São Paulo, segunda-feira, 05 de março de 2007

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Americano enfrentará "corrida de obstáculos"

Bush visita "países amigos" na América Latina, mas em todos esbarrará em polêmicas

Brasil pedirá a derrubada da tarifa de importação ao álcool; já o México discutirá a construção de barreira na fronteira sul dos EUA

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Mesmo com o extremo zelo tático com que o Departamento de Estado norte-americano definiu o roteiro de seu presidente pela América Latina, todo concentrado nos "países amigos", conforme definição de Nicholas Burns, o número 3 da chancelaria, George W. Bush deve esbarrar em alguns obstáculos no giro de sete dias.
O primeiro virá já no Brasil, por onde ele começa a viagem, na quinta-feira. Em São Paulo, Bush deve criar tensão com o governo Lula e o Itamaraty ao apontar reservadamente o que considera "ambigüidade" do Brasil em relação ao venezuelano Hugo Chávez. Ouvirá ainda do brasileiro o pedido de derrubada da tarifa de importação cobrada pelos EUA ao álcool combustível local, assunto considerado "fora da mesa de negociações" pelos EUA.
No Uruguai, a temperatura se elevará pelo choque das regras do Mercosul e o tratado de livre comércio que Washington quer aprovar com o governo de Tabaré Vázquez. Na Colômbia, o obstáculo será a redução de ajuda financeira antidrogas.
Por fim, no México, a questão espinhosa será a recente aprovação pelo Congresso norte-americano da construção de uma barreira na fronteira sul dos EUA para tentar diminuir a entrada de imigrantes ilegais e traficantes de drogas e a chamada "crise das tortilhas", que tem parte da culpa atribuída aos agricultores de milho do Meio-Oeste norte-americano pelo mercado mexicano.
"Bush pode usar o tipo de diplomacia que quiser, mas Lula, por exemplo, não vai tomar nenhuma posição contra Chávez, de quem é aliado", afirmou à Folha Mark Weisbrot, co-diretor do Center for Economic and Policy Research, entidade não-governamental liberal de Washington.

Dinheiro e atenção
O presidente deve encontrar ainda duas críticas semelhantes nos cinco países por que passará -além dos citados, Guatemala está no roteiro. A primeira diz respeito à ajuda financeira, que, segundo proposta apresentada recentemente por Condoleezza Rice ao Congresso, deve cair no ano fiscal de 2008. A segunda, ao descaso pelo continente, que só teria entrado no radar da Casa Branca com a ascensão de Chávez.
Sobre a primeira, o responsável do Departamento de Estado pela América Latina diz que a ajuda financeira "dobrou desde 2002". Thomas Shannon afirma ter pesquisado a partir de 1982 e concluiu que "esse governo está gastando mais do que qualquer governo gastou em décadas" no continente.
Quanto ao suposto descaso, o diplomata diz que a viagem é a 11ª de Bush ao continente. "É mais do que todos os seus antecessores", disse Shannon. Essa soma é contestada pelo congressista de oposição Donald Payne, de Nova Jersey, que disse que oito das onze viagens foram para o México e o Canadá.
A própria natureza da viagem é contestada. É apontada pela chancelaria como mais uma prova da preocupação de Bush com a região. Mas foi organizada, na verdade, segundo disse à Folha o brasilianista Peter Hakim, para pagar duas dívidas: visitas de cortesia ao conservador Felipe Calderón, aliado que ainda não foi visto por Bush no México desde sua eleição, e a Tabaré Vázquez, como retribuição à deste a Washington. Brasil, Colômbia e Guatemala teriam entrado no roteiro depois, mas não por acaso.


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