São Paulo, quarta, 5 de fevereiro de 1997.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTIGO
Radicalismo escondia generosidade e humor

JOSÉ LINO GRÜNEWALD
especial para a Folha

Paulo Francis era um ícone de nossa cultura. ``Fairplay'', iconoclasta, intransigente, humorista, solidário e sarcástico. Esquerda & direita. Filósofo, Wittgenstein, grande jornalista, cinema, teatro, literatura. Gastronomia.
Éramos editorialistas políticos do ``Correio da Manhã'', entre 1966 e 1969, quando o velho ``Correio'' afrontava a ditadura e até uns princípios moralistas da época.
Editamos juntos o 4º caderno, que era um caderno cultural em que, pela primeira vez, misturavam-se artigos políticos com artigos estéticos. Em 1967, ele foi o diretor da revista ``Diners'', de alto gabarito cultural. Dirigiu o ``Pedro Mico'', de Antonio Callado, com Milton Moraes. Por tudo isso, foi um marco de nossa cultura.
Paulo Francis foi sempre amigo dos amigos, jamais roeu a corda.
Ele podia parecer antipático, por seu radicalismo, mas as pessoas não conheciam o seu fairplay, a sua bonomia e a sua generosidade.
Ele, quando na fase final começou a fazer suas páginas, marcou uma certa atitude cultural e foi sempre dialético. Ele reconhecia os erros, não era o dono da verdade, como aparentava para os adversários políticos.
Eu e ele vivíamos com nossos drinks, nossos papagaios e nossas óperas. E isso era um paraíso.


José Lino Grünewald é poeta, tradutor e ensaísta. Acaba de lançar o livro ``Pedra de Toque da Poesia Brasileira''.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright 1996 Empresa Folha da Manhã