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Conversa é evidência de caixa 2 de petista
Em diálogo obtido pela PF, o deputado eleito Juvenil Alves, que está preso, cita arrecadação maior que valor declarado ao TRE
Ministério Público Eleitoral reúne documentos para comprovar irregularidades da campanha do petista como omissão de doações
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA EM BELO HORIZONTE
"A nossa campanha já está
em quase 5 milhões, quem arruma dinheiro sou eu, sô", reclamou, ao telefone, o advogado tributarista e então candidato a deputado federal pelo PT
Juvenil Alves, preso preventivamente, acusado de "blindagem patrimonial", "lavagem de
dinheiro" e outros crimes, na
Operação Castelhana.
Seu interlocutor era o deputado estadual petista Durval
Ângelo, líder católico e defensor dos direitos humanos, que
fez dobradinha com Juvenil
nas eleições. Eles foram flagrados ao telefone, combinando
um evento para arrecadar
R$ 300 mil para boca-de-urna,
prática ilegal.
Os dois ex-seminaristas em
Juiz de Fora no final dos anos
70 não sabiam que as conversas
estavam sendo gravadas pela
Polícia Federal. Como Juvenil
só prestou contas ao Tribunal
Regional Eleitoral de despesas
de R$ 415,2 mil, ou seja, 8,3%
daquele valor citado no telefonema, o diálogo foi apontado
pelo Ministério Público Eleitoral como uma das evidências de
caixa dois na campanha.
O MPE ofereceu à Justiça vários documentos a título de
comprovar omissão de doações, maquiagem de despesas,
contabilidade paralela e gastos
não-declarados de R$ 1 milhão.
A apreensão de manuscritos
listando contribuições não-informadas à Justiça eleitoral
surpreendeu empresas doadoras e lideranças católicas.
Juvenil fez dobradinha, ou
seja, compartilhou receitas,
despesas e pedidos de votos,
com vários candidatos do PT e
de outras legendas. Agora, todos terão suas contas reexaminadas pela Justiça Eleitoral.
Ele é genro de Carlos Carneiro Costa, presidente da Construtora Líder. Para o Ministério Público Federal, "confirmando a existência de caixa
dois", há valores que seriam repassados pela "sra. Viviane",
aparentemente irmã do deputado, e pela "dra. Liliane", possivelmente sua mulher.
Doações ocultas
O MPE acredita que Juvenil
injetou recursos próprios na
campanha, sem o registro obrigatório, e que houve arrecadação anterior à data permitida
para captação. Doações ocultas
no total de R$ 460 mil, "repassadas aos poucos", foram registradas sob o código "Terrazzo".
Seria uma referência ao "Terrazzo Esmeralda", empreendimento luxuoso em Belo Horizonte, construído pela Líder.
Nos manuscritos apreendidos, há doação de R$ 100 mil da
Cyrela (registrada em nome da
AIB Associação Imobiliária
Brasileira, segundo a empresa).
Há duas contribuições de R$ 25
mil da Alcicla, de reciclagem de
alumínio, de Contagem (estão
na prestação de contas, o que,
segundo o MPE, dá credibilidade às anotações informais).
Aparecem também nomes
que não constam na prestação
de contas, como Andrade Gutierrez (R$ 80 mil) e SNC (quatro citações com valores que
variam de R$ 30 mil a R$ 400
mil). A SNC Indústria de Cosméticos Ltda., detentora da
marca Kanechomn, está envolvida no inquérito da PF sobre
blindagem patrimonial.
Uma planilha intitulada "Receita Líder/Só Cimento/J.M./
Emifor" indica receitas de
R$ 734 mil sem registros na
prestação de contas. A "Receita
Pif Paf" refere-se a depósito
bancário de R$ 537.360,39. A
Pif Paf Alimentos também está
envolvida no inquérito da PF.
Dos trabalhos da Gráfica Del
Rey para a campanha, foram
declarados à Justiça Eleitoral
gastos de R$ 131.130, mas os
manuscritos indicariam despesas de R$ 608.254. Suspeita-se
que doadores da campanha pagaram diretamente a fornecedores. E que os escritórios de
Juvenil também emitiram notas como sendo de serviços
prestados aos doadores.
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