São Paulo, quarta-feira, 05 de abril de 2006

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Economista foi expulso depois de fazer denúncia

DA REDAÇÃO

O economista Paulo de Tarso Venceslau revelou publicamente as irregularidades na arrecadação de recursos para o PT em maio de 1997, ao acusar o partido de pressionar prefeitos petistas a assinar, sem licitação, contratos com a Cpem (Consultoria para Empresas e Municípios), que depois repassaria parte do dinheiro a campanhas do partido. Ele foi expulso do PT em março de 1998.
Ex-militante da ALN (Ação Libertadora Nacional) que participou do seqüestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, em 1969, Venceslau filiou-se ao PT, tendo assessorado o deputado estadual Anísio Batista. Em 1989, tornou-se secretário das Finanças do prefeito de Campinas, Jacó Bittar, mas saiu em 1990 por ser contrário à contratação da Cpem. A empresa fazia a revisão da cota que cada município deveria receber de ICMS e cobrava 20% sobre o aumento de arrecadação obtido com as correções dos erros das empresas.
Venceslau diz que a Cpem, criada em 1985, era dirigida de fato pelo empresário Roberto Teixeira, compadre de Lula, que por muito tempo morou numa casa cedida pelo amigo. Segundo ele, a Cpem era contratada sem licitação e fraudava a prefeitura para receber a mais: "O Jacó me levou até o Lula para que ele tentasse me convencer que a contratação da Cpem era legal". Ele diz que não aceitou e pediu demissão.
Em 1993, por recomendação de José Dirceu, Venceslau foi nomeado secretário da Fazenda da prefeita de São José dos Campos, Angela Guadagnin. O contrato com a Cpem, herdado da gestão anterior, é suspenso. Em outubro, Venceslau entrega um dossiê sobre irregularidades no contrato e é demitido.
Em 1995, Venceslau enviou uma carta à direção nacional do PT dizendo que Guadagnin não teria prosseguido a apuração das irregularidades que ele encontrou: "A prefeitura somente tomou providências administrativas para suspender o contrato com a empresa, mas não para identificar e punir os responsáveis". Guadagnin disse ter tomado as providências para corrigir as irregularidades e ressarcir a cidade do prejuízo.
Na época, o PT criou uma comissão para investigar o caso, que não chegou a nenhuma conclusão porque, segundo Dirceu, não encontrou fatos que justificassem as denúncias, já que o contrato tinha sido feito pela administração anterior e suspenso pela gestão petista.
Em 1997, Venceslau denunciou publicamente o partido. Munido de uma auditoria sobre o contrato da Cpem, ele acusou a direção do PT de ser conivente com um esquema de corrupção para financiar as atividades do PT. Segundo Venceslau, Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu e outros dirigentes conheciam o esquema: "O Paulo Okamotto me disse que a Caravana da Cidadania do Lula, em 1993, quase não saiu porque a Cpem não repassou o dinheiro prometido por causa dos problemas que eu criei para eles quando era secretário em São José", disse. Segundo ele, Lula e Dirceu foram informados das irregularidades cometidas pela Cpem e não tomaram providências.
Roberto Teixeira negou ser dono da Cpem, mas admitiu ter dado auxílio eventual à empresa, à qual seu irmão, Dirceu Teixeira, era ligado. Okamotto negou as acusações de que pressionava prefeituras a assinar contratos com a Cpem. Ouvida na época, a empresa disse que já tinha assessorado 300 prefeituras, das quais só seis tinham sido do PT. Em 1997, trabalhava para 40 (nenhuma do PT) porque o partido não cumpria os contratos firmados.
Em julho de 1997, o partido criou uma comissão de sindicância formada por Hélio Bicudo, José Eduardo Martins Cardozo e Paul Singer, que isentou Lula, mas reconheceu que contratos com a Cpem tinham irregularidades, que foram denunciadas e sanadas pelas próprias prefeituras. O relatório pediu que a comissão de ética analisasse a atuação de Venceslau e Teixeira. Em março de 1998, o PT expulsou Venceslau, mas inocentou Teixeira.


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