São Paulo, sábado, 05 de abril de 2008

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Dilma nega dossiê e cogita até invasão de computador

Ministra usa reprodução publicada pela Folha para lançar suspeita de manipulação

"Esse processo tem uma direção certa; é endereçada a mim", afirmou Dilma, que chamou de "suposto dossiê" o conjunto de planilhas

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apresentando-se como principal vítima da crise do dossiê, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) levantou ontem a possibilidade de "invasão" dos computadores do Palácio do Planalto. Ao se manifestar sobre a reportagem da Folha com cópia do dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso extraída diretamente da Casa Civil, Dilma insistiu na versão de que teria havido montagem das informações contidas no banco de dados organizado no órgão.
"Há a possibilidade de um computador da Casa Civil, um bem público, ter sido invadido", afirmou a ministra em pronunciamento. Ironicamente, sugeriu que seria fácil rastrear a "invasão" da rede do Planalto. "Parece a história do agente secreto com crachá."
Em seguida, relatou que são maiores as chances de alguém de dentro da Casa Civil ter copiado os arquivos. "Não descartamos nenhuma hipótese."
Após ter cancelado sua agenda e passado parte do dia cuidando das providências para rastrear a origem do vazamento de informações do Planalto -sua maior preocupação-, Dilma anunciou que cinco computadores da Casa Civil haviam tido o uso suspenso ontem para averiguações.
Na véspera, quando procurada a se manifestar previamente sobre o conteúdo da reportagem publicada ontem, a Casa Civil optou por não comentar as informações.
"Eu acho que hoje, com a publicação deste material na Folha, rui por terra a versão de que a Casa Civil fez um dossiê para chantagear ou para incriminar", disse a ministra.
Ontem, Dilma reiterou a mais recente versão apresentada pela Casa Civil para o dossiê. Segundo ela, houve montagem nas informações extraídas da base de dados montada oficialmente para organizar processos de prestação de contas de despesas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sua mulher e ministros tucanos com suprimento de fundos.
A cópia da planilha Excel a que a Folha teve acesso registra o retrato do banco de dados montada pela Casa Civil em 18 de fevereiro. Contém as informações -idênticas no formato, na seqüência, até nos erros de português- às do trecho de um outro documento, com 13 páginas, que já havia sido noticiado pela "Veja" e pela Folha.
As planilhas registram até o horário em que a Casa Civil começou a lançar os dados colhidos no arquivo morto do Planalto, com as despesas de FHC: 15h28 de 11 de fevereiro. Naquela altura, o governo ainda tentava evitar a instalação de uma CPI no Congresso para investigar os gastos da equipe de Lula com cartões corporativos.
Dilma se apegou ao fato de a Folha ter retirado o horário em que os arquivos foram extraídos da base de dados do Planalto, em 18 de fevereiro, para sustentar que teria havido montagem no material a que o jornal teve acesso. A retirada foi feita para proteger o anonimato da fonte da informação (leia texto na página A6).
A ministra afirmou ser "perfeitamente possível capturar o arquivo, copiá-lo e modificá-lo. "Numa planilha Excel, monta-se o que se quer", disse. Dilma não esclareceu que esse tipo de mudança no arquivo deixaria registros nas propriedades do programa Excel e que estes poderiam ser verificados por uma perícia da Polícia Federal, que a Casa Civil recusa.
Durante pouco mais de 40 minutos em que listou hipóteses, Dilma Rousseff apontou apenas uma certeza - a de que se considera a principal vítima da crise do dossiê, iniciada 14 dias atrás. "O que eu queria afirmar é o seguinte: a pessoa que está sendo prejudicada por esse processo e a instituição que está sendo prejudicada é o governo e a Casa Civil e, especificamente, eu acho é que tem uma direção certa, endereçada a mim. Há uma tentativa muito clara em atribuir à Casa Civil a responsabilidade pelo quê? Por um suposto dossiê", afirmou a ministra, que é cotada como candidata à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O fato de apontar a si mesma como maior prejudicada pelo caso é um dos argumentos de Dilma para negar que o dossiê montado no Planalto tivesse como objetivo constranger a oposição na CPI dos Cartões. Outro argumento renovado ontem é que a base de dados não conteria nenhum dado desabonador contra o governo tucano.
A ministra não explicou o viés político tanto da organização de dados do dossiê sobre despesas de FHC nas planilhas da Casa Civil como de anotações contidas nos documentos.
A ministra chegou a dizer que as planilhas só continham gastos com "três coisas": alimentação, transporte e hospedagem. E não soube explicar as menções a detalhes de bebidas alcoólicas, à compra de balinhas (inclusive com licor) ou de uma touca de natação ou ainda de itens de consumo de luxo, como estragão francês.
Dilma afirmou que a base de dados a que a Folha teve acesso com as informações lançadas até 18 de fevereiro deixou de ser abastecida em 27 de fevereiro. A partir dali, os dados teriam sido lançados diretamente no sistema oficial de controle de suprimento de fundos, o Suprim. Ela alegou diferenças entre as prestações de contas de suprimentos de fundos anteriores ao uso do cartão corporativo do governo como motivo para a montagem de uma base de dados paralela, cujas informações não serão encaminhadas à CPI dos Cartões.


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