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País pode rever concessões, diz Cepal
CLAUDIA ANTUNES
ENVIADA ESPECIAL AO CHILE
O Brasil e outros países da América Latina podem aproveitar precedentes jurídicos dos EUA e da
Inglaterra para adaptar os contratos de concessão de serviços públicos às novas realidades de suas
economias, restabelecendo o
equilíbrio entre o interesse das
empresas e o interesse social.
A opinião foi exposta pelo assessor da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina)
para a legislação de água e serviços públicos, o economista Miguel Solanes, quando questionado sobre a intenção do presidente
eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, de
rever o cálculo de reajustes das tarifas de energia elétrica.
Para Solanes, esse tipo de revisão "não necessariamente quebra
contratos, desde que sejam levados em conta antecedentes de direito comparado e interno".
"Nos EUA, se aceitou regulamentação posterior [à assinatura
de contratos", revisão de contratos. Ficou estabelecido que as empresas não têm direito a um lucro
fixo, mas a um lucro razoável. Em
épocas de depressão da economia, se aceitou inclusive que as tarifas têm de baixar, porque uma
economia que não cresce não pode pagar tarifas em alta", disse.
Como exemplos da situação, ele
citou a Grande Depressão americana, nos anos 30.
De acordo com o economista,
os países da América Latina, que
nos anos 90 iniciaram o processo
de privatização dos serviços públicos, "não tiveram acesso à melhor informação possível" sobre a
regulamentação desses serviços.
Por isso, disse, na maioria dos
casos, a legislação é pouco transparente e "enfatiza a segurança
unilateral e contratual dos investimentos privados, mesmo que as
condições mudem".
Solanes citou o caso da Argentina, onde as concessionárias exigiram grandes aumentos de tarifas
depois da desvalorização do peso.
"Enquanto a atividade econômica
decai e a população sofre, as empresas de serviços reivindicam
aumento pleno e atualizado."
O problema, reconheceu o economista, é que nem sempre a discussão sobre revisão ou regulamentação posterior de contratos é
jurídica. "Muitas vezes, é política.
Se um país está dependendo de
créditos externos, a menos que as
tarifas subam os empréstimos
não vão chegar, e o governo acaba
flexibilizando suas posições".
Para Solanes, é preciso haver
mudança de posição de organismos de financiamento, como o
Banco Mundial e o FMI (Fundo
Monetário Internacional). "Numa economia global não pode haver membros que não estejam recebendo serviços adequados. Esses organismos não são meramente contábeis ou financeiros,
mas têm papel importante na governabilidade e estabilidade."
Ele salientou também que é importante que o FMI deixe de aplicar limites de endividamento a
empresas ligadas a atividades essenciais. Hoje, os acordos do Fundo com o Brasil contabilizam os
investimentos das empresas de
serviços como dívida. Mudanças
na metodologia já foram defendidas publicamente pelo presidente
Fernando Henrique Cardoso.
Solanes é um dos participantes
de um seminário sobre recursos
hídricos promovido na sede da
Cepal, em Santiago, pela Comissão e pelo Banco Mundial.
Encontro
O secretário-geral da Cepal, José
Antonio Ocampo, defendeu ontem, ao se reunir com Luiz Inácio
Lula da Silva, que os países latino-americanos apresentem proposta
conjunta para a criação de um
mecanismo de moratória negociada, ao qual possam recorrer
países em crise de insolvência.
Na segunda-feira, Ocampo já
havia defendido a proposta, que
vem sendo discutida há um ano,
por iniciativa dos Estados Unidos.
Mas afirmou que, diferentemente
do que defende o governo americano, o mecanismo não deveria
substituir os pacotes de ajuda do
FMI, mas complementá-los.
A Cepal foi a principal escola de
pensamento econômico na América Latina até o início dos anos
80. Com o fracasso social das políticas de abertura comercial e financeira dos anos 90, a Cepal volta a ganhar importância.
Na sede da Cepal -um edifício
modernista, projetado por Emilio
Duhart, discípulo de Le Corbusier, inaugurado na década de 60,
trabalharam brasileiros como
FHC, em seu exílio no Chile, e Celso Furtado -cujo nome batizará,
segundo anunciou ontem Ocampo, a sala em que o secretário-geral se reuniu com Lula.
A jornalista CLAUDIA ANTUNES viajou
a Santiago a convite da Cepal e do Banco
Mundial
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