São Paulo, domingo, 05 de março de 2000


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ELEIÇÕES 2000
Deputados pretendem disputar prefeituras
Pré-candidatos dão R$ 261 mi às bases

LUCIO VAZ
da Sucursal de Brasília

Certos de que "o povo quer saber é de obras", 94 deputados pré-candidatos a prefeito nas eleições municipais de outubro próximo destinaram mais de R$ 261 milhões do Orçamento da União para atender suas bases eleitorais.
Cerca de R$ 34,8 milhões serão pulverizados em 214 emendas individuais para financiar pequenas obras de interesse tipicamente eleitoral, como postos de saúde e quadras esportivas.
As emendas coletivas, assinadas pelas bancadas estaduais, atenderão grandes obras, principalmente nas capitais. Parte dessas emendas foi articulada pelos deputados-candidatos, que esperam recolher os primeiros dividendos políticos na campanha de rua, que começa em julho, e no horário gratuito de rádio e TV, a partir de meados de agosto.
Na ânsia de atender os redutos eleitorais, os parlamentares são criativos ao negociar formas de emendar o Orçamento. É assim que nascem as emendas batizadas como "rachadinhas" e "três em um", por exemplo.
Há casos de deputados que transformaram uma emenda coletiva em individual. José Múcio Monteiro (PFL-PE) conseguiu direcionar uma emenda de bancada de R$ 5 milhões para obras em Jaboatão dos Guararapes, onde deverá concorrer à prefeitura.
"Essa de Jaboatão é de minha responsabilidade. Trabalhei por todas, mas priorizei Jaboatão. A gente fica como padrinho político da emenda", explicou Monteiro.
Ney Lopes (PFL-RN) conseguiu "carimbar" uma emenda de bancada para Natal. Questionado se os recursos iriam para o porto de Natal, respondeu: "Não. Essa é a do Geraldo Mello (senador do PSDB). A minha é a da infra-estrutura". Serão R$ 2,5 milhões para urbanização na periferia.
Mas nem todos destinaram recursos às bases. Roland Lavigne (PFL-BA) reservou apenas R$ 200 mil para Ilhéus. "Nos anos anteriores, eu coloquei. Neste ano, eu não iria colocar uma arma na mão do meu adversário. Seria burrice e hipocrisia", diz.
Alguns candidatos concentraram a maior parte da verba de R$ 1,5 milhão no município onde concorrem, e, embora todos os anos façam emendas ao Orçamento, no período pré-eleitoral aumentam os valores.
Edinho Araújo (PPS-SP) fatiou R$ 840 mil em 14 emendas para São José do Rio Preto. Vai atender hospitais, menores carentes, deficientes, excepcionais e cegos.
"Sempre destinei emendas a São José do Rio Preto. O hospital da cidade atende a cem municípios. A cidade é uma capital regional", disse. Em 1999, porém, ele destinou apenas R$ 220 mil.
Araújo explicou a mudança de estratégia: "Fui percebendo que só São José e a região me deram mais de 70% da minha votação. Então, procurei contemplar a região que me elegeu. Também fiz emenda para Santa Fé (do Sul)".
Celso Jacob (PDT-RJ) mandou 11 emendas para Três Rios, onde disputará a prefeitura. A reforma de dois hospitais, a construção de um centro comunitário e a aquisição de uma patrulha mecanizada consumirão R$ 290 mil.
Mais R$ 325 mil serão usados na canalização de córregos nos bairros Purys e Vila Isabel. Outros R$ 75 mil serão pulverizados em reforma de postos de saúde em outros cinco bairros.
"É uma demonstração de carinho ao povo. O povo do interior quer saber é de obras. Quer saber o que você está fazendo pela cidade. As pessoas não sabem dos projetos que estamos votando no plenário", afirma Jacob.
Outra modalidade criada pelos deputados para transformar emendas coletivas em individuais é a "rachadinha".
Os deputados aprovam uma emenda genérica para saneamento, por exemplo, no valor de R$ 5 milhões. Depois, dividem a verba entre eles e fazem a distribuição entre os municípios de suas bases.
Deputados e senadores de Mato Grosso fizeram várias "rachadinhas". Cada um deles coordena uma emenda coletiva, mas as verbas são distribuídas entre todos.
Os R$ 50 milhões pleiteados pela bancada serão divididos entre 11 parlamentares.
O deputado Wilson Santos (PMDB-MT), candidato a prefeito de Cuiabá, já sabe como usar a sua fatia.
"A minha parte (R$ 4,5 milhões), eu vou dividir proporcionalmente aos votos da última eleição. Cerca de 50% vão para Cuiabá", disse Santos.
Sérgio Miranda (PC do B-MG) critica essa fórmula. "É uma deformação da emenda coletiva, que seria destinada a grandes obras prioritárias. A verba da "rachadinha" é distribuída pelos critérios do Executivo. O governo libera para quem quer."
Já os deputados Éber Silva, Miriam Reid e Luís Eduardo (do PDT do Rio) lideraram uma emenda coletiva para a construção de hospitais no Estado.
Os R$ 3,5 milhões aprovados serão usados para construção de hospitais em Campos, Macaé e Belford Roxo, onde os três deputados disputam as eleições municipais em outubro. É a chamada emenda "três em um".





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