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AJUSTE PETISTA
Posição final sobre contingenciamento fica para a próxima semana
Disputa interna faz governo adiar a decisão sobre cortes
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro do Planejamento,
Guido Mantega, disse que a decisão sobre a programação de gastos do Orçamento de 2004 foi
adiada para a semana que vem
porque o governo quer "examinar melhor o comportamento da
receita". O ministro afirmou ainda não saber se será possível manter as metas de investimentos.
Mantega não quis falar em cortes, mas disse que ainda não pode
garantir os investimentos de R$ 12
bilhões previstos pelo Congresso.
A proposta do governo previa R$
8 bilhões. "Acho que o Congresso
fez uma projeção otimista, e nossa
obrigação é tentar viabilizar, mas
não sei se é viável", afirmou, depois de se reunir com o ministro
Antonio Palocci Filho (Fazenda).
No final do ano passado, a avaliação do governo era que os congressistas haviam sido "realistas".
Ontem, a Folha revelou que Palocci tem a intenção de bloquear
"preventivamente" cerca de R$ 4
bilhões dos R$ 12 bilhões previstos para investimentos no Orçamento deste ano. Mantega, com
apoio do ministro José Dirceu
(Casa Civil), era contra bloquear
agora. A falta de consenso levou o
governo a adiar a publicação no
"Diário Oficial" do decreto de
programação financeira que estava previsto, segundo o próprio
Mantega, para amanhã.
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva pretendia discutir a situação
orçamentária já na primeira reunião ministerial de 2004, amanhã.
Ontem pela manhã, o secretário
do Tesouro Nacional, Joaquim
Levy, esteve com os deputados da
Comissão de Finanças e Tributação numa reunião de rotina. Mas
o presidente da Comissão, Eliseu
Resende (PFL-MG), disse que o
secretário confirmou o corte de
R$ 4 bilhões. Levy não quis falar
com a imprensa após a reunião.
Outro deputado presente, Luiz
Carlos Hauly (PSDB-PR), no entanto, contou que Levy não teria
mencionado o valor. Segundo
Hauly, Levy teria dito que está
"confortável" com a execução orçamentária e que o contingenciamento, se houver, seria "conservadorismo, excesso de zelo".
O fato é que a LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) define que
os cortes devem ser resultado de
uma decisão técnica: se as receitas
são duvidosas, a programação de
gastos deve ser menor que o total
previsto no Orçamento da União
para garantir as metas fiscais.
Caso contrário, o governo poderia passar a idéia de que preferiu administrar os gastos na "boca
do caixa", como ocorria até a LRF
ser editada em 2000. Ou seja, o Tesouro libera quando acha que dá.
Hauly elogiou os números de
2003 e disse que um corte de R$ 4
bilhões num Orçamento de mais
de R$ 400 bilhões representa só
1%. "Fizemos em 2003 um superávit [receitas maiores que despesas, exceto pagamento de juros]
equivalente a 10% da dívida líquida. É um esforço significativo."
Mantega esteve reunido ontem
com Palocci, mas disse que eles
conversaram sobre a redução dos
gastos com custeio do governo.
O ministro disse que essa redução será prioridade em 2004, mas
não deu metas. "Haverá um grande esforço de eficiência da máquina pública, reduzir o custeio para
garantir os investimentos." Como
exemplos, citou as compras eletrônicas e a mudança de procedimentos administrativos.
Mantega afirmou que a mudança da expectativa de crescimento
econômico de 3,5% para 4% feita
pelos congressistas "não é muito
diferente" do que o governo pensa. Mas disse que ainda não é possível confirmar o aumento de receita com a Cofins que o Congresso estimou. Segundo ele, a receita
da Cofins está sendo reavaliada.
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