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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/UM ANO DEPOIS
Mensaleiros mantêm poder na Câmara
O ex-deputado José Borba, que renunciou há sete meses, continua a despachar semanalmente na liderança do PMDB na Casa
45 ex-assessores dos sete congressistas que perderam o mandato foram alocados, sem concurso público, em outros gabinetes da Casa
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
José Borba, 56, o ex-líder do
PMDB que renunciou há sete
meses ao mandato de deputado
federal (PR) por suspeita de envolvimento com o mensalão,
continua a despachar semanalmente na Liderança do partido
na Câmara como se nada tivesse acontecido. Dois de seus três
filhos e outros seis ex-assessores de seu gabinete mantiveram o emprego no Legislativo
com salários de até R$ 7.500.
Para a maioria dos sete deputados federais que perderam o
mandato devido à crise (três foram cassados, e quatro renunciaram antes da abertura do
processo), a punição não significou o afastamento do Congresso ou da vida pública.
Cruzamento feito pela Folha
entre o nome dos funcionários
que trabalhavam nos sete gabinetes e a atual lista de pessoal
da Câmara mostra que 45 ex-assessores dos supostos mensaleiros foram alocados, sem
concurso público, em gabinetes de correligionários, de suplentes ou em órgãos da Câmara sob influência dos partidos.
Dos 19 deputados suspeitos
de envolvimento com o mensalão, 11 foram absolvidos pela
Câmara; só falta julgar José Janene (sem partido-PR).
"Estou acompanhando alguns projetos, tenho saldo das
emendas remanescentes. Vou
aos ministérios aonde estão os
projetos, já que tenho tido algumas liberações", explica-se
Borba. As "liberações" são relativas às emendas que cada parlamentar faz anualmente ao
Orçamento da União (em geral,
destinando recursos a obras
em seus redutos eleitorais).
Borba está em campanha para
se reeleger.
Dos 18 funcionários de seu
gabinete, 8 permaneceram na
Câmara após sua renúncia.
Quatro foram para a Liderança
do PMDB, incluindo seu filho
Fabio Rodrigues Borba. Outros
dois -entre eles, outro filho,
Marcelo Rodrigues Borba- foram para a Coordenação de Registro Funcional da Câmara,
órgão famoso por abrigar parentes de deputados.
Um foi para a equipe do correligionário Hermes Parcianello (PMDB-PR), e o último, para a da deputada Maninha
(PSOL-DF), que não mantém
relação política com Borba.
Nem todos os 45 assessores
escaparam da degola por influência. Tudo indica que há
funcionários que buscaram novo emprego por conta própria
e, pelo currículo, foram admitidos sem ajuda do ex-chefe.
Campeão
O "campeão" na tarefa de
emplacar ex-assessores foi
Carlos Rodrigues (sem partido-RJ), que renunciou para escapar da cassação. Sete ex-funcionários continuaram trabalhando para Reinaldo Gripp (PL-RJ), que assumiu a vaga. Todos,
porém, já foram exonerados.
Um deles, Lidio Couto Amorim, migrou para o gabinete de
Wanderval Santos (PL-SP),
acusado de envolvimento com
o mensalão que acabou absolvido. Vieira Reis (PRB-RJ) e Zelinda Novaes (PFL-BA) também abrigaram ex-funcionários de Rodrigues.
O ex-deputado é, talvez, o
que menos tenha chance de
volta imediata à política -preso, é acusado de envolvimento
no escândalo das ambulâncias.
Valdemar Costa Neto (SP),
ex-presidente do PL, que renunciou, está em campanha.
Após deixar a Câmara, abrigou
quatro assessores na Liderança
do PL. Três outros foram alocados em comissões da Casa.
Roberto Jefferson, autor da
denúncia sobre o mensalão e
um dos três cassados, teve oito
ex-assessores "reaproveitados": quatro no gabinete de
Fernando Gonçalves (PTB-RJ), que assumiu sua vaga, dois
na Liderança do PTB e dois na
2ª secretaria da Câmara, controlada por seu aliado Nilton
Capixaba (PTB-RO).
Já Pedro Corrêa (PE), que
continua na presidência do PP
mesmo após ter sido cassado,
em março, viu seis ex-assessores manterem seus empregos.
Os dois petistas que perderam o mandato tiveram sete assessores aproveitados. Os gabinetes de Socorro Gomes (PC do
B-PA), Maninha (PSOL-DF),
Sandro Mabel (PL-GO) e Professor Luizinho (P-SP) abrigaram ex-funcionários de Paulo
Rocha (PT-PA). Mariângela
Duarte (PT-SP) e Carlos Abicalil (PT-MT) têm ex-funcionários de José Dirceu (PT-SP).
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