São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002

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JANIO DE FREITAS

O ataque

A reação brasileira ao ataque de um grupo de bancos estrangeiros, limitada a algumas palavras aveludadas de Fernando Henrique Cardoso e Pedro Malan, mostra bem o que aqueles bancos não sabem quando declaram o Brasil sob riscos graves porque Luiz Inácio Lula da Silva lidera e sobe mais nas pesquisas.
A prevalecer o quadro de candidatos que aí está, não dependeria da eleição de Lula a resposta apropriada aos especialistas em especulação internacional reunidos no Morgan Stanley, Merrill Lynch, ABN Amro e Santander. José Serra, Ciro Gomes, Enéas e Anthony Garotinho exibem a qualidade comum de não ter vínculos com a burocracia financeira internacional, como Pedro Malan e Armínio Fraga, nem prepararem apoios externos para suas ambições internacionais pós-mandato, como Fernando Henrique.
Alegação de que inexistem meios práticos de defesa dos interesses brasileiros não se sustenta. Não há elemento técnico nenhum para fundamentar a conclusão de que o programa de Lula implica riscos e ameaças, quanto mais para a recomendação pública de que os investidores internacionais sustem as aplicações em papéis brasileiros - início característico dos chamados ataques especulativos.
A autoridade analítica daquelas quatro entidades da especulação internacional ficou definitivamente demonstrada no caso argentino, quando nenhum deles foi capaz de resguardar à altura os interesses dos clientes e nem os seus próprios, por incapazes de perceber que o país estava contra a parede desde muito tempo. Dos quatro, pelo menos os dois americanos levaram sua clientela a prejuízos imensos, ao recomendarem investimentos na gigante Enron até o momento da recente explosão falimentar dessa empresa.
A evidência de propósitos inaceitáveis dos quatro bancos reforça-se com a recomendação exatamente oposta à sua, por parte de pelo menos três outros, o JP Morgan, o Dresdner e o Barclay's. As análises e as conclusão não precisariam ser idênticas em todo o sistema bancário, mas as implicações da recomendação negativa são pesadas demais para que se dispensem cobranças, explicações e as medidas judiciais cabíveis (Petrobras, Eletrobrás e outras já precisaram suspender operações financeiras importantes).
Se algum jornalista recomendar a seus leitores que não façam aplicações, por exemplo, no Merryll Lynch, ou Stanley Morgan, ou ABN Amro e ou Santander, com o argumento de que seus erros de orientação a investidores ou depositantes os fazem inconfiáveis, por certo esse jornalista passará pela rebordosa previsível e por outras que o leitor nem costuma imaginar. E, no entanto, não terá feito em que relação a uma entidade de negócios privados, com uns poucos milhares de acionistas, o que esses especialistas em especulação fazem contra um país de 170 milhões de pessoas.
Mas, em relação ao Brasil, é forçoso reconhecer que fazem porque podem fazê-lo, autorizados pela certeza de que conhecem o governo brasileiro.

Problema
O pior PMDB insiste em que o vice na chapa de José Serra seja Henrique Alves, do Rio Grande do Norte. A insistência se deve a fortes afinidades, não com o programa do candidato à Presidência, mas com o programa que aqueles peemedebistas fazem para si, se eleito o apoiado pelo PMDB.
A recusa de Serra, até agora, a aceitar a indicação, até lembrando outros nomes, já deveria ter levado Henrique Alves a retirar seu nome, por pudor. Bem, se tal razão não for própria para o personagem, ao menos o seria a contribuição de não tornar mais difícil a eleição do candidato adotado, em princípio, pelo PMDB.
Além de não carrear votos nordestinos, a não ser no seu pequeno estado, Henrique Alves vai sujeitar Serra à acusação de fortalecer uma das mais reprováveis oligarquias do Nordeste. E ainda há o estímulo que, na opinião de muitos, sua inclusão na chapa dará ao chamado jornalismo investigativo.

Antecedentes
É melhor anotar que a inflação já vinha subindo, o desemprego já havia chegado à monstruosidade de 20%, as vendas e a produção de automóveis estão em queda desde início do ano, os juros já vinham no seu propósito de sufocar a vida econômica - e nada disso teve ou tem a ver com eleição, antecedendo a disputa.


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