São Paulo, segunda-feira, 05 de junho de 2000


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Situação do país lembra o Brasil na crise de 98

DE BUENOS AIRES

A situação econômica atual da Argentina lembra muito a do Brasil no final de 1998. Com uma moeda atrelada ao dólar, possui um déficit público elevado e tenta reduzi-lo por meio de uma diminuição nos gastos públicos.
Caso reduza o déficit, diminuirá a taxa de risco do país, elevando o crédito externo e conseguindo, consequentemente, capital para o financiamento do país.
Porém, se o déficit permanecer elevado, a crise tenderá a se acentuar. Foi o que aconteceu no Brasil. O país lançou o "Pacote 51" para cortar os gastos no final de 1997, que acabou não obtendo os resultados esperados. Em janeiro de 1999, os capitais começaram a deixar o país, provocando tensão entre os investidores, o que culminou na desvalorização do real.
Caso o mesmo ocorra na Argentina, que na semana passada anunciou um ajuste fiscal de US$ 938 milhões, a tendência também é que aumente a desconfiança dos investidores.
Primeiro porque seria a terceira medida do governo do presidente Fernando de la Rúa, que assumiu em dezembro, a não obter os resultados esperados. O corte nos gastos e a elevação dos impostos, anunciados no início do ano, não funcionaram.
Como o governo estava no início, havia um crédito político e uma elevada parcela da dívida foi creditada à gestão anterior, de Carlos Menem.
Agora, no entanto, não haveria muita saída e a consequência de um novo fracasso poderia ser o fim da conversibilidade, que mantém 1 peso valendo US$ 1.
A desvalorização, a princípio, é uma opção descartada na Argentina, pois o plano de estabilização no país não é exatamente igual ao do Brasil.
No Brasil, sempre houve uma desvalorização controlada do real, por meio das bandas cambiais. Na Argentina, o câmbio é fixo e há liberdade para as pessoas utilizarem o dólar em transações e realizarem depósitos em dólar.
Em consequência, tanto o setor público como o privado se endividaram em moeda norte-americana, inclusive no exterior, e uma desvalorização provocaria uma quebra generalizada não apenas de empresas, como também do governo e de pessoas físicas.
Outro temor da desvalorização é a hiperinflação que atingiu o país no final dos anos 80. Os preços subiam bem mais do que no Brasil, onde a inflação já era insustentável. Saques começaram a ocorrer em Buenos Aires. O país vivia como se estivesse em uma situação de pós-guerra. A crise chegou ao ponte do o então presidente, Raúl Alfonsín, deixar o poder seis meses antes do previsto para tentar gerar uma onda de otimismo com a posse de Carlos Menem. O caminho da Argentina, portanto, no caso de a crise não se resolver com o ajuste fiscal, deve ser o da dolarização, que eliminaria totalmente a possibilidade de uma especulação contra o peso. (GC)


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