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Americano enfrentará "corrida de obstáculos"
Bush visita "países amigos" na América Latina, mas em todos esbarrará em polêmicas
Brasil pedirá a derrubada da tarifa de importação ao álcool; já o México discutirá a construção de barreira na fronteira sul dos EUA
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Mesmo com o extremo zelo
tático com que o Departamento de Estado norte-americano
definiu o roteiro de seu presidente pela América Latina, todo concentrado nos "países
amigos", conforme definição
de Nicholas Burns, o número 3
da chancelaria, George W. Bush
deve esbarrar em alguns obstáculos no giro de sete dias.
O primeiro virá já no Brasil,
por onde ele começa a viagem,
na quinta-feira. Em São Paulo,
Bush deve criar tensão com o
governo Lula e o Itamaraty ao
apontar reservadamente o que
considera "ambigüidade" do
Brasil em relação ao venezuelano Hugo Chávez. Ouvirá ainda
do brasileiro o pedido de derrubada da tarifa de importação
cobrada pelos EUA ao álcool
combustível local, assunto considerado "fora da mesa de negociações" pelos EUA.
No Uruguai, a temperatura
se elevará pelo choque das regras do Mercosul e o tratado de
livre comércio que Washington
quer aprovar com o governo de
Tabaré Vázquez. Na Colômbia,
o obstáculo será a redução de
ajuda financeira antidrogas.
Por fim, no México, a questão
espinhosa será a recente aprovação pelo Congresso norte-americano da construção de
uma barreira na fronteira sul
dos EUA para tentar diminuir a
entrada de imigrantes ilegais e
traficantes de drogas e a chamada "crise das tortilhas", que
tem parte da culpa atribuída
aos agricultores de milho do
Meio-Oeste norte-americano
pelo mercado mexicano.
"Bush pode usar o tipo de diplomacia que quiser, mas Lula,
por exemplo, não vai tomar nenhuma posição contra Chávez,
de quem é aliado", afirmou à
Folha Mark Weisbrot, co-diretor do Center for Economic
and Policy Research, entidade
não-governamental liberal de
Washington.
Dinheiro e atenção
O presidente deve encontrar
ainda duas críticas semelhantes nos cinco países por que
passará -além dos citados,
Guatemala está no roteiro. A
primeira diz respeito à ajuda financeira, que, segundo proposta apresentada recentemente
por Condoleezza Rice ao Congresso, deve cair no ano fiscal
de 2008. A segunda, ao descaso
pelo continente, que só teria
entrado no radar da Casa Branca com a ascensão de Chávez.
Sobre a primeira, o responsável do Departamento de Estado
pela América Latina diz que a
ajuda financeira "dobrou desde
2002". Thomas Shannon afirma ter pesquisado a partir de
1982 e concluiu que "esse governo está gastando mais do
que qualquer governo gastou
em décadas" no continente.
Quanto ao suposto descaso, o
diplomata diz que a viagem é a
11ª de Bush ao continente. "É
mais do que todos os seus antecessores", disse Shannon. Essa
soma é contestada pelo congressista de oposição Donald
Payne, de Nova Jersey, que disse que oito das onze viagens foram para o México e o Canadá.
A própria natureza da viagem
é contestada. É apontada pela
chancelaria como mais uma
prova da preocupação de Bush
com a região. Mas foi organizada, na verdade, segundo disse à
Folha o brasilianista Peter Hakim, para pagar duas dívidas:
visitas de cortesia ao conservador Felipe Calderón, aliado que
ainda não foi visto por Bush no
México desde sua eleição, e a
Tabaré Vázquez, como retribuição à deste a Washington.
Brasil, Colômbia e Guatemala
teriam entrado no roteiro depois, mas não por acaso.
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