São Paulo, segunda-feira, 05 de junho de 2000


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RS terá banco de dados próprio sobre operação

DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O governo do Rio Grande do Sul direcionou o trabalho dos técnicos do Arquivo Público do Estado para montar um banco de dados próprio sobre a Operação Condor.
O objetivo é se adiantar ao governo federal e abrir para o público todos os documentos existentes. A expectativa é que, até o final deste semestre, todo o material recolhido e sistematizado.
Como o Rio Grande do Sul tem fronteira com Uruguai e Argentina e está próximo do Paraguai e do Chile, a idéia é que as buscas de estrangeiros, necessariamente, passavam pela polícia local.
""É um compromisso nosso. Somos um governo de esquerda, que tem interesse em elucidar tudo o que se refere à repressão", disse a diretora do Arquivo Público, Isabel Almeida. O governo do Rio Grande do Sul é administrado por Olívio Dutra (PT).

"Competências"
Desde janeiro, 14 pessoas -incluindo dois historiadores, sete arquivistas, além de restauradores, biólogos, técnicos em informática e estagiários- pesquisam os dados e os separam por ""competências".
As três ""competências" são o controle de armas, o controle de crimes contra a economia popular e a coleta e busca de informações.
É sobre essa terceira que os técnicos estão voltando suas atenções. Nela, eles estão criando uma ""subcompetência" específica para ""controle de estrangeiros".
Do trabalho feito até agora, já surgiram novidades. Por exemplo, foi encontrado o documento pelo qual o Dops (Departamento de Ordem Política e Social), no dia 27 de junho de 1977, pedia ao Sops (Serviço de Ordem Política e Social) de Lagoa Vermelha (315 km de Porto Alegre), por meio do ""Pedido de Busca 166/77", para capturar ""Adolfo Perez Esquivel, subversivo argentino de alta periculosidade" que ""pretende vir para o Brasil". Em 1980, Esquivel receberia o Prêmio Nobel da Paz.
Outra descoberta feita pelos historiadores se refere aos próprios Sops, que são departamentos semelhantes ao Dops existentes em cada delegacia regional.
Dos 24 Sops existentes no Estado, 9 já foram localizados e rastreados. O Arquivo Público pretende buscar novas informações nos outros 15.
Além do pedido de ""localização de pessoas", há vários pedidos para a polícia gaúcha ""impedir o reingresso" de pessoas no país.

Críticas
Parentes de argentinos desaparecidos no país durante o regime militar têm feito críticas ao governo brasileiro em razão do que definem como ""má vontade" para apurar os casos.
Claudia Allegrini, mulher do desaparecido argentino Lorenzo Ismael Viñas (visto pela última vez na cidade gaúcha de Uruguaiana, em 26 de junho de 1980), se disse "inconsolável" com a posição do Brasil, que afirma não existir provas da participação brasileira na Operação Condor. ""Queremos que os arquivos sejam abertos", disse. (LG)


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