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Para isentar tucano, Toffoli usa defesa dos petistas no mensalão
Ministro alega que o fato de ocupar a chefia do Executivo não
significa envolvimento com irregularidades de subordinados
Eros Grau defende que, para aceitar a denúncia contra Eduardo Azeredo, Supremo deveria ter feito o mesmo com Lula no mensalão do PT
RANIER BRAGON
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ex-advogado do PT e indicado a cargo no STF (Supremo
Tribunal Federal) pelo presidente Lula, o ministro José Antonio Dias Toffoli votou ontem
a favor do ex-governador tucano Eduardo Azeredo (MG),
usando o mesmo argumento
que petistas defendiam no caso
do mensalão federal.
Ou seja, que o simples fato de
ocupar a chefia do Executivo,
como sustentou Toffoli ontem
no julgamento, não significa,
por si só, envolvimento com
eventuais irregularidades de
seus subordinados.
"A peça acusatória, sem especificar de modo concreto a participação do investigado, atribui-lhe objetivamente responsabilidade pelos eventos tidos
como delituosos pelo fato de
ser ele à época governador de
Minas Gerais", disse Toffoli ontem na leitura de seu voto.
Segundo o ministro, a denúncia do Ministério Público
não estabeleceu vínculo de
Azeredo "com a prática do crime" e, portanto, "meras suspeitas" não podem ser suficientes
para a abertura de processo.
Durante o escândalo do mensalão, o PT argumentou que o
presidente Lula não poderia ser
responsabilizado por eventuais
desvios cometidos por integrantes do governo.
Esse mesmo argumento foi
utilizado ontem pelo ministro
Eros Grau para rechaçar as
acusações. Ele afirmou que se a
denúncia fosse aceita contra
Eduardo Azeredo, o mesmo deveria ter ocorrido com o presidente Lula no caso federal.
Em 2007, o STF aceitou denúncia do Ministério Público
Federal e abriu processo contra
40 pessoas acusadas de envolvimento no esquema, entre
eles o ex-ministro da Casa Civil
José Dirceu, e o ex-presidente
do PT José Genoino.
Procurador-geral da República à época, Antonio Fernando de Souza não incluiu Lula no
rol dos acusados: "Não há referência ao presidente Lula que
possa ser tomada como elemento capaz de justificar uma
ação penal", disse na ocasião.
"Eeeeiiitaaaa!"
Ao defender no julgamento
de ontem suas posições, Toffoli
foi por várias vezes interrompido e criticado pelo ministro
Joaquim Barbosa, relator do
caso. Na primeira vez, ele disse
que Toffoli fazia "comparações
impertinentes [entre campanhas diferentes]".
Na segunda, afirmou: "Nesta
fase, não se julga ninguém. Até
agora me parece que o senhor
não me ouviu, não leu o meu
voto e não leu os autos". Em
uma terceira e rápida intervenção, exclamou, no meio do plenário: "Eeeeiiitaaaa!".
"Apresentei inúmeros indícios, indícios gravíssimos contra o acusado. O caso tem diversas semelhanças com o mensalão federal. O modus operandi é
o mesmo e, nesse caso, é patente a utilização de recursos públicos", disse Barbosa.
Outros ministros também fizeram relações com o caso do
mensalão federal, sempre afirmando que os casos são muito
semelhantes. Ricardo Lewansowski, por exemplo, chegou a
afirmar que a denúncia contra
alguns acusados daquele esquema foi recebida pelo STF
pela presença de indícios "muito mais tênues do que aqueles
apresentados contra Azeredo".
Ao final de seu voto, Toffoli
rebateu a crítica de Barbosa segundo a qual não era essa a fase
para analisar a veracidade das
provas: "Essa fase existe, sim,
para uma deliberação do órgão
julgador. Ela não passa simplesmente por bater carimbo
na denúncia, mas para analisá-la. Senão, não seria necessária
essa fase de julgamento".
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