São Paulo, terça-feira, 05 de junho de 2007

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Antes de G8, Lula critica países ricos

Contra o protecionismo agrícola, presidente defende mercado mundial de álcool e pede mais comércio com a Índia

Brasileiro se lembra de sua viagem em pau-de-arara até São Paulo e brinca que só não foi até a Ásia a nado por causa de sua bursite


KENNEDY ALENCAR
ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLI

A dois dias do início da reunião anual do G8, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o protecionismo dos países mais ricos, sobretudo o agrícola. Em discurso no Fórum de Lideranças Empresariais Brasil-Índia, afirmou que os países ricos parecem dizer aos mais pobres: "Precisamos de liberdade comercial, mas só para os nossos produtos".
Em rápida entrevista antes de se dirigir a um banquete oferecido pelo presidente da Índia, Abdul Kalam, Lula disse que sua defesa da criação de um mercado mundial de álcool não é feita em causa própria. "O Brasil não quer fornecer para todo mundo. O Brasil quer incentivar formas de os países pobres terem condições de plantar [o que pode ser transformado em biocombustível]."
No encontro do G8, grupo dos sete países mais ricos do mundo mais a Rússia, entre amanhã e sexta, na Alemanha, Lula insistirá na tese de que o álcool e o biodiesel podem contribuir para diminuir o aquecimento global e a miséria. Bastaria a derrubada de subsídios agrícolas dos países mais ricos, o que exigiria concessões das nações do G8 na Rodada Doha.
O petista afirmou que o estabelecimento de "parceria estratégica" entre as nações em desenvolvimento é a "condição única de criar um mundo comercial onde não haja hegemonia dos países que subsidiam a sua agricultura em detrimento dos países que têm milhões de trabalhadores trabalhando na agricultura para sobreviver".
Lula afirmou que o mundo desenvolvido não pode ignorar o Brasil e a Índia nas negociações da OMC (Organização Mundial do Comércio). "As grandes economias terão de sentar conosco para negociar."
Segundo a Folha apurou, Lula está insatisfeito com o volume comercial entre Brasil e Índia. Acha pouco os US$ 2,5 bilhões de 2006. Por isso, fez discurso com bom humor, mas com cobranças aos empresários brasileiros e indianos.
"Antes de 1500, os portugueses saíam de Portugal num barco pouco recomendável. Não tinha avião, nem Boeing, nem Airbus. Mas eles davam volta no continente africano e vinham aqui na Índia fazer negócio. Por isso, quero lembrar aos nossos queridos empreendedores que não existe distância que possa diminuir o apetite comercial de um empresário ousado, de governos ousados."
Lula brincou com o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, que "viajou 19 horas [de avião] e chegou cansado". Afirmou: "Eu viajei da minha terra natal até São Paulo 13 dias num pau-de-arara e não cheguei cansado. (...) Só não venho a nado [do Brasil à Índia] porque tenho problema de bursite".
Uma reunião de Lula e Gabrielli com o ministro do Petróleo e do Gás Natural da Índia, Murli Deora, mostrou as dificuldades para a criação do mercado mundial de álcool. A Índia adiciona hoje 5% de álcool à gasolina em nove de seus 28 Estados e sete territórios.
Poderia elevar esse percentual para 10% nesses Estados ou fixar 5% para todo o país. Para isso, deseja garantia de fornecimento. Gabrielli disse que isso dependeria de garantia de demanda.


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