dependências do
embaixador, que nos mandou
buscar de carro e ofereceu vinhos
franceses aos brasilianistas." Depois, deu entrevista à Folha.
(SD)
Folha - O sr. acha que, a um mês
do século 21, o Brasil ainda precisa
do olhar estrangeiro para se entender melhor?
Thomas Skidmore - Não. Os brasilianistas demos uma contribuição externa que ajuda, mas, do
ponto de vista da identidade nacional, é marginal. A capacidade
intelectual do Brasil cresceu muito desde 1960. Não é mais aquele
país que espera vir o pensador dos
EUA para ser explicado. O Brasil
não precisa mais de brasilianista.
Folha - Nos anos 60, quando o sr.
começou a ir ao país, a recepção geral aos brasilianistas não era das
melhores, não é?
Skidmore - Quando cheguei, era
tratado como agente da CIA... Fui
censurado na imprensa, tive o visto negado uma vez. Mas, no geral,
não tive maiores dificuldades. Eu
brincava com a esquerda. Eles diziam que tinham me visto na casa
do embaixador Lincoln Gordon
na noite do golpe, o que era um
absurdo, e eu respondia que estava lá, sim, que fui o autor do manifesto dos generais! (risos).
Mas o fato é que aquela época
foi muito difícil para os intelectuais brasileiros. Eu, por ser americano, consegui lançar "De Getúlio a Castelo" num tempo em que
muitos brasileiros eram impedidos de publicar. E o livro trazia informação sobre muita coisa censurada. Ainda assim, a esquerda
acusou: "Ah, ele teve acesso especial aos arquivos do governo". Só
se for à Biblioteca Nacional do
Rio, aberta ao público, onde eu
devorava as coleções do "Correio
da Manhã".
Folha - O sr. disse sábado que o
Brasil é o país do presente, não
mais do futuro. Por quê?
Skidmore - O mundo está espantado com o progresso do Brasil
em termos de organização do
país. A privatização do sistema telefônico, por exemplo. É claro que
tem alguma coisa da infra-estrutura ainda mal resolvida, como as
estradas. Mas o que mais impressiona é a capacidade financeira do
país: em comparação com México e Argentina, o Brasil conseguiu
passar pelas crises muito melhor.
Sua taxa de inflação é muito baixa, o sistema financeiro nem tem
comparação. Mas há problemas
graves, claro.
Folha - Quais?
Skidmore - Passei uma semana
recentemente em Marília, no interior de São Paulo, e o desenvolvimento é impressionante. A região
está igual ao Norte da Itália, tudo
muito próspero, tudo funcionando muito bem. Mas isso é sinal de
que as divisões regionais estão
piorando, não? É uma ameaça para o Brasil: o Nordeste atrasado e
o Sul evoluindo...
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