São Paulo, segunda-feira, 05 de junho de 2006

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/UM ANO DEPOIS

Berzoini nega mensalão e critica imprensa

Para o presidente do PT, clima de escândalo de corrupção estabelecido no país interessa à oposição, e não à democracia

Partido sacrifica o debate ético para reeleger Lula; discussão antes das eleições seria autoflagelação, diz o ex-prefeito Marcelo Déda

Tuca Vieira - 03.fev.2006/Folha Imagem
Berzoini, que diz que imprensa patrocinou show de impunidade


MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na luta pela sobrevivência política, o PT passou a negar a existência do mensalão. Um ano depois do auge da crise política mais grave para a legenda e para o governo Lula, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, classifica o esquema denunciado pelo ex-deputado Roberto Jefferson de "engodo".
"Eu continuo dizendo que houve um engodo em relação ao que se convencionou chamar de mensalão. A história que o Roberto Jefferson construiu lá atrás foi a de um esquema para comprar consciências. Se houve mensalão, a imprensa patrocinou o maior show de impunidade do Congresso. Se fosse para comprar votos, teria que ser às centenas, e não às dezenas. E não existe nenhum movimento hoje da imprensa para cobrar o nome de quem seriam os mensaleiros", disse.
Segundo Berzoini, os supostos mensaleiros, por essa lógica, não seriam somente os 19 denunciados pelo Conselho de Ética. Ele diz que não haveria razão para o então presidente da Câmara João Paulo Cunha e o então líder do governo Professor Luizinho serem mensaleiros, pois o primeiro nunca vota e o segundo, pelo cargo, vota sempre com o governo.
Na retrospectiva da crise feita por Berzoini, o PT cometeu, sim, erros. Mas o petista coloca quase tudo na conta do equivocado sistema político brasileiro, na prática de financiamentos de campanhas eleitorais e na habilidade da oposição para tentar destruir o "patrimônio ético do PT".
"Tenho a convicção de que, a partir de um problema de financiamento de campanha, com ilegalidades eleitorais, se estabeleceu um clima de um escândalo de corrupção sem precedentes, que interessa à oposição, e não à democracia", avalia.
Mesmo que os petistas reconheçam, internamente, o tamanho da crise e suas conseqüências para a governabilidade e para as relações do partido com o governo num eventual segundo mandato de Lula, o PT só vai mesmo lavar a roupa suja em 2007. Se o fizer.
O ex-prefeito de Aracaju e candidato ao governo de Sergipe, Marcelo Déda, afirma que a realização do Congresso Nacional é "exigência da base partidária" para refletir, depois das eleições, sobre o novo papel do PT, a agenda política, um projeto nacional e, sobretudo, onde e por que falharam os "anticorpos" do PT contra a corrupção.

Exorcização
"No próximo ano, independente do resultado das eleições, o partido terá que ter um encontro com si próprio e fazer uma profunda reflexão para preservar os acertos e identificar os seus equívocos", defende Déda. Ao ir para o divã de forma definitiva, prega o ex-prefeito, o PT terá que "exorcizar fantasmas produzidos pela crise política", melhorar o diálogo com a sociedade, a militância e os movimentos sociais.
Marcelo Déda considera justo e adequado adiar o debate, em função das eleições. Fazer essa discussão agora, disse, seria "comportamento de autoflagelação, que é mais adequado para seitas que para partidos políticos". Já em 2007, o ex-prefeito defende que o PT descubra "o que falhou no sistema imunológico para que a crise acontecesse nessa proporção".
Segundo Berzoini, o PT mostrou-se frágil e desarticulado para enfrentar a avalanche de ataques da oposição. Ele afirma que a crise não significou a perda do patrimônio ético do PT.
"O PT não tem nenhum registro de deterioração do seu padrão ético como fenômeno partidário. Algumas pessoas cometeram atos ilegais ou condenáveis do ponto de vista político. Mas o partido não adotou nenhum padrão antiético."


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