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ELEIÇÕES 2000
Deputados pretendem disputar prefeituras
Pré-candidatos dão
R$ 261 mi às bases
LUCIO VAZ
da Sucursal de Brasília
Certos de que "o povo quer saber é de obras", 94 deputados pré-candidatos a prefeito nas eleições
municipais de outubro próximo
destinaram mais de R$ 261 milhões do Orçamento da União para atender suas bases eleitorais.
Cerca de R$ 34,8 milhões serão
pulverizados em 214 emendas individuais para financiar pequenas
obras de interesse tipicamente
eleitoral, como postos de saúde e
quadras esportivas.
As emendas coletivas, assinadas
pelas bancadas estaduais, atenderão grandes obras, principalmente nas capitais. Parte dessas emendas foi articulada pelos deputados-candidatos, que esperam recolher os primeiros dividendos
políticos na campanha de rua,
que começa em julho, e no horário gratuito de rádio e TV, a partir
de meados de agosto.
Na ânsia de atender os redutos
eleitorais, os parlamentares são
criativos ao negociar formas de
emendar o Orçamento. É assim
que nascem as emendas batizadas
como "rachadinhas" e "três em
um", por exemplo.
Há casos de deputados que
transformaram uma emenda coletiva em individual. José Múcio
Monteiro (PFL-PE) conseguiu direcionar uma emenda de bancada
de R$ 5 milhões para obras em Jaboatão dos Guararapes, onde deverá concorrer à prefeitura.
"Essa de Jaboatão é de minha
responsabilidade. Trabalhei por
todas, mas priorizei Jaboatão. A
gente fica como padrinho político
da emenda", explicou Monteiro.
Ney Lopes (PFL-RN) conseguiu
"carimbar" uma emenda de bancada para Natal. Questionado se
os recursos iriam para o porto de
Natal, respondeu: "Não. Essa é a
do Geraldo Mello (senador do
PSDB). A minha é a da infra-estrutura". Serão R$ 2,5 milhões para urbanização na periferia.
Mas nem todos destinaram recursos às bases. Roland Lavigne
(PFL-BA) reservou apenas R$ 200
mil para Ilhéus. "Nos anos anteriores, eu coloquei. Neste ano, eu
não iria colocar uma arma na
mão do meu adversário. Seria
burrice e hipocrisia", diz.
Alguns candidatos concentraram a maior parte da verba de R$
1,5 milhão no município onde
concorrem, e, embora todos os
anos façam emendas ao Orçamento, no período pré-eleitoral
aumentam os valores.
Edinho Araújo (PPS-SP) fatiou
R$ 840 mil em 14 emendas para
São José do Rio Preto. Vai atender
hospitais, menores carentes, deficientes, excepcionais e cegos.
"Sempre destinei emendas a
São José do Rio Preto. O hospital
da cidade atende a cem municípios. A cidade é uma capital regional", disse. Em 1999, porém, ele
destinou apenas R$ 220 mil.
Araújo explicou a mudança de
estratégia: "Fui percebendo que
só São José e a região me deram
mais de 70% da minha votação.
Então, procurei contemplar a região que me elegeu. Também fiz
emenda para Santa Fé (do Sul)".
Celso Jacob (PDT-RJ) mandou
11 emendas para Três Rios, onde
disputará a prefeitura. A reforma
de dois hospitais, a construção de
um centro comunitário e a aquisição de uma patrulha mecanizada
consumirão R$ 290 mil.
Mais R$ 325 mil serão usados na
canalização de córregos nos bairros Purys e Vila Isabel. Outros R$
75 mil serão pulverizados em reforma de postos de saúde em outros cinco bairros.
"É uma demonstração de carinho ao povo. O povo do interior
quer saber é de obras. Quer saber
o que você está fazendo pela cidade. As pessoas não sabem dos
projetos que estamos votando no
plenário", afirma Jacob.
Outra modalidade criada pelos
deputados para transformar
emendas coletivas em individuais
é a "rachadinha".
Os deputados aprovam uma
emenda genérica para saneamento, por exemplo, no valor de R$ 5
milhões. Depois, dividem a verba
entre eles e fazem a distribuição
entre os municípios de suas bases.
Deputados e senadores de Mato
Grosso fizeram várias "rachadinhas". Cada um deles coordena
uma emenda coletiva, mas as verbas são distribuídas entre todos.
Os R$ 50 milhões pleiteados pela bancada serão divididos entre
11 parlamentares.
O deputado Wilson Santos
(PMDB-MT), candidato a prefeito de Cuiabá, já sabe como usar a
sua fatia.
"A minha parte (R$ 4,5 milhões), eu vou dividir proporcionalmente aos votos da última eleição. Cerca de 50% vão para Cuiabá", disse Santos.
Sérgio Miranda (PC do B-MG)
critica essa fórmula. "É uma deformação da emenda coletiva,
que seria destinada a grandes
obras prioritárias. A verba da "rachadinha" é distribuída pelos critérios do Executivo. O governo libera para quem quer."
Já os deputados Éber Silva, Miriam Reid e Luís Eduardo (do
PDT do Rio) lideraram uma
emenda coletiva para a construção de hospitais no Estado.
Os R$ 3,5 milhões aprovados serão usados para construção de
hospitais em Campos, Macaé e
Belford Roxo, onde os três deputados disputam as eleições municipais em outubro. É a chamada
emenda "três em um".
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