São Paulo, domingo, 05 de março de 2000


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CELSO PINTO
Uma liquidação lucrativa

O Banco Econômico foi liquidado, em agosto de 1995, porque devia R$ 2,5 bilhões ao Banco Central. No ano passado, só com a desvalorização cambial, o que restou do Econômico ganhou R$ 2,5 bilhões.
O milagre se explica porque o Econômico acabou acumulando R$ 12 bilhões em títulos da dívida pública em seus ativos, segundo seu fundador, Ângelo Calmon de Sá. Cerca da metade destes títulos são papéis federais indexados ao dólar. A desvalorização foi uma bênção para as contas da massa falida: os ganhos foram de R$ 2,5 bilhões, contabilizando os papéis pelo valor de face, ou R$ 2 bilhões, pelo valor de mercado, diz ele.
Graças a uma situação paradoxal, criada pelas regras da liquidação, hoje o Econômico é um banco que tem R$ 1,6 bilhão em caixa. Vai receber, este ano, R$ 700 milhões em juros pagos pelo governo federal pelos papéis que o banco possui, metade dos quais em "cash", segundo Calmon de Sá.
Como um banco teoricamente falido conseguiu gerar tanta receita? Depois de liquidar o Econômico, o BC vendeu alguns ativos, como sua carteira de créditos imobiliários, para gerar caixa. Com o dinheiro, comprou títulos públicos com enorme deságio, que foram dados como garantia de empréstimos do Proer, o programa de ajuda aos bancos.
A parte "boa" do Econômico foi vendida para o Excel. A parte "ruim" ficou com o BC. Só que muitos dos que eram então títulos "podres" do governo acabaram se recuperando e sendo pagos. Os enormes deságios em papéis federais se reduziram. Finalmente, a desvalorização cambial gerou um extraordinário lucro extra para os títulos indexados ao dólar que estavam na carteira do banco.
Acima de tudo, o Econômico é um grande beneficiário das regras de falência. Suas dívidas são corrigidas pela Taxa de Referência, sem juros, enquanto os títulos que estão em sua carteira rendem a inflação, ou a desvalorização cambial, mais juros. Um fantástico negócio para quem faliu: quanto mais tempo passa, menor fica o buraco. A certa altura, o buraco pode desaparecer e virar sobra de caixa, beneficiando os antigos acionistas.
As regras de falência já foram mais absurdas: na década de 70, a dívida não tinha correção alguma e, com a inflação, sumia, enquanto os ativos engordavam. De todo modo, a solução da liquidação extrajudicial sempre esteve muito longe da ideal, no setor financeiro, razão pela qual acabou-se criando o Proer.
No caso do Econômico, o banco ainda não saiu do vermelho, mas fica cada vez mais próxima a hipótese de transformar a liquidação extrajudiciária em liquidação ordinária. Quem ganharia com isso?
O primeiro beneficiário seria Calmon de Sá, que se livraria da indisponibilidade de bens. Ele argumenta, contudo, que o governo federal também teria muito a ganhar. Liquidaria, de uma penada, R$ 12 bilhões da dívida interna e deixaria de pagar R$ 700 milhões em juros anuais ao Econômico.
Na verdade, ainda existem pendências a resolver no BC envolvendo o Econômico. Calmon de Sá argumenta, contudo, que, quando forem vendidas as participações do antigo grupo Econômico na Norquisa (do pólo petroquímico de Camaçari) e na Açominas, provavelmente a conta deve zerar. Ele estima a receita com essas vendas em R$ 700 milhões.
Seria justo? Quer o Econômico continue sob liquidação extrajudicial, quer passe para um processo ordinário, isso não acabaria com os 28 processos a que Calmon de Sá está respondendo na Justiça. Inclusive os de desvio de recursos para o exterior. Ele e os outros dirigentes do banco continuariam responsabilizáveis por qualquer irregularidade que seja provada na Justiça.
Saber se Calmon de Sá e os outros acionistas do Econômico acabarão embolsando algum no final do processo é difícil dizer, a essa altura. O que parece certo é que, quanto mais tempo passar, maiores serão as chances de os antigos acionistas levarem algum.

Internet no governo
O Banco Mundial está interessado em discutir com o Brasil programas de cooperação numa área muito importante: como evitar que o setor público fique muito atrás do setor privado na absorção de novas tecnologias. Quanto mais rápido o setor privado dá saltos, especialmente no uso da informática e da Internet, maior é o risco de abrir um fosso em relação ao setor público.
O Bird tem experiência em programas desse tipo em várias regiões, lembra seu diretor no Brasil, Gobind Nankani. Os sucessos na área de nova tecnologia não se limitam aos países desenvolvidos. Nankani cita o caso da Índia, que hoje já exporta US$ 3 bilhões ao ano em software, um item que tem crescido em torno de 40% ao ano, nos últimos anos.



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