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Pagamento para deficientes e idosos supera o Bolsa Família
Programa do governo federal desembolsou R$ 13,8 bilhões em 2008, quase 0,5% do PIB
Ritmo de crescimento dos desembolsos é superior ao do aumento da população idosa do país; TCU avalia que programa é bem focalizado
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Enquanto o Bolsa Família
prioriza as atenções da sociedade, um outro programa de
transferência de renda, o BPC
(Benefício de Prestação Continuada), cresce aceleradamente
e seus gastos já representam
0,48% do PIB em 2008. Em
2001, representavam 0,21%.
O benefício consiste no pagamento de um salário mínimo a
idosos e deficientes com renda
per capita familiar inferior a
um quarto de salário mínimo.
Em 2008, o governo gastou
com o programa R$ 13,8 bilhões -mais do que os R$ 10,6
bilhões do Bolsa Família- para
atender 1,5 milhão de deficientes e 1,4 milhão de idosos.
O maior crescimento do programa tem acontecido pelo aumento de idosos beneficiados
-de 469 mil em 2001 para 1,4
milhão em 2008-, um crescimento bastante superior ao da
população idosa, que aumentou 30% de 2001 até 2007.
Para a economista Sonia Rocha, que analisou esses dados e
publicou um estudo comparando o BPC ao Bolsa Família, o
crescimento na concessão dos
benefícios em um ritmo superior ao demográfico sugere que
é preciso controlar melhor os
critérios de elegibilidade do
programa.
Uma auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União) reforça essa impressão. Apesar de
considerar que o programa é
bem focalizado -a maioria dos
beneficiados são pessoas realmente pobres, o que tem impacto significativo na redução
da pobreza dessas famílias-, o
TCU estima que ao menos 10%
receberam irregularmente o
benefício (leia texto abaixo).
Um cruzamento no cadastro
do BPC com o de proprietários
de automóveis, por exemplo,
identificou que 104 mil eram
donos de carros.
Há também 14 mil com imóveis rurais, 1.400 sócios de empresas e 7,7 mil deficientes com
emprego formal (o programa é
pago apenas a deficientes incapacitados para o trabalho).
Revisões
O tribunal sugere ao Ministério do Desenvolvimento Social
-gestor do programa- que
aperfeiçoe os mecanismos de
identificação de erros e fraudes
e que faça mais revisões.
Até 2007, segundo o relatório
do TCU, 5,7 milhões de revisões deveriam ter sido feitas,
mas apenas 1,8 milhão de benefícios foram selecionados para
serem revistos.
Além do aperfeiçoamento
dos mecanismos de controle do
benefício, a economista Sonia
Rocha chama a atenção para
outro detalhe: por se tratar de
um benefício constitucional, o
governo tem pouca margem de
manobra para controlar os gastos, diferentemente do que faz,
por exemplo, com o Bolsa Família, cujo valor do benefício
pode ser aumentado ou diminuído com mais facilidade.
No caso do BPC, no entanto,
a cada aumento do salário mínimo, crescem os gastos com o
programa.
Além disso, a economista
lembra que, em muitos casos, o
benefício é concedido por via
judicial, e não por requisição
direta da pessoa ao INSS.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, 1 milhão
de beneficiários foram incluídos no programa nos últimos
três anos. Desses, 87 mil (aproximadamente 9% do total) ganharam o benefício por determinação da Justiça.
Especificamente no ano passado, 15% dos deficientes que
entraram no programa o fizeram pela via judicial. Entre idosos, o percentual é menor: 3%
receberam o BPC após recorrer
ao Judiciário. Analisando ano a
ano, o aumento nas concessões
judiciais foi de 24.189 em 2006
para 32.197 em 2008.
De acordo com o ministério,
contribuem para esse aumento
a vigência de liminares em
ações civis públicas, a ampliação de unidades da Justiça Federal nos Estados e iniciativas
do Judiciário de percorrer o interior em procedimentos como
o da Justiça itinerante.
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