São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002

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SOMBRA NO TUCANATO

Ricardo Sérgio nega ter pedido comissão na venda da Vale

Tucanos afirmam que FHC sabia de suspeita de propina

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros e o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, confirmaram ontem à Folha o teor das declarações que deram à revista "Veja" deste fim de semana, segundo as quais uma suposta tentativa de cobrança de propina na privatização da Vale do Rio Doce, realizada em maio de 1997, chegou ao conhecimento do presidente Fernando Henrique Cardoso em 1998, sem que nenhuma atitude fosse tomada pelo governo para esclarecer o caso.
Os pivôs da história são os empresários Ricardo Sérgio de Oliveira, diretor do Banco do Brasil à época da privatização, e Benjamin Steinbruch, líder do consórcio comprador da Vale.
Segundo a reportagem, o ex-diretor do Banco do Brasil, responsável no passado pela arrecadação de fundos de campanha do atual presidenciável tucano José Serra, teria cobrado R$ 15 milhões -ou US$ 15 milhões, conforme a versão- para organizar o consórcio vencedor da privatização da Vale.
De acordo com a revista, a informação teria partido de Steinbruch, que denunciou a suposta tentativa de achaque a Mendonça de Barros e a Paulo Renato, conforme admitem ambos.
Procurado ontem pela Folha, Steinbruch não confirmou mas também não negou a história. "Não posso dizer nada agora."
Também procurado pela Folha, Ricardo Sérgio negou as informações, por meio de assessores, e não quis se pronunciar sobre o caso. À "Veja", Ricardo Sérgio disse: "É mentira grosseira e leviana".
A cobrança, que não teria sido paga, teria ocorrido pelo trabalho desenvolvido pelo ex-diretor do BB na organização dos fundos de pensão estatais em torno do consórcio vencedor, o que garantiu maior concorrência ao leilão e fez com que o preço de venda da Vale chegasse a R$ 3,3 bilhões.
Em entrevista à ""Veja", Mendonça de Barros diz que, avisado sobre o caso, relatou o episódio a FHC. ""Informei quem deveria informar: o presidente Fernando Henrique." ""O presidente falou: "Eu não sei nada disso e acho que você fez muito bem em não se envolver nesse assunto."'
Segundo a "Veja", assessores da Presidência afirmaram que FHC disse não se lembrar de ter tido esse diálogo com Mendonça de Barros. Ontem, até o fechamento desta edição, o Planalto não havia se pronunciado sobre o episódio.
Mendonça de Barros afirma também não ter se envolvido no caso por ele não estar relacionado à sua área de atuação.
Já a assessoria do ministro da Educação disse que ele não tomou providências sobre o assunto porque não houve crime, já que o dinheiro, segundo Steinbruch, não teria sido pago.
A Paulo Renato, o empresário disse que a suposta propina teria sido pedida ""em nome de tucanos". ""[Ele" Nem disse, tampouco eu perguntei [quais tucanos"", disse Paulo Renato à revista.
O ministro afirmou que, de acordo com Steinbruch, ao ouvir que Ricardo Sérgio estaria agindo em nome de integrantes do PSDB, o empresário preferiu checar a informação com o presidente.
""Por meio de um emissário, [Steinbruch" me disse ter feito contato com Fernando Henrique. Como resposta, ainda segundo suas palavras, escutou que o governo não tinha nada a ver com aquilo e que ele não deveria pagar", disse Paulo Renato.
Steinbruch procurou Mendonça de Barros depois de ter discutido o caso com a diretoria da empresa, conforme a Folha apurou.
Os diretores da empresa teriam impedido que o caixa da Vale fosse usado para o pagamento da comissão a Ricardo Sérgio. A informação foi confirmada à Folha por duas pessoas próximas a Steinbruch na época da privatização.
Segundo essas pessoas, o empresário estaria sendo pressionado a pagar a comissão que teria sido acertada na formação do chamado consórcio Brasil, integrado pela Vicunha, de Steinbruch, com apoio dos fundos de pensão Previ, do Banco do Brasil, e Petros, da Petrobras, além do Bradesco.
No período que antecedeu a privatização, foram formados dois consórcios para a compra da Vale. Um era composto por Votorantim e Anglo American. O outro foi formado mais tarde por Steinbruch, que conseguiu o apoio do Bradesco após o banco ter saído do outro consórcio.
Os dois consórcios disputavam o apoio dos fundos de pensão, principalmente a Previ. Na ocasião, Ricardo Sérgio tinha grande influência sobre a Previ. O fundo era comandado por Jair Bilac, na época presidente do fundo, e João Bosco, então diretor de investimentos. Bosco era considerado braço direito de Ricardo Sérgio na Previ e responsável por indicações sobre onde o fundo deveria investir. Os dois haviam trabalhado juntos no Banco do Brasil.


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