|
Texto Anterior | Índice
Situação do país
lembra o Brasil
na crise de 98
DE BUENOS AIRES
A situação econômica atual
da Argentina lembra muito a
do Brasil no final de 1998. Com
uma moeda atrelada ao dólar,
possui um déficit público elevado e tenta reduzi-lo por meio
de uma diminuição nos gastos
públicos.
Caso reduza o déficit, diminuirá a taxa de risco do país,
elevando o crédito externo e
conseguindo, consequentemente, capital para o financiamento do país.
Porém, se o déficit permanecer elevado, a crise tenderá a se
acentuar. Foi o que aconteceu
no Brasil. O país lançou o "Pacote 51" para cortar os gastos
no final de 1997, que acabou
não obtendo os resultados esperados. Em janeiro de 1999, os
capitais começaram a deixar o
país, provocando tensão entre
os investidores, o que culminou na desvalorização do real.
Caso o mesmo ocorra na Argentina, que na semana passada anunciou um ajuste fiscal de
US$ 938 milhões, a tendência
também é que aumente a desconfiança dos investidores.
Primeiro porque seria a terceira medida do governo do
presidente Fernando de la Rúa,
que assumiu em dezembro, a
não obter os resultados esperados. O corte nos gastos e a elevação dos impostos, anunciados no início do ano, não funcionaram.
Como o governo estava no
início, havia um crédito político e uma elevada parcela da dívida foi creditada à gestão anterior, de Carlos Menem.
Agora, no entanto, não haveria muita saída e a consequência de um novo fracasso poderia ser o fim da conversibilidade, que mantém 1 peso valendo
US$ 1.
A desvalorização, a princípio,
é uma opção descartada na Argentina, pois o plano de estabilização no país não é exatamente igual ao do Brasil.
No Brasil, sempre houve uma
desvalorização controlada do
real, por meio das bandas cambiais. Na Argentina, o câmbio é
fixo e há liberdade para as pessoas utilizarem o dólar em
transações e realizarem depósitos em dólar.
Em consequência, tanto o setor público como o privado se
endividaram em moeda norte-americana, inclusive no exterior, e uma desvalorização provocaria uma quebra generalizada não apenas de empresas,
como também do governo e de
pessoas físicas.
Outro temor da desvalorização é a hiperinflação que atingiu o país no final dos anos 80.
Os preços subiam bem mais do
que no Brasil, onde a inflação já
era insustentável. Saques começaram a ocorrer em Buenos
Aires. O país vivia como se estivesse em uma situação de pós-guerra. A crise chegou ao ponte
do o então presidente, Raúl Alfonsín, deixar o poder seis meses antes do previsto para tentar gerar uma onda de otimismo com a posse de Carlos Menem. O caminho da Argentina,
portanto, no caso de a crise não
se resolver com o ajuste fiscal,
deve ser o da dolarização, que
eliminaria totalmente a possibilidade de uma especulação
contra o peso.
(GC)
Texto Anterior: Frases Índice
|