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ESTADO
Governador de Minas diz que acerto com União é apenas "técnico"
Itamar e Tesouro assinam
acordo, e moratória acaba
CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
RANIER BRAGON
da Agência Folha, em Belo Horizonte
O governador Itamar Franco,
sem partido, ex-PMDB, e o secretário do Tesouro Nacional, Fábio
Barbosa, assinaram ontem o
acordo que põe fim, após quase 13
meses, à moratória mineira.
Em pronunciamento de dez minutos após a assinatura, Itamar
voltou a criticar a União, frisou
que o acerto é "técnico" e expôs as
razões que o levaram a decretar a
moratória, em 6 de janeiro de 99.
Segundo ele, era impossível administrar o Estado e pagar a dívida ao mesmo tempo. "O Plano
Real, lançado por mim, assegurou
a estabilidade monetária. Para
mantê-la, o governo que me sucedeu teria de fazer as reformas tributária e fiscal, mas o projeto da
reeleição e o atendimento dos interesses internacionais não permitiram isso."
Esse fato, segundo ele, fez com
que Estados e municípios quebrassem. "Minas era a expressão
do desespero", afirmou.
Os detalhes técnicos do acordo
serão apresentados hoje pela procuradora-geral do Estado, Misabel Derzi, e pelo secretário da Fazenda, José Augusto Trópia Reis.
O secretário adiantou ontem
que o Estado irá pagar no dia 10 a
segunda parcela dos eurobônus
(títulos estaduais lançados no
mercado europeu em 1994), no
valor de US$ 108 milhões.
Como compensação, não precisará saldar neste mês a parcela (de
R$ 60 milhões) da dívida de cerca
de R$ 19 bilhões com a União e,
em março, só pagará a metade.
Após isso, os pagamentos voltam
ao normal. O prazo para saldar o
débito é de 30 anos.
Em contrapartida, a União interromperá os bloqueios dos recursos do Estado, que chegam a
R$ 842 milhões.
Pelo acerto, fechado nesta semana pela procuradora Misabel
Derzi, Minas efetuará o depósito
por meio de créditos que receberia da União referentes a títulos da
carteira habitacional da Minascaixa (banco estatal mineiro liquidado em 1991).
O Tesouro Nacional confirmou
que a Caixa Econômica Federal
comprou os créditos de FCVS
(Fundo de Compensação das Variações Salariais) da Minascaixa
como parte do acordo entre Minas e a União.
Uma nota do Tesouro Nacional
sobre o acordo diz que a venda
dos créditos aconteceu ""em bases
estritamente comerciais", mas
não revela o valor dos créditos e o
desconto aceito pela Caixa.
Segundo a nota, foram assinados quatro contratos com o Estado. O Tesouro se comprometeu a
adquirir a Casemg (Companhia
de Armazéns e Silos de Minas Gerais), a Ceasa (central de abastecimento) e outros ativos para que o
Estado possa quitar uma parcela
de sua dívida com a União.
Segundo o secretário do Tesouro Nacional, Fábio Barbosa, essa
parcela era de R$ 480 milhões no
final do ano passado. As duas empresas serão repassadas por R$
331,9 milhões para o Tesouro.
A nota do Tesouro ainda diz
que Minas Gerais se comprometeu a desistir da ação que questiona o refinanciamento de dívidas
do Estado com a União feitas pelo
ex-governador Eduardo Azeredo.
O motivo que apressou o desfecho das negociações, iniciadas em
maio passado, foi a ameaça feita
pelo governo federal de não pagar
a segunda parcela de eurobônus.
Na semana passada, Itamar havia
dito que não tinha recursos para
quitar o débito.
O governo mineiro contava
com a possibilidade de que a
União repetiria a atitude de fevereiro do ano passado, quando saldou quase metade (US$ 53,1 milhões) do valor da primeira parcela dos títulos, para não afetar a
credibilidade do país no mercado
financeiro internacional.
Na época, o governo federal entendeu que a situação econômica
era delicada e fez a complementação, apesar de não ser avalista da
emissão dos eurobônus.
Agora, a avaliação era a de que o
calote só traria prejuízos ao Estado, que perderia recursos de financiamentos externos.
Com o acordo, Minas vai ressarcir a União pelo pagamento da
primeira parcela, em 30 vezes.
A Agência Folha apurou ontem
que já está pronto o documento
em que a Procuradoria Geral do
Estado desiste da ação que move
contra o governo federal, que será
enviado ao Supremo Tribunal Federal na próxima segunda-feira.
Segundo a procuradora Misabel, não há razão para pedir o fim
dos bloqueios, se eles não forem
mais feitos pelo governo federal.
Itamar afirmou que não descarta
a hipótese de voltar a recorrer ao
STF, se julgar necessário.
Parte da moratória mineira já
havia sido encerrada em setembro passado, quando Itamar
anunciou a retomada dos pagamentos aos organismos internacionais de fomento Bird (Banco
Mundial) e BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Aliados
Dirigentes do PT mineiro disseram ontem que o possível fim da
moratória não compromete a formação de uma frente de centro-esquerda para as eleições municipais deste ano no Estado.
Colaborou Sílvia Mugnato, da Sucursal de
Brasília
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