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Antes de G8, Lula critica países ricos
Contra o protecionismo agrícola, presidente defende mercado mundial de álcool e pede mais comércio com a Índia
Brasileiro se lembra de sua viagem em pau-de-arara até São Paulo e brinca que só não foi até a Ásia a nado por causa de sua bursite
KENNEDY ALENCAR
ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLI
A dois dias do início da reunião anual do G8, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva criticou o protecionismo dos países
mais ricos, sobretudo o agrícola. Em discurso no Fórum de
Lideranças Empresariais Brasil-Índia, afirmou que os países
ricos parecem dizer aos mais
pobres: "Precisamos de liberdade comercial, mas só para os
nossos produtos".
Em rápida entrevista antes
de se dirigir a um banquete oferecido pelo presidente da Índia,
Abdul Kalam, Lula disse que
sua defesa da criação de um
mercado mundial de álcool não
é feita em causa própria. "O
Brasil não quer fornecer para
todo mundo. O Brasil quer incentivar formas de os países
pobres terem condições de
plantar [o que pode ser transformado em biocombustível]."
No encontro do G8, grupo
dos sete países mais ricos do
mundo mais a Rússia, entre
amanhã e sexta, na Alemanha,
Lula insistirá na tese de que o
álcool e o biodiesel podem contribuir para diminuir o aquecimento global e a miséria. Bastaria a derrubada de subsídios
agrícolas dos países mais ricos,
o que exigiria concessões das
nações do G8 na Rodada Doha.
O petista afirmou que o estabelecimento de "parceria estratégica" entre as nações em desenvolvimento é a "condição
única de criar um mundo comercial onde não haja hegemonia dos países que subsidiam a
sua agricultura em detrimento
dos países que têm milhões de
trabalhadores trabalhando na
agricultura para sobreviver".
Lula afirmou que o mundo
desenvolvido não pode ignorar
o Brasil e a Índia nas negociações da OMC (Organização
Mundial do Comércio). "As
grandes economias terão de
sentar conosco para negociar."
Segundo a Folha apurou, Lula está insatisfeito com o volume comercial entre Brasil e Índia. Acha pouco os US$ 2,5 bilhões de 2006. Por isso, fez discurso com bom humor, mas
com cobranças aos empresários brasileiros e indianos.
"Antes de 1500, os portugueses saíam de Portugal num barco pouco recomendável. Não
tinha avião, nem Boeing, nem
Airbus. Mas eles davam volta
no continente africano e vinham aqui na Índia fazer negócio. Por isso, quero lembrar aos
nossos queridos empreendedores que não existe distância
que possa diminuir o apetite
comercial de um empresário
ousado, de governos ousados."
Lula brincou com o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, que "viajou 19 horas [de
avião] e chegou cansado". Afirmou: "Eu viajei da minha terra
natal até São Paulo 13 dias num
pau-de-arara e não cheguei
cansado. (...) Só não venho a nado [do Brasil à Índia] porque
tenho problema de bursite".
Uma reunião de Lula e Gabrielli com o ministro do Petróleo e do Gás Natural da Índia, Murli Deora, mostrou as
dificuldades para a criação do
mercado mundial de álcool. A
Índia adiciona hoje 5% de álcool à gasolina em nove de seus
28 Estados e sete territórios.
Poderia elevar esse percentual para 10% nesses Estados
ou fixar 5% para todo o país.
Para isso, deseja garantia de
fornecimento. Gabrielli disse
que isso dependeria de garantia de demanda.
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