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Dilma nega dossiê e cogita até invasão de computador
Ministra usa reprodução publicada pela Folha para lançar suspeita de manipulação
"Esse processo tem uma
direção certa; é endereçada a mim", afirmou Dilma, que
chamou de "suposto dossiê"
o conjunto de planilhas
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apresentando-se como principal vítima da crise do dossiê, a
ministra Dilma Rousseff (Casa
Civil) levantou ontem a possibilidade de "invasão" dos computadores do Palácio do Planalto. Ao se manifestar sobre a reportagem da Folha com cópia
do dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso extraída diretamente da Casa Civil, Dilma insistiu na versão de que teria havido montagem das informações contidas no banco de dados organizado no órgão.
"Há a possibilidade de um
computador da Casa Civil, um
bem público, ter sido invadido", afirmou a ministra em
pronunciamento. Ironicamente, sugeriu que seria fácil rastrear a "invasão" da rede do
Planalto. "Parece a história do
agente secreto com crachá."
Em seguida, relatou que são
maiores as chances de alguém
de dentro da Casa Civil ter copiado os arquivos. "Não descartamos nenhuma hipótese."
Após ter cancelado sua agenda e passado parte do dia cuidando das providências para
rastrear a origem do vazamento de informações do Planalto
-sua maior preocupação-,
Dilma anunciou que cinco
computadores da Casa Civil
haviam tido o uso suspenso ontem para averiguações.
Na véspera, quando procurada a se manifestar previamente
sobre o conteúdo da reportagem publicada ontem, a Casa
Civil optou por não comentar
as informações.
"Eu acho que hoje, com a publicação deste material na Folha, rui por terra a versão de
que a Casa Civil fez um dossiê
para chantagear ou para incriminar", disse a ministra.
Ontem, Dilma reiterou a
mais recente versão apresentada pela Casa Civil para o dossiê.
Segundo ela, houve montagem
nas informações extraídas da
base de dados montada oficialmente para organizar processos de prestação de contas de
despesas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sua
mulher e ministros tucanos
com suprimento de fundos.
A cópia da planilha Excel a
que a Folha teve acesso registra o retrato do banco de dados
montada pela Casa Civil em 18
de fevereiro. Contém as informações -idênticas no formato,
na seqüência, até nos erros de
português- às do trecho de um
outro documento, com 13 páginas, que já havia sido noticiado
pela "Veja" e pela Folha.
As planilhas registram até o
horário em que a Casa Civil começou a lançar os dados colhidos no arquivo morto do Planalto, com as despesas de FHC:
15h28 de 11 de fevereiro. Naquela altura, o governo ainda
tentava evitar a instalação de
uma CPI no Congresso para investigar os gastos da equipe de
Lula com cartões corporativos.
Dilma se apegou ao fato de a
Folha ter retirado o horário em
que os arquivos foram extraídos da base de dados do Planalto, em 18 de fevereiro, para sustentar que teria havido montagem no material a que o jornal
teve acesso. A retirada foi feita
para proteger o anonimato da
fonte da informação (leia texto
na página A6).
A ministra afirmou ser "perfeitamente possível capturar o
arquivo, copiá-lo e modificá-lo.
"Numa planilha Excel, monta-se o que se quer", disse. Dilma
não esclareceu que esse tipo de
mudança no arquivo deixaria
registros nas propriedades do
programa Excel e que estes poderiam ser verificados por uma
perícia da Polícia Federal, que a
Casa Civil recusa.
Durante pouco mais de 40
minutos em que listou hipóteses, Dilma Rousseff apontou
apenas uma certeza - a de que
se considera a principal vítima
da crise do dossiê, iniciada 14
dias atrás. "O que eu queria
afirmar é o seguinte: a pessoa
que está sendo prejudicada por
esse processo e a instituição
que está sendo prejudicada é o
governo e a Casa Civil e, especificamente, eu acho é que tem
uma direção certa, endereçada
a mim. Há uma tentativa muito
clara em atribuir à Casa Civil a
responsabilidade pelo quê? Por
um suposto dossiê", afirmou a
ministra, que é cotada como
candidata à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O fato de apontar a si mesma
como maior prejudicada pelo
caso é um dos argumentos de
Dilma para negar que o dossiê
montado no Planalto tivesse
como objetivo constranger a
oposição na CPI dos Cartões.
Outro argumento renovado ontem é que a base de dados não
conteria nenhum dado desabonador contra o governo tucano.
A ministra não explicou o
viés político tanto da organização de dados do dossiê sobre
despesas de FHC nas planilhas
da Casa Civil como de anotações contidas nos documentos.
A ministra chegou a dizer
que as planilhas só continham
gastos com "três coisas": alimentação, transporte e hospedagem. E não soube explicar as
menções a detalhes de bebidas
alcoólicas, à compra de balinhas (inclusive com licor) ou de
uma touca de natação ou ainda
de itens de consumo de luxo,
como estragão francês.
Dilma afirmou que a base de
dados a que a Folha teve acesso
com as informações lançadas
até 18 de fevereiro deixou de
ser abastecida em 27 de fevereiro. A partir dali, os dados teriam sido lançados diretamente no sistema oficial de controle de suprimento de fundos, o
Suprim. Ela alegou diferenças
entre as prestações de contas
de suprimentos de fundos anteriores ao uso do cartão corporativo do governo como motivo para a montagem de uma base de dados paralela, cujas
informações não serão encaminhadas à CPI dos Cartões.
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