|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CORRUPÇÃO EM DEBATE
Anfitrião de fórum internacional, governo usará PF para mostrar que não rouba nem deixa roubar
Lula tenta dissociar governo de denúncias
JULIA DUAILIBI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Constrangido por ser anfitrião
de um evento internacional sobre
corrupção num momento em que
aparecem denúncias de desvios
de recursos públicos em órgãos
federais, o governo fará nesta semana um "esforço coletivo" para
afastar da gestão petista os indícios de irregularidades.
O palco para isso será o 4º Fórum Global de Combate à Corrupção, que ocorre entre os próximos dias 7 e 10, em Brasília. O encontro terá a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
dos ministros Márcio Thomaz
Bastos (Justiça) e Waldir Pires
(Controle e Transparência).
Tanto o presidente como os
dois ministros irão para o ataque.
Já foram produzidas apresentações e balanços sobre todas as
operações da Polícia Federal de
combate à corrupção e as auditorias realizadas pela Controladoria
Geral da União. A idéia é passar a
imagem de que o governo não
rouba nem deixar roubar.
"Acho que é essa a hora de ocorrer [o fórum]. Não creio que haja
onda de denúncias. Se abrirmos a
onda de denúncias, [veremos
que] são gigantescas anteriormente. O que há nesse momento é
uma posição muito ativa da oposição política, e do governo adotando todas as medidas de combate à corrupção", disse o ministro Waldir Pires sobre o fórum.
Sob o olhar crítico de especialistas sobre o tema do mundo interior, o presidente anunciará a assinatura de decreto que ratifica a
adesão do Brasil à convenção das
Nações Unidas contra a corrupção. O texto trata, entre outros
pontos, da repatriação de dinheiro de origem ilegal. Há a expectativa de que o presidente anuncie o
decreto que estende a sindicância
patrimonial (procedimento administrativo de caráter investigativo) a todas esferas do governo.
De acordo com Cláudia Chagas,
secretária nacional de Justiça, o
Brasil terá a oportunidade de expor o trabalho de combate à corrupção, como as "diversas operações" feitas pela Polícia Federal.
Participante do fórum, Mark
Davies, diretor-executivo do escritório que analisa os conflitos de
interesse em Nova York, diz que
as operações repressivas de combate à corrupção não são suficientes por si só. "Se um país tem muitos processos e investigações sobre corrupção, a população acreditará que esse país é muito corrupto. Se o país tem poucas investigações dessa natureza, as pessoas vão pensar que os casos de
corrupção são encobertos."
Para Axel Dreher, do Thurgau
Institute of Economics, uma das
formas de combate à corrupção
em países como o Brasil é a melhora na máquina pública com o
conseqüente aumento do salário
dos servidores que atuam na burocracia estatal. O pesquisador,
que também virá ao Brasil, defende recompensas para cada caso de
corrupção que seja levado a julgamento e suporte financeiro a testemunhas que relatem casos de
desvio de dinheiro público.
Dreher afirma que a corrupção
no Brasil ainda é um obstáculo ao
crescimento. Segundo seus estudos sobre o tema, o país perde,
por ano, 22% do seu PIB com esse
tipo de ato ilícito. Nos cálculos do
Banco Mundial, as perdas internacionais com a corrupção chegam a US$ 1 trilhão por ano.
No fórum, um dos pontos a serem explorados pelo governo será
o projeto que pretende disciplinar
o conflito de interesses. A proposta quer ampliar o período de impedimento, hoje em quatro meses, para que ex-ocupantes de cargos públicos possam atuar no setor privado na sua área de gestão.
Texto Anterior: Amazônia ilegal: PF já prendeu 93 Ibama em Brasília sabia do caso, diz procurador Próximo Texto: Corrupção atinge mais a pobres, diz membro da ONU Índice
|