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PREVIDÊNCIA
Déficit do regime do setor privado cresceu 4.150% entre 95 e 2002
Reforma do governo ignora rombo de R$ 17 bi do INSS
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A proposta do governo Lula para a reforma da Previdência altera
as regras do setor público, mas
praticamente ignora o INSS (Instituto Nacional de Seguro Social),
que é o regime para os funcionários da iniciativa privada.
Apesar de ter fechado o ano passado com um rombo menor que o
do setor público -R$ 17 bilhões
contra R$ 53,8 bilhões-, o INSS
teve um crescimento do déficit de
4.150%, entre 95 e 2002, em termos nominais (sem contar a inflação). O número é bem maior
que o aumento de 180% do déficit
do regime dos servidores. Para especialistas, a necessidade de financiamento do INSS, cujo déficit
em 95 era de cerca de R$ 400 milhões, é hoje um dos principais
problemas da Previdência.
"As pessoas olham para o caixa
e vêem que o déficit do INSS é menor que o do funcionalismo. Mas
a tendência dos últimos anos
mostra que o déficit público está
estabilizando, enquanto o do
INSS está mostrando um crescimento explosivo", disse Hélio
Zylbersztajn, da Faculdade de
Economia e Administração da
USP (Universidade de São Paulo).
Atualizado pelo IGP-M (Índice
Geral de Preços - Mercado), o déficit de 95 corresponderia hoje a
R$ 873,9 milhões. Pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), o rombo atualizado seria de R$ 668,79 milhões.
Para este ano, o déficit projetado do INSS pela Previdência chega a R$ 23,8 bilhões, contra R$
56,3 bilhões do setor público.
O regime geral atende a cerca de
19 milhões de pessoas, enquanto
aproximadamente 3 milhões de
inativos e pensionistas estão no
regime próprio dos servidores.
O desequilíbrio nas contas do
INSS está ligado ao aumento do
pagamento de benefícios, pois
mais pessoas vão ingressando no
sistema, sem a contrapartida em
contribuições, dificultada principalmente pelo aumento do desemprego e da informalidade.
Segundo Fábio Giambiagi, especialista em finanças públicas, a
despesa com aposentados e pensionistas do INSS era 2,5% do PIB
em 88, 5% no início do real (94),
6,7% do PIB atualmente e deve
chegar a 6,9% no ano que vem.
Tendo em vista as dificuldades
de obter um consenso nas alterações da Previdência, o governo
mexeu inicialmente nas regras de
um único setor, no caso o público.
A proposta do governo enviada
ao Congresso estabelece só o aumento do teto do INSS de R$ 1.561
para R$ 2.400, valor que servirá de
teto para os novos servidores.
"Nós estamos hoje numa situação em que os servidores têm regras privilegiadas em relação aos
do INSS. Se a reforma for aprovada, vamos ficar na situação oposta", disse Giambiagi, ao citar o aumento da idade mínima para aposentadoria dos servidores. A idade mínima das mulheres passaria
de 48 para 55, e de 53 para 60, no
caso dos homens.
Na proposta do governo enviada ao Congresso, o aumento do
teto é a única medida que altera o
INSS. "Acho que em algum momento esse debate terá de iniciar.
Mas, por outro lado, se eu estivesse no governo faria exatamente isso porque a história recente mostra que não dá para disputar todas
as batalhas ao mesmo tempo."
O aumento do teto, para especialistas em Previdência, deve ter
um impacto negativo nas contas
do INSS. A medida traz um reforço de caixa pequeno a curto prazo
e complicações a longo prazo, já
que o sistema terá de começar a
pagar pelas aposentadorias maiores que serão concedidas.
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