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"Esquerda" petista vai cobrar cargos no governo
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
A "esquerda" do PT, que controla cerca de um terço do partido, pretende cobrar da direção partidária participação no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Preocupados com a falta de sinais de Lula de que comporão o
primeiro escalão, os esquerdistas
vão pedir "maior pluralidade" na
montagem do ministério na reunião do diretório nacional petista,
prevista para o final de semana,
em São Paulo. Se até lá houver sinalização clara de que a esquerda
receberá um posto importante, o
movimento poderá ser revertido.
"É tradição nos governos montados pelo PT que a ampla diversidade das opiniões internas esteja representada. Sempre fizemos
isso no Rio Grande do Sul", diz o
ex-prefeito de Porto Alegre e deputado estadual eleito Raul Pont,
da Democracia Socialista, principal agrupamento de "esquerda".
Durante a campanha, criou-se a
expectativa de que as alas minoritárias -que foram refratárias à
aliança com o PL, ao apoio do ex-presidente José Sarney e ao aval
ao acordo com o FMI- receberiam ao menos um ministério.
Mas a necessidade de Lula de
destinar cargos a legendas aliadas,
empresários e representantes da
sociedade civil levou a esquerda
petista a suspeitar que não terá lugar no governo. "Não estou vendo
muito espaço para o nosso campo", diz o deputado federal Ivan
Valente (SP), da Força Socialista.
A ala majoritária, de Lula, tem
citado uma solução engenhosa
para aplacar a esquerda e evitar
dissidências durante o mandato:
nomear para o ministério o governador gaúcho, Olívio Dutra,
que poderia ir para a pasta dos
Transportes. Amigo de Lula, teria
a vantagem de compor também a
cota pessoal do presidente.
Apesar de ser aliado da esquerda no Sul, Olívio não é considerado pelas alas minoritárias um
"quadro orgânico" seu. O deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) e o vice-governador
gaúcho, Miguel Rossetto, são citados como mais próximos da esquerda petista. "É importante a
participação da esquerda no ministério para mostrar que somos
bons de administração também e
não apenas de crítica", diz o deputado federal eleito Chico Alencar
(RJ), outro líder do grupo.
Candidata a estrela do PT "radical" na próxima legislatura da Câmara dos Deputados, a gaúcha
Luciana Genro diz que a esquerda
tem legitimidade para reivindicar
espaço no governo, apesar de ressalvar que não espera participação de seu grupo, o pequeno Movimento de Esquerda Socialista.
Ela admite que não seria "confortável" para a ala minoritária dividir assento no ministério com lideranças do PL, por exemplo.
Na reunião do diretório, os esquerdistas do PT também devem
propor que, caso não sejam contemplados com ministério, tenham direito pelo menos à presidência da Câmara ou à liderança
do partido. Nestes casos, o nome
mais forte hoje é o de Walter Pinheiro (BA).
(FÁBIO ZANINI)
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