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ANÁLISE
Processo de escolha está em risco
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com a inclinação da FAB pelo Gripen NG para reequipar
sua frota de caças, Lula ganhou
um belo nó para desatar em
meio à crise decorrente da tentativa do governo federal de colocar militares no banco dos
réus por conta de crimes ocorridos durante a ditadura.
Isso não significa que a escolha pró-Suécia tenha algo a ver
com a iniciativa. A decisão é um
processo de um ano inteiro.
Mas o "timing" é explosivo, por
colocar em rota de colisão frontal vontades civis e militares
num momento de confronto.
Mas se Lula vai pagar a conta,
a culpa é só dele. A sucessão de
trapalhadas a partir do anúncio
antecipado, sem ouvir a FAB,
da vitória do Rafale durante a
visita do francês Nicolas Sarkozy no 7 de Setembro passado
colocou o governo numa sinuca
de bico.
A cada declaração de Lula ou
Nelson Jobim (Defesa) sobre a
preferência pelo caro modelo
da Dassault, ficava mais evidente o problema político caso
a FAB decidisse optar tecnicamente pelo Gripen ou pelo F-18. Antecipando-se, Jobim pediu à FAB para evitar fazer um
ranking dos aviões.
O governo tentou convencer
o público de que tal pressão favoreceria uma redução no preço do Rafale, como numa negociação sindical. Mas não se baixa o preço de um caça significativamente, até porque ele não é
construído pelos governos, e
sim por empresas. E nisso, o
custo, a Saab sueca sempre esteve à frente com um avião menor e monomotor.
Agora, o ônus de uma opção
francesa será de Lula e Jobim.
A alegação está pronta: o Rafale
não foi descartado, tanto que
foi finalista do processo, e sua
escolha respeitaria a opção estratégica do Brasil pela França
como parceira militar -referendada no acordo de 2009.
Mas será difícil para os militares engolirem. E até aqui fóruns como o Congresso e o
TCU não foram devidamente
acionados, e o serão sobre um
negócio que pode passar dos R$
10 bilhões. O fato de um Rafale
custar o dobro de um Gripen,
embora sejam aeronaves com
características operacionais e
de produção distintas, certamente chamará atenção.
A decisão, contudo, é soberana de Lula por tratar-se de assunto de segurança nacional.
Jobim chegou a levantar eventuais questionamentos jurídicos na época do anúncio precipitado, mas ele na verdade se
referia à hipótese de algum
concorrente querer reapresentar sua proposta após a escolha
final, algo especulado por um
competidor da primeira disputa dos caças, o F-X.
Na prática, a escolha é final.
Politicamente, contudo, ela pode ser revista no futuro, e o governo Lula acaba neste ano.
Todo esse cenário conflituoso lembra o que antecedeu o
fim, por outro motivos, do F-X
-adiado em 2002 por FHC e
enterrado por Lula. Como naquela ocasião, a combinação
fim de governo e diversas variáveis em choque favorece uma
postergação. É tudo o que temem militares e concorrentes.
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