São Paulo, sábado, 05 de janeiro de 2008

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Dirceu diz que trabalha para Slim

Ex-ministro afirma à revista "Piauí" que presta consultoria ao mexicano que controla Embratel e Claro

Segundo reportagem, ele disse que caixa 2 pagou sede do PT-RS e criticou filho de Lula; ontem, Dirceu negou ter se referido a Lulinha

Jason DeCrow - 27.set.07/Associated Press
O empresário mexicano Carlos Slim, em evento em Nova York


FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REDAÇÃO

O ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu confirmou que tem como clientes de sua consultoria os mexicanos Carlos Slim, presidente do grupo que controla Embratel e Claro no Brasil, e Ricardo Salinas, do banco Azteca.
A afirmação está em reportagem da revista "Piauí" deste mês. A entrevista também gerou polêmica no PT. Segundo a revista, ele disse que recursos de caixa dois financiaram a construção da sede estadual do partido em Porto Alegre.
Na reportagem, a revista descreve os negócios de Fabio Luiz da Silva, filho do presidente Lula, com a Telemar e diz que Dirceu contara que Lulinha inventava frases suas e dizia que estivera em reuniões das quais nunca participou. "O Lulinha pegava pesado."
Ontem, Dirceu negou que falasse do filho de Lula e de sua empresa, a Gamecorp. Segundo ele, referia-se ao jornalista Luis Costa Pinto. "Estava falando de uma matéria que foi feita do Luis Costa Pinto que era sem pé nem cabeça e eu fui até o Lula para criticar tudo. O Lula não quis saber. Para mostrar a tolerância do Lula com muitas coisas que acontecem na mídia e eu não tinha essa mesma paciência", disse à Folha.
Luis Costa Pinto afirmou que não trabalhava mais em redações quando Dirceu era ministro e não poderia ter escrito a reportagem. "Não li a entrevista nem a nota, mas poderia dizer: "Que que é isso, Zé Dirceu, está ficando louco?"
A reportagem diz que o petista tem 15 bons clientes. "O que eu queria com essa matéria é dar transparência à minha atividade de consultor", disse Dirceu à Folha. Questionado sobre ter confirmado pela primeira vez o nome de Slim, respondeu: "Eu já tinha falado".
Em 2006, ele havia dito à Folha: "Tenho relações com ele [Slim], estive com ele duas vezes, mas não dou consultoria, não tenho relações de trabalho com ele. O que não quer dizer que eu não possa vir a ter".
O ex-ministro declarou à "Piauí" que não é consultor de Slim no Brasil. "Eu disse a ele: "Don Carlos, aqui não.'" O mexicano- que se reuniu em outubro com o presidente Lula- controla a América Móvil, que está presente em países como Argentina, Chile, Colômbia, EUA e República Dominicana.

Desculpas
Ontem, Dirceu disse que não fez acusações relacionadas à compra da sede do PT em Porto Alegre. Pela manhã, em entrevista à rádio Gaúcha, pediu "desculpas pelos transtornos" que causou ao PT-RS. Olívio Dutra, presidente do PT estadual, disse aceitar as desculpas.
Em nota divulgada no fim do dia, em que afirmou haver oito erros na reportagem, Dirceu disse que se limitou "a repetir que ocorreram denúncias de que o prédio fora comprado com recursos ilegais e que a oposição falou em "sacos de dinheiro"", mas que "o PT gaúcho e os dirigentes alvo da denúncia foram absolvidos".
Segundo o ex-ministro, "no decorrer de todo o processo o Diretório Nacional do PT manteve apoio aos companheiros citados". Dirceu disse que quis destacar a diferença nesse caso e no mensalão. "O que destaquei à jornalista é que a recíproca não ocorreu e que, quando acusado, não recebi o mesmo tratamento de alguns dirigentes do PT gaúcho."
Na reportagem da "Piauí", o ex-ministro disse que "esse pessoal" procurava o então tesoureiro do partido, Delúbio Soares, peça central do escândalo do mensalão. "Chegava para o Delúbio e falava: "Delúbio, preciso de R$ 1 milhão". Como é que alguém vai arrumar esse dinheiro assim, de uma hora para outra?", disse.
"O pobre do Delúbio tinha que ir aos empresários conseguir doações. Aí, estoura o mensalão e esse pessoal vem dizer que o Delúbio era o homem da mala. O que não dizem é que a mala era para eles."
A revista afirma ainda que Dirceu jantou recentemente com Delúbio e o ex-ministro Antonio Palloci na casa de outro personagem do mensalão, o petista João Paulo Cunha. Dirceu negou ontem que Delúbio tenha participado do jantar.


Colaborou a Agência Folha, em Porto Alegre


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