São Paulo, quarta-feira, 04 de dezembro de 2002

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"Esquerda" petista vai cobrar cargos no governo

DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

A "esquerda" do PT, que controla cerca de um terço do partido, pretende cobrar da direção partidária participação no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Preocupados com a falta de sinais de Lula de que comporão o primeiro escalão, os esquerdistas vão pedir "maior pluralidade" na montagem do ministério na reunião do diretório nacional petista, prevista para o final de semana, em São Paulo. Se até lá houver sinalização clara de que a esquerda receberá um posto importante, o movimento poderá ser revertido.
"É tradição nos governos montados pelo PT que a ampla diversidade das opiniões internas esteja representada. Sempre fizemos isso no Rio Grande do Sul", diz o ex-prefeito de Porto Alegre e deputado estadual eleito Raul Pont, da Democracia Socialista, principal agrupamento de "esquerda".
Durante a campanha, criou-se a expectativa de que as alas minoritárias -que foram refratárias à aliança com o PL, ao apoio do ex-presidente José Sarney e ao aval ao acordo com o FMI- receberiam ao menos um ministério.
Mas a necessidade de Lula de destinar cargos a legendas aliadas, empresários e representantes da sociedade civil levou a esquerda petista a suspeitar que não terá lugar no governo. "Não estou vendo muito espaço para o nosso campo", diz o deputado federal Ivan Valente (SP), da Força Socialista.
A ala majoritária, de Lula, tem citado uma solução engenhosa para aplacar a esquerda e evitar dissidências durante o mandato: nomear para o ministério o governador gaúcho, Olívio Dutra, que poderia ir para a pasta dos Transportes. Amigo de Lula, teria a vantagem de compor também a cota pessoal do presidente.
Apesar de ser aliado da esquerda no Sul, Olívio não é considerado pelas alas minoritárias um "quadro orgânico" seu. O deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) e o vice-governador gaúcho, Miguel Rossetto, são citados como mais próximos da esquerda petista. "É importante a participação da esquerda no ministério para mostrar que somos bons de administração também e não apenas de crítica", diz o deputado federal eleito Chico Alencar (RJ), outro líder do grupo.
Candidata a estrela do PT "radical" na próxima legislatura da Câmara dos Deputados, a gaúcha Luciana Genro diz que a esquerda tem legitimidade para reivindicar espaço no governo, apesar de ressalvar que não espera participação de seu grupo, o pequeno Movimento de Esquerda Socialista. Ela admite que não seria "confortável" para a ala minoritária dividir assento no ministério com lideranças do PL, por exemplo.
Na reunião do diretório, os esquerdistas do PT também devem propor que, caso não sejam contemplados com ministério, tenham direito pelo menos à presidência da Câmara ou à liderança do partido. Nestes casos, o nome mais forte hoje é o de Walter Pinheiro (BA). (FÁBIO ZANINI)


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