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OPERAÇÃO ANACONDA
Eldo Saraiva Garcia é suspeito de ter recebido cerca de R$ 100 mil de suposta quadrilha de venda de sentenças
Delegado da PF surge em contas de esquema
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Operação Anaconda descobriu que mais um delegado da Polícia Federal de São Paulo mantinha relações com a suposta quadrilha acusada de venda de sentenças: trata-se de Eldo Saraiva
Garcia. A PF, com base em documentos apreendidos, concluiu
que ele recebeu cerca de R$ 100
mil por serviços prestados ao grupo que teria como mentor o juiz
João Carlos da Rocha Mattos.
Garcia, segundo análise do setor
de Inteligência da Polícia Federal,
é o personagem tratado pelo codinome Qüem Qüem no livro-caixa
apreendido no escritório do advogado Affonso Passarelli Filho,
na cidade de São Paulo.
Dois pagamentos a Qüem
Qüem foram encontrados no livro-caixa, nas páginas 55 e 61. Foram feitos em 11 e 23 de setembro
de 2002 e somam cerca de R$ 100
mil, de acordo com o relatório do
setor de Inteligência. A Folha revelou em 21 de novembro que um
pagamento de US$ 5.000 a Qüem
Qüem havia sido contabilizado
no livro-caixa.
Os peritos da PF descobriram
que Qüem Qüem é Garcia a partir
de uma simples consulta no celular do delegado José Augusto Bellini e na agenda do agente da PF
César Herman Rodriguez, ambos
presos. Na agenda do celular de
Bellini, havia o codinome Qüem
Qüem e um número. Na agenda
eletrônica de Rodriguez, o mesmo número aparecia junto ao nome de Eldo Saraiva Garcia.
Desvio do túnel
O registro dos US$ 5.000 pagos a
Qüem Qüem aparece abaixo de
um pagamento de US$ 15 mil a
AAC (identificado pela PF como
sendo o subprocurador da República Antônio Augusto César).
Logo acima da sigla AAC está
contabilizada uma entrada de
US$ 30 mil, feita por Lavicem. O
Ministério Público acusa o consórcio CBPO-Constran de ter usado a Lavicen (com ene, e não com
eme) para desviar R$ 100 milhões
durante a construção do túnel
Ayrton Senna, a principal obra do
prefeito Paulo Maluf em sua última gestão à frente da prefeitura
paulistana (1993-1996).
Um dos supostos sócios da Lavicen é um sapateiro aposentado
da região metropolitana de Curitiba que nem sabia que tinha uma
empresa de aluguel de tratores e
máquinas pesadas.
A CBPO afirma que a Lavicen
não é uma empresa usada para
desviar recursos da obra e que
prestou os serviços contratados
por ela: a locação de máquinas e
tratores para a abertura do túnel.
Caso Paubrasil
O delegado Garcia atuou em casos famosos nos últimos dez anos.
Ele investigou, por exemplo, a
Paubrasil Engenharia e Montagens, que arrecadou irregularmente US$ 19 milhões para as
campanhas de Paulo Maluf em
1990 e 1992, como reconheceu à
PF um dos sócios da empresa, o
pianista João Carlos Martins.
Foi por decisão de Garcia que
Martins, Calim Eid (acusado de
ser um dos caixas de Maluf) e Flávio Maluf, filho do ex-prefeito, foram indiciados sob acusação de
formação de quadrilha, sonegação fiscal e falsidade ideológica.
Garcia era dado a rompantes.
Em 1993, obrigou Calim Eid
(1923-1999) a copiar três vezes a
carta-testamento de Getúlio Vargas para um exame grafotécnico
-queria confrontar a caligrafia
com a contabilidade feita em cadernos apreendidos na sede da
Paubrasil, os quais Eid dizia nunca ter visto.
O delegado também atuou na
CPI dos Precatórios, a qual concluiu que os governos de Santa
Catarina, Alagoas, Pernambuco e
dos municípios de São Paulo,
Guarulhos, Osasco e Campinas tiveram um prejuízo de pelo menos
R$ 237,9 milhões com emissão irregular de títulos públicos. Os ex-prefeitos Paulo Maluf e Celso Pitta
eram acusados de participar do
esquema em São Paulo -o que
ambos negam.
O senador Eduardo Suplicy
(PT-SP) elogiou a atuação do delegado Garcia na CPI dos Precatórios. Em texto que está no site do
Senado, sob o título "A CPI dos
Precatórios começa a ter suas
consequências na Justiça", Suplicy escreveu: "As informações
obtidas com os depoimentos colhidos na Polícia Federal de São
Paulo, sob a coordenação do delegado Eldo Saraiva Garcia, foram
fundamentais para ajudar-nos a
montar o quebra-cabeça dessas
operações". O senador também
elogia as investigações de Paulo
Lacerda. Hoje, Lacerda dirige a PF
e Garcia é suspeito de receber R$
100 mil de uma quadrilha.
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