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São Paulo, segunda-feira, 05 de maio de 2003

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QUESTÃO AGRÁRIA

Proprietários anunciam "operação tolerância zero" no campo e ameaçam interromper entrega de alimentos

Ruralistas usam "espiões" para evitar invasão

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

Dizendo-se cansados da "conivência" do Planalto com as ações dos sem-terra em todo o país, os ruralistas decidiram adotar uma espécie de "operação tolerância zero" no campo, que vai desde o uso de informantes para atuar dentro dos movimentos camponeses até, como forma de represália ao governo federal, a ameaça de interromper a distribuição de alimentos.
"O que a gente ouve dos proprietários é que ninguém aguenta mais, não tem mais condição. Estão partindo realmente para uma tolerância zero. Está todo mundo saturado até o pescoço com tudo isso que está acontecendo. Ninguém coibe as invasões", declarou o presidente nacional da UDR (União Democrática Ruralista), Luiz Antonio Nabhan Garcia.
Presidente do recém-criado PCR (Primeiro Comando Rural), no centro-oeste do Paraná, Umberto Mano Sá disse que a "animosidade" entre fazendeiros e sem-terra só tem aumentado e "a violência pode explodir a qualquer momento".
Questionado sobre a ameaça ruralista, o presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Marcelo Resende, disse: "Em relação aos conflitos agrários, o governo criou, por resolução, a Comissão Especial de Combate à Violência no Campo. O Incra será o responsável pela parte administrativa da reforma agrária."
Já o ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho, presidente da comissão citada por Resende, disse que a tensão no campo será contida com "diálogo".
O objetivo dos fazendeiros é demonstrar publicamente sua indignação com a posição do governo Luiz Inácio Lula da Silva na questão fundiária. Caso as invasões a propriedades continuem impunes, eles prometem convencer a classe a pagar em juízo todos os seus impostos (referentes às áreas e às produções), além de oficiar governos estaduais, promotores públicos, procuradores da República e delegados da PF.
Os proprietários rurais também estão desenvolvendo formas para monitorar as andanças dos sem-terra, principalmente o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura).

Informantes
Marcos Prochet, presidente da UDR no Paraná, disse que mantém informantes nos acampamentos e assentamentos do MST para tentar não ser surpreendido com as invasões.
A preocupação dele é a ameaça de invasão da área de 40 mil hectares da madeireira Araupel, no centro-sul do Estado. "A Araupel é responsável pela vida econômica de quatro municípios da região. Se acontecer a invasão, o grupo pode abandonar o Paraná, com consequências nefastas para a economia da região."
Segundo o presidente do Sinapro (Sindicato Nacional dos Produtores Rurais), Narciso Rocha Clara, os acampamentos dos sem-terra estão sendo "vigiados" 24 horas por dia tanto por via terrestre como por via aérea, por meio de aviões de pequeno porte.
Rocha Clara, do Sinapro propõe atitudes mais radicais. "São cerca de 6,5 milhões de produtores rurais em todo o país. Se o governo continuar fazendo vistas grossas às invasões, eu vou convocá-los para fazer uma paralisação da entrega de alimentos."



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